Para começar o ano inspirando quem está trabalhando pelo próprio negócio na área, conversamos com diferentes empreendimentos jornalísticos de sucesso no Brasil durante a pandemia. Neste último artigo da nossa série de quatro partes focamos no Núcleo. Leia o primeiro artigo sobre o jornal Plural de Curitiba, o segundo artigo sobre a Agência Tatu e o terceiro artigo sobre o Alma Preta.
O Núcleo é um veículo jornalístico fundado em janeiro de 2020, com a missão de produzir investigações a partir de dados públicos e trazer mais transparência ao governo, ao debate político e a políticas públicas, em diferentes esferas e localidades. A iniciativa é liderada pela agência Volt Data Lab.
O Núcleo é formado por Sérgio Spagnuolo (que também é bolsista Knight do ICFJ), responsável pelo dia a dia e processo editorial, pelo co-editor Alexandre Orrico, que pensa novos formatos e também coordena as matérias. Completam o time a gerente de comunidades Jade Drummond, o designer Rodolfo Almeida e os analistas de dados Lucas Gelape e Renata Hirota. O Núcleo também foi um dos selecionadas, em 2020, para o programa Startup Lab, do Google.
O que vocês esperam da participação no Startup Lab do Google?
Sérgio Spagnuolo: Vamos apostar nas tecnologias desenvolvidas pela empresa por trás do Núcleo, o Volt Data Lab, que vai transferir para o Núcleo a parte de automação de notícias. Esperamos que a parceria com o Startup Lab nos ajude a formatar um produto que possa ser plenamente implementado junto a nossos parceiros e que isso ajude a financiar nosso jornalismo.
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O Núcleo trabalha com dados e análises que podem ter impacto na sociedade. A gente não produz matérias para criar volume, e sim quando achamos que nosso conteúdo tem algum potencial de criar impacto. Nesse momento, estamos reavaliando nossas estratégias por conta do projeto de aceleração do Startup Lab do Google.
Quais conselhos e lições vocês dariam para quem deseja empreender no jornalismo?
É bastante difícil empreender, isso é fato. A dica que eu daria a quem quer empreender é que pense em produtos e serviços que vão além do conteúdo jornalístico; é assim que será possível manter o jornalismo de uma organização pequena. Um produto jornalístico pode ir além dos formatos tradicionais de conteúdo, como texto, vídeo e áudio. Estamos pensando em trabalhar com aplicações de exploração e descoberta de dados, assim como automação de newsletters.
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E quais são os próximos planos e expectativas para o futuro?
Queremos investir em novos formatos e fazer coisas que não estão sendo exploradas em outras redações. Ao mesmo tempo, queremos criar produtos que possam ser úteis para o jornalismo e para o terceiro setor, a fim de ajudar a sustentar o jornalismo e o impacto do Núcleo. Investir em novos formatos significa ir além do que já é tradicional, mas também criar novas ideias para implementar. Recentemente lançamos nossa seção de opinião "Ideias", que difere um pouco do formato tradicional de "opinião" no jornalismo. Novos formatos significam trazer áreas diferentes para o jornalismo.
Em sua visão, quais foram os motivos do crescimento do uso de dados no jornalismo brasileiro?
O uso de dados públicos no jornalismo aumentou consideravelmente, tanto em veículos tradicionais quanto em novas iniciativas. Isso reforça o valor de "investigações" escondidas nesses dados. O crescimento se deve, principalmente, à comunidade de jornalismo de dados, que ajudou a sedimentar uma cultura de se trabalhar com dados de uma forma mais sofisticada no jornalismo. O surgimento de novas tecnologias e o aumento na oferta de cursos também ajudou bastante.
Rafael Gloria é jornalista, mestre em comunicação, editor-fundador do coletivo de jornalismo cultural Nonada - Jornalismo Travessia e sócio da Agência Riobaldo.
Imagem: print do logo do Núcleo