Treinamentos ajudam jornalistas a se prepararem para cenários perigosos

por Brooke Stanley
Aug 23, 2019 em Segurança Digital e Física
Ambulância

No ano passado, 54 jornalistas foram mortos, 250 foram presos e inúmeros outros estiveram em situações de perigo físico enquanto apuravam histórias. O trabalho é perigoso e os jornalistas precisam estar preparados para o pior cenário possível.

Quando a International Women’s Media Foundation (IWMF, em inglês) começou a enviar bolsistas para reportar em países em conflito e pós-conflito em 2014, sabia que era importante equipar as jornalistas com algum tipo de treinamento de segurança. A organização começou a exigir que as bolsistas participassem de um Treinamento de Ambiente Hostil e Primeiros Socorros de Emergência ou HEFAT (em inglês). O curso de três a cinco dias ensina segurança, defesa pessoal e conscientização situacional por meio de treinamento em sala de aula e simulações realistas de situações perigosas enfrentadas por jornalistas em suas reportagens.

"Isso ajuda a criar essa memória muscular e, então, você entende um pouco sobre suas reações", disse Nadine Hoffman, diretora adjunta da IWMF. "Você é capaz de pensar em algumas das melhores práticas sobre o que poderia fazer."

A IWMF adapta cada curso HEFAT aos países para onde as bolsistas estão viajando e os tipos de situações que podem encontrar. Por exemplo, bolsistas no México aprendem a responder a ameaças de cartéis, como sequestros, disse Hoffman. Outras habilidades incluem primeiros socorros de emergência, reação a tiros e segurança pessoal.

Embora os cursos HEFAT normalmente não se concentrem em defesa pessoal, a IWMF adicionou alguns fundamentos ao currículo após uma demanda cada vez maior das jornalistas. As participantes aprendem alguns movimentos simples que podem ajudar na defesa contra um agressor, independentemente do seu tamanho. "Eu acho que, especialmente para as mulheres, isso é realmente importante", disse Hoffman.

Aliya Bashir é uma jornalista independente baseada na Caxemira administrada pela Índia, e beneficiária de uma bolsa do Fundo Howard G. Buffett para Mulheres Jornalistas da IWMF. Ela recebeu treinamento HEFAT em 2016 antes de cobrir a luta das viúvas de insurgentes em meio ao conflito territorial na Caxemira.

Desde então, as habilidades que aprendeu no treinamento tornaram-se parte integrante de sua carreira jornalística. Agora, em cada apuração, ela considera as precauções que pode tomar para tornar sua viagem mais segura: qualquer coisa, desde fazer backup de entrevistas e fotos até avisar um amigo quando ela vai para áreas altamente militarizadas.

"Como mulher, eu preciso ter uma capacidade mental muito forte e ser um pouco mais confiante", disse Bashir. "Pelo menos eu posso me proteger com algumas noções básicas."

Notes from a HEFAT training
Anita Pouchard Serra, outrs bolsista da IWMF, compartilha suas anotações de um treinamento da HEFAT.

 

O treinamento HEFAT é oferecido por organizações como Global Journalist Security em Washington e Blue Mountain Group no Reino Unido. Algumas redações e programas oferecem esse treinamento para funcionários e bolsistas, mas o custo pode ser alto, geralmente entre US$1.000 e US$3.000 para jornalistas que pagam de seu próprio bolso. Alguns subsídios estão disponíveis de organizações como Rory Peck Trust e A Culture of Safety Alliance, mas mesmo esses podem ser difíceis de conseguir.

O HEFAT, no entanto, não é a única maneira de os jornalistas se protegerem. Também podem encontrar escolas locais de artes marciais que ensinam técnicas de defesa pessoal e de conscientização ambiental, como o Krav Maga de Israel, Kali das Filipinas e o Jiu-Jitsu brasileiro.

Michael Cummings é instrutor no The Fighters Garage, uma escola de defesa pessoal na Virgínia, que oferece aulas de Krav Maga, Kali e Jiu-Jitsu. Atualmente treinando cerca de 250 alunos, é uma das muitas escolas de autodefesa da área.

“Nós vemos muitos policiais aqui, muitos funcionários do governo, de Relações Exteriores, Serviço de Segurança de Defesa: pessoas que podem acabar em uma situação que não podem controlar e coisas ruins podem acontecer", disse Cummings, que começou o treinamento de combates no Exército dos Estados Unidos em 2004.

As aulas se concentram em autodefesa baseada em realidade e condicionamento físico. Alunos com idades e níveis variados treinam juntos.

A mensalidade em academias com aulas de defesa pessoal nos Estados Unidos, como The Fighters Garage, custa entre US$100 e US$200 por mês. Embora o preço ainda seja alto, oferece uma alternativa para jornalistas interessados ​​em habilidades básicas de autodefesa.

Independentemente do tipo de treinamento, Bashir diz que jornalistas devem se educar constantemente sobre como se manter seguro na rua. Desde seu primeiro HEFAT com a IWMF, ela completou outro curso através do Centro Pulitzer e aconselha jovens jornalistas a realizar treinamentos similares.

"Nenhuma história vale a sua vida", disse Bashir. "Se você não planeja as coisas à frente, há muita chance de que acabe em situações de perigo."


Imagem principal sob licença CC no Unsplash via camilo jimenez