Saiba o que focar se você estiver cobrindo a COP26

Nov 2, 2021 em Reportagem de meio ambiente
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A 26ª Conferência da ONU sobre Mudança Climática, também conhecida como COP26, tem gerado repercussão significativa, oferecendo duas semanas valiosas de cobertura, sobre a crise climática, o meio ambiente e assuntos relacionados.

Aquela que muitos acreditam ser a mais importante conferência sobre o clima dos últimos anos, a COP26 terá debates sobre soluções de financiamento para a crise climática. Essas negociações vão focar em engajar países mais ricos, em particular, na destinação de mais recursos para apoiar os esforços de países de baixa renda na descarbonização de suas economias. A conferência também inclui deliberações em torno de esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e para atingir a neutralidade de carbono, e abordagens sobre os compromissos desiguais feitos pelos países — com alguns fazendo mais sacrifícios que outros.

Líderes globais, incluindo o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e ativistas ambientais mundialmente famosos, como Greta Thunberg, têm presença esperada na conferência em Glasgow. Assim como grupos de defesa do meio ambiente, ativistas de justiça climática, ambientalistas, lobistas, agentes do setor de combustíveis fósseis e outras partes interessadas.

Um elemento central da conferência será as negociações entre os líderes globais. No entanto, anúncios recentes de que o presidente da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, não estarão presentes levantaram preocupações sobre a possibilidade de quaisquer acordos mais importantes serem realizados.    

Em um momento em que a crise climática está em seu ponto mais urgente e só tendendo a piorar, os jornalistas vão precisar ir além dos releases de imprensa e anúncios oficiais para oferecer uma cobertura incisiva para seus leitores. Aos jornalistas cobrindo a conferência: o que é digno de ser noticiado e vale uma pauta na COP26?

Eu participei de capacitações ao longo do ano passado como bolsista da Climate Tracker, uma organização cuja missão é apoiar, capacitar e incentivar jovens jornalistas de países em desenvolvimento a cobrir melhor o meio ambiente. Confira abaixo alguns dos pontos mais importantes extraídos desses treinamentos para saber como cobrir esse encontro crucial, incluindo questões-chave para ficar de olho.

[Leia mais: O que jornalistas podem fazer globalmente para cobrir a crise climática]

Preste atenção nos principais objetivos da conferência

Garantir que se chegue a zero emissões líquidas até 2050 em escala global; adaptar-se para proteger comunidades e habitats naturais; assegurar que os países ricos honrem o compromisso de destinar US$ 100 bilhões anuais para o clima; e comprometimento de um trabalho conjunto para lidar com os desafios da crise climática. Estes são os objetivos principais da COP26, que devem ser considerados como potenciais pautas a serem exploradas de diferentes ângulos — não somente a partir do que é anunciado, ou não, na conferência.

Há grupos de interesse, organizações, pesquisadores e especialistas que podem servir como fontes úteis para ideias de pautas globais, regionais e nacionais. A Agência Internacional de Energia e a Organização Mundial da Saúde são apenas dois exemplos. Encontre outros mais aqui.

Acompanhe o Acordo de Paris

Um defeito notável do Acordo de Paris é o seu tom vago em relação à responsabilização. Os países não têm conseguido atingir um consenso em ações básicas, por exemplo, como relatar o progresso feito e como entrar em um acordo em relação a métricas, padrões e prazos.

Por exemplo, os países podem definir individualmente seus próprios objetivos e o prazo para alcançá-los. Isso pode gerar desigualdades na corrida pela neutralidade de carbono e emissões zero, com alguns países assumindo compromissos mais ambiciosos que outros.

Os jornalistas podem fazer matérias sobre o vácuo de responsabilidades resultante disso, cobrindo os compromissos individuais que países estão adotando e colocando em prática. Eles podem cobrir as conquistas obtidas, bem como os passos concretos que os países deram para atingir seus objetivos.

[Leia mais: Lições da pandemia para cobrir a crise climática]

Monitore discussões sobre o papel individual dos países

A adesão da China é fundamental para que o mundo cumpra muitos dos objetivos estabelecidos no Acordo de Paris. Porém, o presidente chinês Xi Jiping não participará pessoalmente da conferência, e o governo chinês tem sido relutante em fazer um novo compromisso sobre a emissão de carbono que poderia ser crucial para atingir muitos dos objetivos da conferência e da agenda global sobre a mudança climática como um todo. Danos climáticos significativos podem ser evitados, ou ao menos minimizados, por exemplo, se a China, a Índia e a Rússia se comprometerem a cortar suas emissões de gases de efeito estufa em mais da metade até 2030, e eliminá-las completamente até 2050.

O Acordo de Paris reconhece que, historicamente, países ricos contribuíram mais para a mudança climática. Como resultado, ele requer que os Estados Unidos, o Reino Unido, a França e outros apoiem países de baixa renda com recursos para lidar com a mudança climática.

A China e a Índia, em declarações separadas, defenderam o apelo para que os países ricos façam compromissos financeiros mais substanciais para apoiar economias com menos recursos. A África do Sul, um dos países que se beneficiariam dos recursos, pediu financiamentos anuais na ordem de US$ 750 bilhões. No entanto, o compromisso de US$ 100 bilhões anuais feito pelos países desenvolvidos não será cumprido antes de 2023.    

Acompanhe debates sobre carvão e metano

O carvão é outra questão crítica da COP26 que os jornalistas que cobrem países em desenvolvimento devem prestar atenção, de acordo com especialistas do Climate Tracker. A Agência Internacional de Energia estima que somente o carvão produz cerca de 15 bilhões de toneladas de dióxido de carbono anualmente. Ao colocar um freio no uso do carvão e investir em fontes limpas de energia, países podem chegar mais perto de atingir a neutralidade de carbono.

Algumas das alternativas para os governos lidarem com as emissões vindas de termelétricas movidas a carvão incluem capturar o carbono emitido por elas, utilizar as usinas para outras funções e encerrar as atividades daquelas já existentes. A conferência vai oferecer um fórum para organizações internacionais, como a Agência Internacional de Energia Atômica, apresentarem novas ideias de como lidar com o carvão.

O metano, que tem um poder de aquecimento significativamente maior que o dióxido de carbono, também será um foco importante na COP26. Pesquisas sugerem que é possível reduzir as emissões de metano em 40% até 2030, portanto atingir um compromisso antimetano pode ser um ponto importante para ter atenção durante a conferência.


Foto por Magdalena Kula Manchee no Unsplash.