Com aulas online, jornais estudantis se adaptam ao trabalho remoto

Sep 17, 2020 em Reportagem sobre COVID-19
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O jornalismo depende de interação. Seja cobrindo um evento, entrevistando uma fonte ou produzindo uma história, a comunicação é essencial e, geralmente, é mais bem feita cara a cara. No entanto, desde o início da pandemia, as universidades nos Estados Unidos começaram a fazer uma transição completa para o aprendizado virtual, e estudantes de jornalismo foram forçados a enfrentar os desafios da era online.

Desafios enfrentados por jornais estudantis

Quando ficou claro que o coronavírus não diminuiria no segundo semestre, as universidades dos Estados Unidos começaram a anunciar seus planos para o próximo ano letivo, muitos deles totalmente online ou assumindo uma versão híbrida de aprendizagem presencial e online.

A Harvard foi uma das primeiras universidades a decidir se tornar completamente remota. O presidente do The Harvard Crimson, Aidan Ryan, teve que descobrir como manter o jornal estudantil funcionando sem se reunir no campus.

“Passamos muito tempo nos encontrando pessoalmente e temos a sorte de ter nosso próprio prédio, que é um ótimo espaço para colaboração”, disse Ryan. “No ambiente virtual, estamos realmente perdendo essas experiências pessoais. A experiência de uma redação quando estamos juntos é uma sensação muito especial, que não pode ser replicada remotamente.”

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Ryan disse que o Crimson tem repórteres que estão espalhados por todo o mundo, tornando difícil trabalhar juntos remotamente enquanto levam em consideração os diferentes fusos horários. No entanto, a redação continua a sobreviver por meio de ligações frequentes no Zoom e comunicação por e-mail.

Alunos em todo o país estão lidando com desafios semelhantes, e a adaptação rápida é vital para garantir que o conteúdo seja publicado de forma consistente. The Daily Tar Heel, o jornal estudantil da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, começou o ano letivo pessoalmente. No entanto, eles tiveram que se adaptar rapidamente depois que a universidade ficou totalmente remota uma semana após o início do semestre em resposta a uma onda de casos COVID-19 no campus, que o artigo do estudante descreveu como um “clusterfuck” [impropério para "desastre"] em seu editorial amplamente divulgado.

“Em tempos normais, estaríamos andando pelo campus para ir para a aula e veríamos histórias em potencial, mas isso não é mais possível”, disse Anna Pogarcic, editora-chefe do The Daily Tar Heel.

A organização da redação de Pogarcic agora envolve edições ao vivo no Zoom, e se esforça para verificar virtualmente todos os seus editores e equipe para ver como estão se adaptando.

Adaptando-se para reportagem remota

Os desafios para os repórteres que acompanham a incapacidade de estar no campus são claros, mas a boa notícia é que, se estudantes jornalistas não estão no campus, ninguém mais está.

“Começamos a depender muito mais das mídias sociais para encontrar histórias”, disse Pogarcic. “Ninguém mais vai ao campus, então há muito mais atividades em plataformas como Facebook e Twitter.”

Ser ativo nas redes sociais é uma dica rápida para estudantes jornalistas com dificuldades para encontrar histórias. Confira as comunidades online de clubes universitários e organizações para ver o que estão fazendo para se manterem ativos durante o semestre e para se manter atualizado com a presença online da universidade.

Embora a administração de um jornal estudantil durante uma pandemia não seja bem o que Ryan e Pogarcic imaginavam que iam fazer, eles viram benefícios inesperados da cobertura remota. Para o Crimson, um deles foi o aumento do interesse e envolvimento da equipe.

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“Quando você está no campus, muito do seu tempo é gasto com outras pessoas e andando de um lugar para outro, mas quando você está em casa sozinho, você perde essa interação e ganha muito tempo”, disse Ryan. “As pessoas só querem escrever e continuar escrevendo.”

A reportagem nesse tempo sem precedentes também permitiu que Pogarcic e sua equipe explorassem novas maneiras de fornecer conteúdo.

“Não ir ao escritório nos dá tempo para fazer muito mais reportagens nas redes sociais, vídeos e outras mídias”, disse Pogargic. “Iniciar este ano com o reconhecimento de que as coisas vão ser diferentes nos livrou de coisas que fizemos no passado. Isso nos levou a ver como podemos fazer a cobertura de maneira um pouco diferente.”

Se você é um estudante de jornalismo, reserve um tempo para considerar novas formas de reportagem, seja por meio de podcasts, fotografia ou vídeo. Há uma série de recursos que introduzem novos tipos de reportagem, como o guia do NPR para iniciar um podcast e o tutorial da fotojornalista Sarah Espedido sobre como fazer vídeos para notícias.

Os instrutores também se adaptam

Muitos repórteres de publicações estudantis aprimoram suas habilidades de jornalismo em sala de aula, e os professores de jornalismo contam com a interação face a face tanto quanto os alunos para realizar seus planos de aula. Cheryl Phillips, professora de jornalismo da Universidade de Stanford, dá três aulas que dependiam muito de reuniões na sala de aula.

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“Quando vim para Stanford, vim com a ideia de tratar a classe como uma redação e ajudar os alunos a aprender dessa forma”, disse Phillips.

Phillips teve que mudar suas aulas baseadas em projeto para o Zoom. Durante as aulas, ela discute os desafios da reportagem virtual com seus alunos e cria estratégias para fazer entrevistas com fontes remotamente.

Embora seja preferível aprender e ensinar pessoalmente, Phillips disse que não há momento melhor do que agora para entrar no campo do jornalismo.

“Você é como qualquer outro jornalista por aí”, disse Phillips. “Todos os jornalistas estão tendo que se adaptar de dentro de suas casas e entrevistar pessoas remotamente, e ainda assim estão fazendo ótimas matérias.”


Ayelet Sheffey é estudante de jornalismo na American University em Washington.

Imagem sob licença CC no Unsplash por Thomas Lefebvre