4 dicas para criar um hábito de mídia saudável

por Sharon Coen
Jan 23, 2024 em Diversos
Man holding a newspaper

O início de um novo ano traz a pressão inevitável de começar do zero, com novos hobbies, rotina de exercícios e dietas saudáveis. Mas há uma dieta sobre a qual você talvez não tenha pensado em melhorar neste ano: o seu consumo de mídia e de notícias.

Não é fácil se manter informado atualmente. Nós temos mais acesso à informação do que nunca, mas nem tudo é de boa qualidade. Publicações são acusadas de terem vieses. Histórias falsas viralizam em segundos. E a desinformação gerada por inteligência artificial pode aparecer no nosso feed

Muitas pessoas acessam notícias nas redes sociais. Essas plataformas têm algoritmos e rankings que criam filtros de bolhas, nos quais os usuários são expostos a uma seleção sob medida ou personalizada de informações sobre um determinado assunto, o que pode estar aumentando a polarização.

As pessoas tendem a selecionar e consumir mídia e informações que fazem eco às suas próprias crenças pré-existentes. Isso pode ser em decorrência de publicações e comentaristas que elas escolhem seguir ou por causa dos algoritmos controlados pelas plataformas.

Mas uma análise recente de pesquisas sobre este tópico sugere que o público pode não estar tão polarizado quanto se pensava antes. E os algoritmos podem na verdade ajudar a aumentar a variedade de fontes às quais uma pessoa teria acesso de forma independente.

Apesar disso, ainda pode ser difícil se deparar com tantas fontes, vozes e opiniões – particularmente tendo em vista que pessoas com crenças muito firmes tendem a se expressar mais online. A seguir estão algumas dicas para te ajudar a criar o hábito de mídia mais variada e de alta qualidade.

1) Tenha curiosidade em outros pontos de vista

As redes sociais e os algoritmos de personalização alimentam os usuários com mais do mesmo, de modo a mantê-los engajados. Isso pode significar que informações imprecisas sejam incluídas no processo, desde que elas se enquadrem na narrativa daquilo em que o usuário deseja clicar. 

Se você se deparar com alguma coisa online que se encaixa perfeitamente em sua narrativa pré-existente, isso pode ser resultado de um processo de autosseleção combinado com personalização do algoritmo.

Você pode combater isso consumindo informações de fontes variadas. Leia artigos de veículos com um alinhamento político diferente do seu. Clique em artigos que possam não ser a sua opção costumeira. Isso pode ajudar a "enganar" o algoritmo para que ele te ofereça mais fontes com as quais você não se depararia de outra forma.

2) Fique de olho em quem quer chamar atenção

Hoje, mais do que nunca, é importante estar ciente dos nossos próprios vieses e olhar para questões sociais e políticas com o objetivo de enxergá-las como elas são, em vez de procurar um inimigo. Seja estratégico, não seja combativo.

Lembre que aquilo que você lê online pode não ser um reflexo do que as pessoas pensam, mas daquilo que elas acham que vai atrair mais atenção (e irritar mais gente). Um estudo de 2022 descobriu que, na tentativa de ganhar mais seguidores, as pessoas expressam versões intensificadas de suas opiniões reais. Preste atenção em quem está "gritando" suas opiniões e quem está simplesmente compartilhando. 

Mantenha a mente aberta e ouça vários argumentos, mas não se deixe levar pelas visões extremas de ninguém sem contestá-las com outras pessoas.

3) Reconheça e compartilhe fontes equilibradas

Os autores do estudo de 2022 citado acima descobriram que as plataformas de redes sociais poderiam reduzir a polarização inundando o "ambiente informativo" (os feeds dos usuários) com fontes equilibradas. É claro que a maioria dos usuários não pode produzir notícias equilibradas nem pode prever o que o algoritmo vai propor. Mas nós podemos reconhecer vieses nas notícias e tentar ativamente se opor a eles compartilhando fontes diferentes e confiáveis.

Pesquisas sugerem que os usuários de redes sociais são mais cientes e críticos das notícias que leem quando são solicitados a pensar criticamente sobre elas e avaliá-las. Em vez de simplesmente rolar o feed e clicar no próximo texto, pare um momento e faça a si mesmo perguntas sobre o que acabou de ler. O que você aprendeu? Quais são as fontes usadas no artigo? O que você ainda não conseguiu entender?

4) Tome cuidado com emoções fortes

Publicações e empresas de redes sociais fazem o máximo para tentar provocar emoções fortes nos usuários; em especial, emoções que os façam sentir uma excitação positiva ou negativa (encantamento versus raiva). Isso acontece porque notícias que causam essas emoções têm mais chances de viralizar.

Se você se deparar com um conteúdo que provoque uma reação emotiva forte, antes de reagir, pergunte-se: há algo na forma como esse conteúdo está sendo apresentado que foi feito para me fazer sentir dessa forma? Sentir-me dessa forma é bom para mim? Talvez você descubra que as emoções que você sente te levam a tomar uma atitude diante de uma causa com a qual você se importa. Ou talvez você descubra que suas emoções estão te fazendo subestimar informações e fontes questionáveis. 

Uma boa forma de verificar a credibilidade de uma fonte em particular é ler outros artigos da mesma fonte e buscar evidências de informações imprecisas ou manchetes exageradas. Você também pode verificar se o mesmo assunto foi tratado por sites que você sabe que são respeitados.

Você também pode adicionar à sua dieta contas de verificação de fatos e de jornalistas respeitados, seguindo-os nas redes sociais ou se cadastrando em suas newsletters.


Sharon Coen é professora de Psicologia de Mídia na Universidade de Salford.

Este artigo foi republicado do The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original.

Foto por Priscilla Du Preez 🇨🇦 via Unsplash.