Correio Sabiá: jornalismo para combater a desinformação

Oct 7, 2021 em Combate à desinformação
pic

Há muitas formas de combater a desinformação. Fazer a checagem de fatos e capacitar as pessoas para que elas saibam como verificar aquilo que leem são duas das maneiras mais populares. Espalhar notícias com credibilidade para expandir o alcance do jornalismo pode ser um terceiro caminho.

Eu criei a newsletter Correio Sabiá em outubro de 2018 com essa perspectiva: compartilhar matérias com credibilidade no WhatsApp, justamente a plataforma onde as pessoas frequentemente espalham informações falsas. Desse modo, eu tento preencher um ambiente conhecido pela disseminação ampla de desinformação e informação falsa com uma curadoria profissional de notícias.

Eu compartilho a newsletter focada em política nas manhãs de segunda a sexta em vários grupos de WhatsApp que criei. Ela apresenta uma curadoria de notícias de política e economia, uma breve explicação, links e emojis — tudo com a intenção de engajar os leitores de um jeito informal e bem-humorado.

[Leia mais: Um estudo sobre a verificação de fatos em diferentes regiões]

 

Eu lancei esse projeto em 2018 durante a eleição presidencial no Brasil, vencida por Jair Bolsonaro. A campanha dele foi marcada pela disseminação ampla de desinformação, especialmente no WhatsApp.

Se as pessoas estavam compartilhando informações falsas no aplicativo, eu pensei que elas poderiam fazer a mesma coisa com o jornalismo independente e de credibilidade. Isso se tornou uma estratégia-chave para aumentar minha audiência — toda edição do Correio Sabiá tem um link para entrar no grupo. Se alguém encaminha a newsletter, novos leitores vão poder se inscrever.

O efeito dessa abordagem boca a boca é claro. O Correio Sabiá tinha apenas um grupo de WhatsApp quando eu criei a newsletter. Esse número passou para quatro em poucos dias e agora são 3.300 leitores em 16 grupos que recebem suas notícias diárias no aplicativo.

Informações falsas são enviadas por pessoas em quem você confia

A desinformação é um desafio porque ela pode vir de alguém em quem você confia. Em muitos casos, essa pessoa é um amigo ou os seus pais — pessoas que fazem parte da sua vida e que não mentiriam intencionalmente para você. 

O mesmo pode ser verdade para o jornalismo. Quando você recebe uma matéria compartilhada por alguém que você conhece, pode ser mais fácil você ler e confiar.

Entre nossos 3.300 leitores diários pelo WhatsApp, a Correio Sabiá tem muitos consumidores de desinformação em potencial. No entanto, quando os leitores enviam a newsletter para outras pessoas, eles estão espalhando matérias baseadas em fatos em vez de viralizar informação falsa.

[Assine a newsletter da IJNet Português e saiba sobre novas oportunidades direto na sua caixa de email]

A importância de engajar sua audiência

As mensagens compartilhadas diariamente e no boca a boca não são úteis apenas na luta contra a desinformação — elas também engajam os leitores. Eu recebo frequentemente dicas e feedback de leitores porque eles se sentem parte da comunidade que criei no WhatsApp.

Eu respondo cuidadosamente todas as mensagens que recebo. Não há ninguém melhor do que os seus leitores para te dar feedback sobre como você pode melhorar o que criou. Afinal, tudo foi pensado para ser útil para eles.

As pessoas se sentem mais seguras apoiando o jornalismo que é acessível e escuta seus leitores. A newsletter tem no momento 42 apoiadores que pagam cerca de R$ 930 por mês no total.

Não é muito, mas a quantia cobre os custos mensais do Correio Sabiá e me ajuda a pagar o trabalho de freelancers, como designers e editores de vídeo. Também investi na melhoria do perfil do Correio Sabiá no Instagram. Neste ano, até agora, nossos seguidores mais que triplicaram.

Esse crescimento é importante para atrair mais leitores. E mais leitores podem resultar em mais receita, levando ao que eu espero que seja um crescimento sustentável.

Tudo isso me dá a esperança de poder lançar mais produtos — um podcast, por exemplo — no futuro, e contratar jornalistas para produzir conteúdo exclusivo para além da curadoria de notícias. Será que o WhatsApp foi apenas o ponto de partida para um veículo completo?


Foto por Dimitri Karastelev no Unsplash.