Mídia na Índia luta contra notícias sensacionalistas

Feb 22, 2024 em Engajamento da comunidade
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A grande mídia na Índia tem passado por uma forte inquisição devido a reportagens tendenciosas e cobertura incompleta de grandes eventos. O que tende a ser oferecido aos consumidores de notícias é um jornalismo guiado por opiniões com notícias exageradas e âncoras escandalosos.

Ao mesmo tempo, a alta dependência dos jornais e canais de TV em receita publicitária entulhou o espaço noticioso com anúncios partidários e de produtos, comprometendo as noções de neutralidade jornalística.

"Gritos estridentes e gestos frenéticos parecem ser os elementos básicos dos canais de notícias atualmente", afirma um estudo recente da Rede de Mulheres na Mídia da Índia. O Digital News Report 2021 do Reuters Institute destacou "a cultura de canais de notícias operando 24 horas por dia, 7 dias por semana com o modelo de 'notícias de última hora' e debates polarizados que muitas vezes distorcem e sensacionalizam as notícias."

Essa confusão e parcialidade têm desvantagens reais: cobertura sensacionalista e ruído excessivo tornam mais difícil distinguir reportagem factual de opinião.

"Se você fizer um retrato do noticiário, você vai ver uma coleção de tudo que não tem valor para virar notícia", diz Anubha Bhonsle, ex-bolsista do programa ICFJ Knight Fellow, que já trabalhou como editora-executiva da CNN-IBN. Ela pediu demissão da CNN-IBN em 2017, depois de 11 anos na empresa, que ela disse ter se tornado "uma sombra de si mesma".

Nesse ambiente, uma plataforma que simplesmente relata os fatos é imensamente valiosa. Para atender essa demanda, em 2019 Bhonsle lançou sua própria plataforma de notícias online, Newsworthy, no Instagram. A plataforma tem o objetivo de oferecer à audiência "algo que tenha valor, seja de interesse público e que não deixe as pessoas com um sentimento de ansiedade."

Organizando as notícias

O Newsworthy destaca notícias diárias de última hora sobre política e temas sociais na Índia, grandes eventos internacionais, clima e notícias de regiões em crises. Além disso, divulga serviços públicos e checagens de fatos, e de vez em quando publica posts de pinturas e poemas curtos sob a categoria de terapia artística.

O veículo criado no Instagram não tem um site para o qual direciona os leitores. Em vez disso, ele fornece descrições detalhadas das notícias por meio de legendas nas publicações. As postagens normalmente incluem um título ou as aspas de alguém importante. As legendas têm seus próprios títulos diretos e concisos seguidos por mais detalhes.

Por exemplo, uma postagem sobre o risco imposto pela desinformação com a chegada das eleições se segue a uma legenda que diz "ATENÇÃO". Uma publicação sobre uma chamada telefônica entre o primeiro-ministro da Índia Narendra Modi e o presidente da Rússia Vladimir Putin começa com "ALÔ, RÚSSIA?".

O texto que se segue é dividido em parágrafos curtos acompanhados de emojis que dividem a história em partes. De acordo com Bhonsle, esses componentes têm o objetivo de responder às perguntas que os editores normalmente fazem aos repórteres.

"O quê? Onde? Quem? Por quê? É o básico feito de uma forma moderna", diz.

 

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Os títulos mais ousados e o detalhamento das notícias em trechos curtos têm sido os aspectos mais essenciais dos esforços do Newsworthy para organizar e simplificar as notícias, diz Bhonsle.

Organizar, ela completa, não significa simplesmente agregar notícias de diferentes sites ou veículos e apresentá-las em um formato coeso. As postagens do Newsworthy dão o contexto do acontecimento, dados de fontes, aspas de pessoas importantes para o fato e reações ao acontecimento em questão.  

Ao cobrir eventos internacionais, como os ataques aéreos dos Estados Unidos no Oriente Médio, as publicações do Newsworthy geralmente destacam reportagens de veículos de credibilidade como CNN, Reuters e Al Jazeera.

"Estamos consumindo o conjunto de informações – entramos em contato com as pessoas, às vezes com os jornalistas no local e verificamos as informações", diz Bhonsle.

Abordagem que prioriza o Instagram 

Atualmente, 72% dos jovens na Índia, a maioria deles falante do inglês, acessam notícias online. Cerca de 39% e 32% usam respectivamente o Facebook e o Instagram para consumir notícias, de acordo com o Digital News Report 2023 do Reuters Institute.

A opção por uma abordagem que prioriza o Instagram foi influenciada por essa realidade, na qual a audiência jovem busca notícias ativamente nas redes sociais. O Instagram também se mostrou particularmente adequado por causa do baixo custo de produção comparado com um site. Um ano após ter surgido no Instagram, o Newsworthy expandiu para o YouTube, mas o alcance no Instagram permanece maior. 

Embora a maioria dos veículos na Índia seja altamente dependente de receita publicitária, o Newsowrthy é financiado por contribuições dos seguidores e trabalhos contratados por clientes. Manter o conteúdo com acesso gratuito é a principal prioridade de Bhonsle.

"Eu acredito que as notícias são de interesse público, e enquanto eu conseguir, elas devem ser gratuitas", diz.

Newsworthy.Studio

O Newsworthy depende bastante de sua agência criativa, a Newsworthy.Studio, para obter receita. A agência oferece serviços para ONGs, veículos e faculdades de jornalismo. Os serviços incluem a produção de documentários, podcasts, animações, cursos, dentre outros. 

"Isso é trabalho para o cliente. É para a comunicação deles e para a audiência deles", diz Bhonsle, acrescentando que ela evita a área de política. "Nós trabalhamos com clientes e fundações. Nós não trabalhamos com partidos políticos." 

Expansão

Há cinco funcionários de tempo integral na equipe da Newsworthy, incluindo Bhonsle. O veículo também contrata consultores no modelo freelance. "É um grupo diverso e nem todo mundo tem uma bagagem no jornalismo, e eu acho que por isso é tão dinâmico", diz Bhonsle.

No todo, incluindo os funcionários de tempo integral e consultores, a equipe do Newsworthy é uma combinação de jornalistas, pesquisadores, especialistas em dados, ilustradores e desenvolvedores. Bhonsle está buscando crescer o Newsworthy, já que a Meta, empresa detentora do Instagram, está se distanciando da distribuição de notícias e o tráfego das redes sociais para conteúdo noticioso está em declínio. Por exemplo, o veículo está no processo de lançamento de uma newsletter no Substack, que vai incluir reportagens mais tradicionais e entrevistas.

"Não sou casada com o Instagram; não sou uma jornalista do Instagram", diz Bhonsle. "Só sou uma jornalista que encontrou uma boa audiência no Instagram."


Foto por Piotr Cichosz via Unsplash.