Depois que o assassinato de George Floyd em maio passado gerou uma série de protestos em todos os Estados Unidos, muitas organizações olharam para dentro para examinar a maneira como lidam com questões de desigualdade racial. As redações não foram exceção.
Entre as organizações de notícias que anunciaram planos para expandir os esforços em prol da diversidade estava o Washington Post. O jornal abriu cerca de uma dúzia de novos cargos em junho passado, a maioria deles relacionados a questões raciais e sociais. Algumas semanas depois, veio o anúncio: Krissah Thompson, editora da seção de estilo do Post, foi nomeada a nova diretora editorial para diversidade e inclusão.
Nesta posição recém-criada, as responsabilidades de Thompson se enquadrarão em três categorias, disse ela à IJNet: contratação e recrutamento, dar forma para cobertura e aprimorar a cultura da redação e retenção de equipe.
Como parte da redação por 20 anos, Thompson se tornou a primeira mulher afro-americana a se tornar uma diretora editorial na história do jornal. Ela considera o momento atual um ponto de partida para melhorar. “Em última análise, queremos uma redação que se pareça com os Estados Unidos e possa cobrir todas as comunidades profunda e amplamente”, explicou ela.
Na entrevista abaixo, Thompson compartilhou algumas das expectativas e objetivos que ela tem para este novo cargo, já que a justiça racial continua sendo uma questão crítica no país hoje.
Seu trabalho estará focado apenas na cultura da redação ou você também buscará engajar públicos diversos?
Estou focada em ambos. No curto prazo, quero ter o maior número possível de chamadas e reuniões com gerentes e funcionários para iniciar um diálogo, ter contribuições e, em seguida, começar a reunir minhas ideias sobre planos viáveis. Quero que os colegas saibam que estou disponível e estarei trabalhando para desempenhar um papel fundamental na criação de uma redação que seja um modelo de diversidade e inclusão para nosso setor. Também pretendo me concentrar em retenção, recrutamento e treinamento. Com isso, devemos ver um impacto na diversidade em nosso jornalismo.
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Por que a diversidade e a inclusão são importantes para o Washington Post?
Diversidade e inclusão são metas importantes que todos devemos buscar. Em um esforço de transparência, recentemente lançamos publicamente um relatório sobre os dados demográficos do Washington Post e sua redação, fornecendo informações regulares que podemos avaliar. Também estamos comunicando como esse trabalho essencial pode ser aplicado em várias facetas, inclusive no nível de gestão. Diversidade e inclusão em nossa equipe se traduzem em diversidade e inclusão em nossa cobertura, que atende melhor aos nossos leitores.
Como a morte de George Floyd e os protestos afetaram a redação?
Esta é uma história que gerou protestos históricos. É um evento de notícias que cobrimos bem. Além disso, redações em todo o país -- incluindo o Post -- examinaram mais de perto as desigualdades raciais em suas equipes e estão conversando sobre como remediá-las.
Quais são as expectativas da redação para a sua função e para futuras mudanças na diversidade e inclusão dentro da organização?
Estou muito entusiasmada com este trabalho. Eu quero promover uma ética do tipo "estamos todos juntos nisso". Ninguém pode mudar a cultura de uma redação ou tornar um lugar mais inclusivo. Será necessário um corpo coletivo trabalhando junto com as mesmas ambições.
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Olhando para os dados demográficos que a organização divulgou recentemente, mais de 77% da liderança é branca. Apenas 9% da liderança é negra. Quais seriam seus primeiros passos para fechar essa lacuna?
Quero ver o talento que já está no Post crescer para posições de liderança. Acho que veremos melhorias na representação da liderança investindo no talento que já está na redação.
O relatório também mostra que, desde 2017, a lacuna de gênero entre mulheres e homens diminuiu. Durante esse tempo, também vimos um aumento nas demandas em relação aos direitos das mulheres. Existe algo dessa experiência que pode ser replicado para fechar a lacuna racial/étnica?
Eu quero ver o Post ser intencional quando se trata de construir uma redação que se pareça com os Estados Unidos. Fizemos grandes avanços no que diz respeito à igualdade de gênero e acho que o aumento da conscientização sobre as desigualdades raciais nos ajudará a fechar melhor as lacunas que existem. Estamos colocando recursos para melhorar no que se refere à diversidade e inclusão e acredito que chegaremos lá.
Aldana Vales é coordenadora de programa do ICFJ.
Imagem sob licença CC via Wikimedia Commons