A jornalista Natasha Tynes sugere pautas há tanto tempo que poderia fazer isso dormindo, segundo a própria. O primeiro passo é perceber que vender uma pauta requer pesquisa, planejamento e prática para ter sucesso, assim como quaisquer outros aspectos do jornalismo.
"Quanto mais você se promove, mais confiante e proficiente você se torna", disse a autora do livro The Art of Pitching for Writers (A arte de vender ideias para escritores), que guia os usuários pelo processo de sugerir pautas, oferece um template a partir do qual se pode trabalhar e destaca exemplos reais. Ele é especialmente útil para aquelas pessoas que estão fazendo a transição para o mercado freelancer.
"Eu sempre falo para os jornalistas: não espere que os editores venham bater na sua porta. Isso não vai acontecer. Você tem que mostrar o seu trabalho e ir atrás de oportunidades o tempo todo", disse Tynes, cuja carreira de jornalismo começou em sua cidade natal, Amã, na Jordânia, antes de ela se mudar para os Estados Unidos.
Ela prevê que 2023 será um "ótimo momento" para o mercado freelancer, devido à proliferação de negócios online que precisam de escritores e novas fontes de receita no mundo corporativo. Notícias recentes sustentam essa percepção.
Uma reportagem da revista Forbes descreveu o mercado freelancer como uma área em rápido crescimento e com a possibilidade de uma "revolução dos freelancers" em breve bem diante de nós. Em uma pesquisa global, 90% dos líderes corporativos disseram que usam freelancers e planejam contratar mais, de acordo com o artigo da Forbes. A Bloomberg noticiou que o mercado freelancer nos Estados Unidos vive a maior alta de todos os tempos.
Para alguns, entrar nesse mercado requer uma nova mentalidade. "Você precisa pensar além dos jornais e revistas. Se você está presa nessa mentalidade, suas fontes de receita e oportunidades vão ser limitadas. Se você quer ter ganhos decentes, precisa expandir seus horizontes", diz Tynes.
O portfólio de Tynes vai de reportagem, consultoria e redação de newsletters a apresentação de um podcast, "Read and Write with Natasha", e criação de sua própria agência de mídia. Ela ganha dinheiro promovendo serviços e criando produtos como o e-book. Ela flerta com uma audiência global, e suas matérias já foram publicadas no The Washington Post, Esquire Middle East, Elle Magazine, Al Jazeera e Nature, dentre outros.
Persistência e a "apresentação de ouro"
Na maioria das vezes, a persistência é a chave de Tynes para ter acesso a novos clientes. Ela enviou sugestões por anos a editores do The National, jornal diário em inglês dos Emirados Árabes Unidos, antes de finalmente conseguir publicar uma matéria grande em 2022. Tynes agora tem um relacionamento com o veículo para futuros trabalhos.
A "apresentação de ouro", como ela descreve, consiste em uma fórmula básica: uma breve saudação, introdução, ideia de pauta, descrição, prova de credibilidade, uma breve explicação do porquê a matéria deveria ser publicada agora e o "pedido": você tem interesse em encomendar essa pauta e quando você gostaria que eu a enviasse?
"Uma sugestão de pauta precisa ser oportuna, ter um ângulo único, ser factível e relevante para a audiência do veículo. A singularidade distingue as ideias e ajuda a vendê-las", diz um trecho de seu livro.
Sugerir uma pauta genérica sobre a guerra na Ucrânia provavelmente não traz chances de receber um sim dos editores. Mas uma ideia exclusiva, por exemplo, o aumento do uso do Telegram entre ucranianos em diáspora para acompanhar os desdobramentos da guerra pode chamar a atenção de um editor.
Lidando com rejeição
Lidar com a rejeição é um desafio para freelancers. As cinco palavras que ninguém quer ouvir: "obrigado, mas não temos interesse."
Como Tynes lida com a recusa? "Às vezes, preciso colocar meu ego de lado, mas é difícil. Seu ego pode atrapalhar", diz. "Sentir pena de si mesma não vai ajudar. Você precisa desenvolver uma casca dura, lamber suas feridas e seguir sugerindo pautas."
Tynes recorre ao seu "acervo de autogratificação" para ajudar a lidar com a rejeição de um artigo ou um comentário negativo de um leitor. Ela tira um tempo para se exercitar, ler um livro, ver um vídeo no YouTube ou uma série de comédia antiga.
"A coisa mais importante é não se rodear com negatividade. Isso vai te deixar pra baixo. É importante ter válvulas de escape", diz. Para ela, tocar violino na orquestra comunitária do National Institute of Health dá um respiro.
Outros recursos que podem ajudar:
- A Solutions Journalism Network tem uma checklist de pautas que contém o que os editores buscam, incluindo como o email para enviar uma sugestão deveria começar e o que ele deve ou não deve mencionar. Entre as dicas: editores querem uma ideia clara de como a matéria começa e o que vem depois, bem como uma nota breve sobre como você vai abordar o tema e por que você tem qualificações para tal;
- A Society of Professional Journalists tem um material sobre o que incluir em seu site profissional para se promover. As dicas tratam de como se apresentar, exibir os seus melhores trabalhos e oferecer referências para potenciais clientes;
- O Poynter Institute for Media Studies tem links para artigos sobre o trabalho freelancer, incluindo "30+ recursos para freelancers" e uma base dados com sugestões bem-sucedidas. Vale a pena explorar o site para aprender mais sobre como entrar no mercado freelancer.
Foto por Ketut Subiyanto via Pexels.