À medida que as temperaturas globais aumentam, o nível do mar sobe, causando danos nas regiões costeiras do planeta.
Hoje, mais de 90 cidades nos Estados Unidos sofreram “enchentes crônicas”, e esse número deve dobrar até 2030, segundo o Fórum Econômico Mundial. As inundações também aumentarão em intensidade ao longo do tempo — especialmente se os países não reduzirem suas emissões globais de carbono.
O impacto das inundações nas grandes cidades e nos mercados imobiliários mais caros domina amplamente a cobertura da questão, disse Josh Landis, fundador e diretor do Nexus Media News. "Vemos muitas manchetes sobre os efeitos nos lugares caros como 'Miami perdeu X bilhões de dólares', 'Ocean City perdeu X bilhões de dólares'", disse Landis à IJNet.
Este tipo de reportagem, no entanto, não capta a amplitude do impacto das inundações nas casas e meios de subsistência das pessoas. Por isso, Landis tem analisado de forma mais abrangente como esse fenômeno está afetando todos os mercados imobiliários nas áreas costeiras dos Estados Unidos, usando análise e visualização de dados.
Com financiamento e treinamento de dados da Microsoft através de um novo subsídio para ex-bolsistas do ICFJ, Landis está avaliando quais áreas costeiras estão sofrendo uma perda financeira mais significativa (a maior perda) em relação à área local como resultado do aumento do nível do mar. Ele está reunindo dados sobre valores de propriedade do censo e comparando esses números com dados retirados de mercados imobiliários sobre a perda de valor de propriedade, de 2005 a 2017.
"O que queríamos fazer com isso era olhar mais a fundo na história e encontrar pessoas que podem ter sido mais afetadas por esse fenômeno do que apenas os mercados imobiliários de alto nível", disse Landis.
"Esses são lugares que tendem a ser menos turísticos, menos conhecidos", acrescentou. "São lugares onde as pessoas têm muito do seu patrimônio pessoal investido nos imóveis, o que agora está sendo afetado pelas perdas induzidas pelas mudanças climáticas."
Como resultado, eles têm menos recursos com os quais contar caso o aumento do nível do mar danifique sua propriedade.
"Acho que uma das grandes coisas que estão em jogo para eles é não tirar o proveito esperado de seu investimento", disse Landis. “Vender [o imóvel] para fins de planejamento de aposentadoria, ou refinanciar, ou ajudar a pagar as despesas da faculdade dos filhos: essas são as coisas que estão em jogo. Sem mencionar a perda absoluta das propriedades por causa do clima extremo e inundações.”
Landis e outros dois colegas de sua equipe coletaram dados de “milhares e milhares” de códigos postais ao longo da maioria das costas dos Estados Unidos no Atlântico e no Golfo, do Maine ao Texas. Eles, então, decidiram analisar e visualizar os dados complexos.
Para facilitar essa compreensão para o público, eles criaram visuais poderosos usando o Power BI, um software que ajuda a transformar dados de números em formatos visuais que ajudam a contar uma história. Organizações como a Associated Press, Politico EU e até mesmo a estação de TV TEGNA também utilizaram este software para contar histórias com seus dados, melhorando o engajamento e a compreensão do público.
"Nós criamos um mapa onde você pode fazer zoom ou expandir, e pode clicar em diferentes códigos postais e ver as taxas de perda codificadas por cor e explorar tudo isso, se quiser", explicou Landis.
Landis e sua equipe descobriram que os lugares mais atingidos não são necessariamente aqueles com os maiores valores de perda de propriedade em geral.
"Se você tem uma propriedade que vale US$10 milhões e perde US$ 500.000 desse valor, isso é um impacto muito diferente do que se você tivesse um lugar que valesse US$1 milhão e perdesse US$500.000 ou tivesse uma casa de US$200.000 e perdesse US$100.000”, explicou Landis. "Só de olhar para o valor por si só não conta toda a história, e é por isso que nos voltamos para essa análise de dados."
É o caso de Bay St. Louis, uma pequena cidade de 13.000 habitantes ao longo da costa do golfo do Mississippi. A perda do valor das propriedades pode parecer baixa à primeira vista. Quando considerado no contexto com seus baixos valores de propriedade, no entanto, o impacto é realmente mais duro para os proprietários.
Somente quando Landis e sua equipe puderam colocar números brutos em um formato visual, esse impacto saltou para eles. Eles planejam viajar para o Mississippi para se encontrar com proprietários de casas e profissionais do setor imobiliário, para dar rostos aos dados.
Quase 700 cidades dos Estados Unidos podem estar sob “inundação crônica” até o final do século, adverte a Union of Concerned Scientists. À medida que as inundações se intensificam, cidades como Bay St. Louis podem se beneficiar de mais atenção da mídia. Landis espera que sua reportagem ilumine o impacto significativo que a crise climática tem, e continuará a ter, nos valores das propriedades de pequenas comunidades.
Dessa forma, eles podem "tomar as medidas adequadas", disse ele.
“Seja protegendo a comunidade ou reavaliando seus investimentos na comunidade, queremos aumentar a conscientização apropriada.”
Mais e mais redações estão incorporando o jornalismo de dados em suas reportagens hoje. Como Landis descobriu, analisar números a fundo é um tipo de reportagem investigativa em larga escala que pode render narrativas profundamente pessoais dentro de uma comunidade.
"Sem a análise mais profunda dos dados, você perderia histórias interessantes, importantes e originais", disse Landis. "Isso é o que todo jornalista quer encontrar."
Você pode conhecer mais sobre o trabalho de Josh Landis e o subsídio para ex-bolsistas do ICFJ aqui.
A imagem principal é uma captura de tela da reportagem de Josh Landis com o software de visualização de dados Power BI.