Como levar notícia aos jovens

Apr 4, 2024 em Engajamento da comunidade
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Os jovens consomem notícias de um jeito diferente das gerações mais velhas. Como cresceram com as redes sociais, eles tendem a recorrer plataformas como TikTok e Instagram para se informar.

"Eu acredito que um dos grupos populacionais fundamentais para a dinâmica do jornalismo é o dos jovens, no mundo todo", disse Hannah Ajakaiye, chefe do FactsMatterNG e ex-bolsista do programa ICFJ Knight, durante uma sessão do Encontro Global Empowering the Truth. "A experiência dos mais jovens com as notícias é bem diferente, e a população da qual você normalmente depende para os formatos de mídia tradicionais da televisão e do rádio está em declínio."

A seguir estão mais conselhos de Ajakaiye sobre como jornalistas podem criar uma conexão eficaz com os mais jovens e fornecer a eles notícias confiáveis.

 

Adote o design thinking

design thinking é uma metodologia de negócios definida pela resolução de problemas baseada em soluções e com foco no usuário. Os veículos jornalísticos devem incorporar o design thinking ao modo como criam e apresentam suas notícias, propôs Ajakaiye. Ela encorajou os jornalistas e organizações de notícias a enxergarem seu conteúdo como um produto que pode ser vendido.

"Na maioria das vezes, nós temos nosso estilo, nós temos o jeito tradicional de fazer nossas reportagens. E nós simplesmente supomos que, já que sempre fizemos desse jeito, essa é a forma que as pessoas deveriam engajar com o conteúdo", disse Ajakaiye. "Mas os tempos são outros."   

Informações sobre tendências da audiência podem ser incrivelmente úteis na hora de adotar uma abordagem voltada para o design thinking. Considere que muitos jovens fazem várias coisas ao mesmo tempo quando usam seus smartphones, como ouvir música enquanto olha as redes sociais. Entender esse tipo de comportamento pode te motivar a criar um podcast que as pessoas podem ouvir enquanto fazem outras tarefas.

Quando se trata do design thinking, pergunte-se: "para quem você está vendendo determinado produto? Você tem certeza que está servindo as pessoas da forma que elas querem engajar com os produtos?", disse Ajakaiye.

Considere a "a experiência jornalística ideal"

O estudo Next Gen News, publicado em 2023, estudou a lacuna entre o que os jovens querem e o que eles estavam recebendo do jornalismo. Com base nas descobertas, os pesquisadores criaram um modelo de três níveis para a "experiência jornalística ideal" do consumidor moderno.

Primeiro, fontes de confiança: os jovens querem notícias de pessoas com experiência de primeira mão com quem eles possam se identificar e que sejam transparentes em relação aos seus vieses.

"Uma das formas pelas quais organizações de verificação de fatos como a Politifact conseguem conquistar a confiança de sua audiência é sendo transparente em relação às suas intenções e fontes de financiamento", diz Ajakaiye. "Especialmente para os mais jovens, eles querem que organizações e pessoas sejam transparentes a respeito de questões de conflitos de interesse, seus interesses e seus vieses."

Segundo, significância pessoal: os jovens que consomem notícias querem saber sobre assuntos e problemas pelos quais se interessam e querem ser capazes de fazer algo em relação aos problemas apresentados. O jornalismo de soluções é um gênero jornalístico popular entre adultos jovens, que tendem a ser menos felizes que seus pais e avós.

"Há uma fadiga de notícias. As pessoas estão cansadas de ouvirem notícias tristes, principalmente os mais jovens. Então por que nós não encaramos a produção de conteúdo pela perspectiva do jornalismo de soluções?", disse Ajakaiye.

Terceiro, narrativa desejada: os jovens querem notícias personalizadas, fáceis de entender e convenientes. Eles gravitam em torno de conteúdo de formato curto com elementos visuais e gráficos, mas gostam de ter a opção de aprofundar em uma matéria, se assim desejarem. Alguns veículos, como o britânico TLDR News e o inshorts, da Índia, oferecem múltiplos formatos para os seus leitores, produzindo vídeos ou textos curtos que acompanham textos mais longos.

