Relatório examina cobertura internacional de migrações

por Samantha Berkhead
Oct 30, 2018 em Temas especializados

A crise de refugiados da Síria foi uma das maiores de notícias de 2015, mas o Oriente Médio e a Europa estão longe de ser os únicos lugares no mundo que lidam com a migração em massa.

Para considerar melhor o papel da mídia em iluminar a questão da migração, a Rede de Jornalismo Ético (EJN, em inglês) lançou o relatório "Moving Stories” (Histórias em movimento). Publicado para coincidir com o Dia Internacional dos Migrantes, o relatório examina a cobertura da mídia sobre a migração humana em 14 países em todo o mundo.

Entre os seus tópicos? A mídia tem feito uma série de erros críticos ao cobrir os refugiados e os migrantes, inclusive deixando de alertar o mundo para a iminente crise de refugiados da Síria em 2014; proliferando discurso anti-imigrante de líderes políticos na Europa e Estados Unidos; não fornecendo dados confiáveis e precisos sobre a crise de refugiados; e permitindo-se ser impulsionado pela hipérbole e sensacionalismo.

Apesar dessas falhars, Aidan White, diretor da EJN, disse que há exemplos de jornalismo que tratam os migrantes com a empatia que eles merecem -- e que estes exemplos devem ser seguidos.

"Em todo o mundo, a cobertura da mídia é muitas vezes orientada politicamente, com os jornalistas seguindo uma agenda dominada pela língua solta e discurso de invasão e multidão",  White disse em um comunicado de imprensa. "Mas em outros momentos, a história é tratada com humanidade, empatia e foco sobre o sofrimento das pessoas envolvidas."

À luz disto, os autores do relatório de 100 páginas fizeram as seguintes recomendações para jornalistas que cobrem a migração:

Mantenha um contexto ético 

Porque migrantes e refugiados são muitas vezes uma minoria vulnerável, é fácil transformá-los em bodes expiatórios para os problemas sociais e econômicos de uma sociedade. Para combater os estereótipos prejudiciais e ajudar os leitores a compreender as complexidades por trás da migração, o relatório sugere aplicar e respeitar os princípios de rigor, independência, imparcialidade, humanidade e responsabilidade ao reportar sobre este tema.

Estabeleça normas de redação para cobrir migração

Além disso, as organizações de notícias devem aprovar códigos concisos que descrevem as melhores práticas para elaboração de reportagens sobre os migrantes. As estruturas internas de uma organização devem ser cuidadosamente estudadas para garantir que cada história seja contada da melhor maneira possível. Associações de mídia e sindicatos de jornalistas são encorajados a fazer o mesmo.

Envolva o público e os próprios migrantes

Os jornalistas devem entrar em contato com ativistas, grupos de refugiados e ONGs para aumentar a sua cobertura. Estas pessoas e as organizações podem fornecer contexto e informações adicionais. Os jornalistas também podem buscar informações cruciais sobre a migração a partir de seus próprios públicos.

Desafie o discurso de ódio

Prevenir a propagação do discurso de ódio nos meios de comunicação pode ser difícil quando esse discurso vem de figuras políticas proeminentes. Ao mesmo tempo, uma pessoa dizer algo chocante sobre refugiados ou migrantes não é notícia por si só, o que é uma distinção importante para o jornalista ter em mente. O relatório inclui um texto de cinco pontos sobre discursos de ódio para ajudar a redação a entender melhor quando devem evitar a divulgação de retórica prejudicial.

Exija acesso a informação

Por último, o guia afirma que os jornalistas e organizações de notícias deveriam trabalhar para garantir seu acesso à informação relacionada a migrantes, pois é impossível informar sobre migração sem fatos confiáveis. Os meios de comunicação e jornalistas dos sindicatos devem se reunir regularmente com as autoridades estaduais e agências policiais e jornalistas para garantir a segurança e o acesso a informação.

"A crise de refugiados não vai diminuir", disse White. "Nunca houve uma necessidade maior de inteligência útil e confiável sobre as complexidades da migração. Mas para isso acontecer, como mostra este relatório, temos de reforçar o ofício do jornalismo. "

Imagem sob licença CC no Flickr via IHH Humanitarian Relief Foundation