A matemática está em todos os lugares, da ciência e tecnologia a dados eleitorais, mas na maioria das vezes ela não é bem coberta na mídia, disse Jordana Cepelewicz, repórter sênior da Quanta Magazine, em um webinar recente do Fórum Global de Reportagem de Crise Global do ICFJ sobre como aplicar insights matemáticos à reportagem.
"A matemática está ao nosso redor, desde um modelo de IA ao funcionamento de criptomoedas e à disseminação de uma doença infecciosa", disse Cepelewicz. "Há muita experimentação e criatividade na matemática."
Jornalistas não precisam ter formação em matemática para incorporar a disciplina em suas matérias. A seguir estão algumas dicas que Cepelewicz sugere para comunicar melhor a matemática no jornalismo:
O que é jornalismo matemático?
Matérias matemáticas não são produzidas com frequência, mas não é por falta de conteúdo. "A matemática é uma área de pesquisa muito ativa. Isso significa que há muitas descobertas que os especialistas consideram empolgantes, interessantes e importantes", disse Cepelewicz. Ela descreve três principais tipos de reportagem matemática: textos explanatórios, textos investigativos baseados em dados e perfis.
As matérias explanatórias servem para contextualizar e lançar luz sobre descobertas matemáticas no que diz respeito à sua aplicação na vida cotidiana e relevância no mundo real. Modelos matemáticos usados por epidemiologistas, por exemplo, foram um fator crucial para a cobertura e o entendimento da contagem de casos e taxa de transmissão durante a pandemia de COVID-19.
"O entendimento de conceitos de matemática pura pode, assim, ser realmente importante para dar sentido a assuntos que se tornam relevantes", disse Cepelewicz.
Reportagens baseadas em dados permitem que jornalistas tirem conclusões ou criem uma pauta a partir de padrões de dados. Fazer a cobertura de meio ambiente e de policiamento exige a análise de vastos conjuntos de dados para encontrar uma pauta, uma habilidade que jornalistas às vezes precisam desenvolver. Por exemplo, um jornalista pode analisar dados da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos para encontrar padrões em poluentes causadores de câncer em vários estados ou identificar como padrões migratórios são afetados pela mudança climática.
Por fim, os perfis dão insights sobre os matemáticos em si, explorando sua história pessoal e como isso se relaciona com sua pesquisa. No ano passado, Cepelewicz escreveu o perfil do matemático Jun Huh, vencedor do prestigiado Prêmio Field, que descreveu a matemática como uma extensão da poesia e que largou os estudos para ser poeta.
Como encontrar a abordagem de uma pauta
Não é difícil encontrar o ângulo matemático de uma pauta se os jornalistas souberem para onde olhar. "É possível extrair algo matemático de praticamente qualquer coisa que você está lendo ou ouvindo", disse Cepelewicz.
"Mas como você encontra uma boa ideia matemática?", ela continuou. "Você começa simplesmente fazendo perguntas. Se você está ouvindo sobre algo, preste atenção no que desperta a sua curiosidade."
Para encontrar ideias de pauta, Cepelewicz recomenda entrar em contato com matemáticos e perguntar o que eles consideram interessante no momento, mesmo se isso não resultar em uma matéria de imediato. Cepelewicz também lê com frequência blogs de matemáticos e segue alguns deles nas redes sociais para obter ideias de pauta.
"Pesquisar sobre algo relacionado à matemática pode ser difícil", disse. "Eu realmente dependo das minhas entrevistas para ter um entendimento sobre a respeito de quê minha matéria deve ser, e então eu escrevo de uma forma que seja compreensível para um leitor que não sabe nada."
Entrevistar matemáticos também permite que Cepelewicz peça exemplos para entender como a matemática resolveu concretamente um dado problema, o que pode ajudar os leitores a entenderem melhor um assunto que de outra forma seria complexo.
Desafios para jornalistas
A matemática pode ser difícil e entender conceitos pode parecer assustador, mas conversar com vários matemáticos sobre um mesmo assunto pode ajudar. "Eu descobri que matemáticos têm formas diferentes de pensar sobre diferentes conceitos", disse Cepelewicz. Ela também descobriu que a maioria dos matemáticos é muito paciente e disposta a explicar assuntos complexos.
Ao incorporar diferentes perspectivas em suas reportagens, jornalistas podem construir melhor o seu entendimento do material e, portanto, explicá-lo melhor aos leitores. É importante também identificar por que a matemática é interessante e relevante para o leitor, já que nem sempre há um ângulo noticioso aparente.
É normal que jornalistas se sintam menos preparados ao fazerem entrevistas de pautas relacionadas à matemática, já que boa parte da literatura é difícil de ser dissecada por quem não é especialista, disse Cepelewicz. "Eu faço as perguntas mais básicas em toda entrevista que realizo, e isso é uma parte muito necessária do processo", aconselhou.
Apesar dessas dificuldades, o jornalismo matemático pode ser divertido. Cepelewicz disse que conheceu pessoas incríveis e aprendeu muito apesar do desafio que é escrever reportagens matemáticas. Ela também recebeu comentários positivos de leitores, que dizem que gostam de ler mais sobre um assunto que eles não tinham notado antes e admiram o esforço na produção das matérias.
"Às vezes, quando começo uma matéria, posso me sentir sobrecarregada pela complexidade das coisas, mas à medida que aprofundo minha pesquisa, elas vão ficando mais claras e os conceitos se conectam, e esse momento é incrivelmente satisfatório", disse.
Foto por ThisisEngineering RAEng via Unsplash.
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