Desde seu tempo estudando design, Robin Pedraja queria trabalhar em uma revista. "E para isso, a melhor coisa era fazer do zero", diz ele. É assim que a Vistar, revista dedicada a celebridades e cultura cubanas, nasceu em 2014.
Inspirados neste projeto, outros grupos de jovens lançaram suas próprias publicações desenvolvidas em formato PDF.
Talvez a característica mais marcante desses empreendimentos seja sua forma de circulação. Embora muitos tenham sites e páginas nas redes sociais, a maioria é projetada para alcançar pessoas através de um "pacote semanal".
Esses pacotes incluem uma compilação de vídeos, filmes, séries, músicas, software e outros materiais que podem chegar a até um terabyte de informação e são distribuídos por meio de discos rígidos e USBs. Dadas as péssimas condições da internet, tanto de acesso como de qualidade, em Cuba, esse tem sido o caminho mais direto para o cidadão comum ter acesso a revistas.
As novas publicações nascem da necessidade de uma imprensa mais atrativa em Cuba. Isso pode ser facilmente observado através dos temas abordados --incluindo fotografia, casamentos, celebridades, restaurantes, moda e mais: áreas que recebem pouca ou nenhuma cobertura da mídia oficial e que agora estão encontrando leitores que estão ansiosos por algo diferente.
"Nada de política", enfatiza Pedraja. Essa é outra característica comum desses projetos, afastar-se das difíceis questões da realidade política de Cuba. Afastar-se dos mesmos tópicos antigos não é apenas um interesse editorial, mas também a maneira de evitar problemas e permitir que essas publicações funcionem em paz.
Até agora, as mais de 15 publicações cubanas que circulam no pacote permaneceram em um limbo legal. De acordo com o artigo 53 da Constituição Cubana (1976), os meios de comunicação não podem ser, em hipótese alguma, de propriedade privada. Contudo, o próprio estado descumpre mais de uma provisão constitucional, e há uma reforma constitucional em andamento.
O mecanismo para legalizar publicações emergentes em escala global seria registrá-las no Registro de Publicações Seriadas. No entanto, para realizar o processo, as revistas deveriam ser pessoas jurídicas, o que é legalmente impossível em Cuba. Em busca de alguma estabilidade, algumas publicações, como Play-Off e Vistar, adquiriram um International Standard Serial Numbers (ISSNs) através de entidades em outros países.
No entanto, apesar de tudo, a relevância pública dessas iniciativas continua a crescer. Em 2016, a Faculdade de Comunicação da Universidade de Havana analisou o fenômeno em uma de suas teses.
O estudo, de Amalia Ramos, descreve a gestão editorial de quatro revistas e conclui que seu surgimento representa um ponto de virada no panorama midiático cubano: "Mesmo com as possíveis deficiências das publicações, que são compreensíveis, pois são as primeiras a experimentar e testar novas fórmulas, estas propostas editoriais estão na vanguarda da invenção e criatividade e significam uma voz plural dos cidadãos."
Alguns leitores, ao verem as revistas pela primeira vez, se perguntam se realmente são feitas em Cuba. O design arrojado, a exibição fotográfica e o uso da publicidade contrastam com publicações tradicionais em preto e branco.
Os guias visuais dessas publicações parecem ser as grandes revistas de entretenimento ao redor do mundo. Pedraja diz que sua principal fonte de inspiração é a Rolling Stone; enquanto a Garbos, especializada em moda, se assemelha a uma (Nova) Cosmopolitan tropical.
Uma questão surge regularmente: como você sustenta financeiramente um projeto como esse? Em um contexto em que pequenas empresas privadas precisam de visibilidade para competir, a resposta é a publicidade. Pode-se dizer que esses novos veículos de comunicação são os companheiros de mídia de outros setores emergentes da sociedade cubana.
Há várias circunstâncias que causaram o surgimento dessas revistas temáticas. Por um lado, há muitos jovens graduados de carreiras semelhantes, que buscam realização profissional e ganham algum dinheiro extra, já que a maioria deles também trabalha para órgãos estatais.
O fenômeno também é resultado do uso disseminado da tecnologia. "Para fazer jornalismo nos anos oitenta era preciso muitos recursos físicos, mas hoje nem precisamos de um escritório", diz a editora Paola Cabrera.
A diversidade de publicações mostra que há um universo em expansão aqui: Amano cobre questões de design e arquitetura, Alas Tensas é uma revista feminista e Fragmentos de Isla é um boletim literário "para dialogar a partir das profundezas cubanas".
Essas iniciativas editoriais coexistem com empreendimentos jornalísticos, também liderados por jovens, como o Posdata.Club e El Sornudo y Barrio, além de mídias de outros países, como Progreso Semanal, OnCuba e El Toque.
Certa continuidade pode ser observada com o que alguns especialistas chamam de "tradição do jornalismo cubano". Desde os tempos coloniais, a maioria dos movimentos ou grupos sociais, políticos e culturais criou suas próprias revistas. Como aquelas, as revistas atuais são uma expressão de um momento histórico de uma sociedade que não é mais a mesma.
Fotos: capa de algumas das revistas. Fornecidas por Eileen Sosin Martínez.