Recrute influenciadores

Celebridades da internet que viralizam quando compartilham desinformação podem ser um grande problema para veículos jornalísticos. Mas fazer parcerias com criadores de conteúdo alinhados com a sua missão pode amplificar e disseminar a verdade tão rápido quanto.

"Na Nigéria, muitos dos influenciadores têm mais seguidores que organizações de verificação de fatos. Eles conseguem chegar a mais pessoas do que algumas plataformas de mídia", disse Ajakaiye. "São pessoas que você não pode ignorar, porque muita gente está se informando com os influenciadores. Eles seguem esses influenciadores e confiam neles."

O veículo de Ajakaiye, FactsMatterNG, e parceiros colaboraram com influenciadores nigerianos para difundir notícias e estimular que as próprias pessoas verificassem fatos. Ao fazer parcerias com esses criadores de conteúdo, foi possível combater a desinformação no país e ao mesmo tempo promover a FactsMatterNG para uma audiência que talvez eles nunca teriam alcançado por meios tradicionais.

"As pessoas normalmente hesitam na hora de usar influenciadores", disse Ajakaiye. "Mas nós não somos mais os únicos intermediários dessa profissão. Nós precisamos começar a criar conversas, dessa forma vamos estar ditando a pauta." 

As redações também podem estimular os jornalistas a interagirem diretamente com a audiência, como fazem os influenciadores. Se os espectadores podem enxergar um rosto nas notícias, eles vão estar mais propensos a se conectar com o jornalista e confiar na informação compartilhada.

Use linguagem acessível

Independentemente do formato, é importante que a linguagem utilizada por você seja acessível a uma geração mais jovem. Jovens adultos normalmente querem que as notícias sejam "fáceis de entender, informais e atraentes" sem parecerem "emburrecidas". 

"Se você lida com temas de política e economia, apresente as notícias em um formato que seja simples de avaliar e fácil de digerir", diz Ajakaiye. Você não precisa encher as suas matérias de gírias ou termos da moda para conseguir cliques. Em vez disso, contextualize, explique termos complexos e inclua elementos com os quais os leitores possam se identificar.

Mesmo fora dos grupos mais jovens, muitas pessoas têm um nível de leitura básico. Metade das pessoas nos Estados Unidos não conseguem ler como um aluno da oitava série; um em cada seis adultos na Inglaterra tem "habilidades de alfabetização muito ruins". Esteja você produzindo notícias voltadas especificamente para os jovens ou não, inteligibilidade é fundamental. Ferramentas como o Hemingway podem te ajudar a verificar o nível de leitura do seu conteúdo.

Se você vive ou trabalha em um lugar onde o inglês não é a língua principal, disse Ajakaiye, "você também deve considerar essas comunidades, porque na maioria das vezes essas pessoas são excluídas e não são servidas adequadamente pela grande mídia." O FactsMatterNG fez parcerias com criadores de conteúdo como Abis Fulani e Frank Donga para produzir conteúdo em hausa e iorubá, os dois idiomas locais mais falados da Nigéria, para difundir ainda mais sua mensagem.

Este é um mundo acelerado e sobrecarregado de informações, e a forma como as pessoas consomem notícias está mudando rapidamente. Nesse ambiente de mídia, há três perguntas importantes que jornalistas devem fazer a si mesmos regularmente, disse Ajakaiye: "O que você precisa começar a fazer? O que você precisa parar de fazer? O que você precisa mudar na estratégia de conteúdo que você tem?" 

Ao fazerem essas perguntas, jornalistas e redações podem dar passos importantes para ter um melhor alcance em meio a audiências essenciais, incluindo os jovens. 


Disarming Disinformation é realizado pelo ICFJ com financiamento da Scripps Howard Foundation, organização filiada ao Scripps Howard Fund, que apoia os esforços beneficentes da The E.W. Scripps Company. O projeto de três anos vai empoderar jornalistas e estudantes de jornalismo para combater a desinformação na mídia.

Foto por Mikhail Nilov via Pexels.