No ano passado, a mídia foi dominada pelo debate sobre o aumento da desinformação e o declínio na credibilidade da mídia. Mas, embora a confiança na mídia esteja em situação precária em muitos países, pode não ser tão terrível quanto alguns pensam.
Como uma pesquisa recente do Instituto Pew descobriu, a confiança é baixa, mas o público em todo o mundo ainda quer notícias imparciais e acredita que o jornalismo desempenha um papel importante na esfera pública. Apesar das dificuldades enfrentadas pelos jornalistas e pelo setor da mídia, nosso relatório "Bridging the Gap: Rebuilding Citizen Trust in Media" descobriu que há sinais surpreendentes de esperança, particularmente em países que tiveram que lutar abertamente contra a desinformação na mídia por mais tempo que os Estados Unidos.
Em países como os EUA, algumas pessoas já não veem as notícias como confiáveis por causa do receio sobre fake news e câmaras de eco ou preocupações sobre partidarismo na mídia. Esses tópicos são importantes para incluí-los na discussão em torno da confiança pública, mas a maior questão agora é como corrigir o problema.
Para o relatório encomendado pelo Programa de Jornalismo Independente da Open Society Foundation, entrevistamos e reunimos dados de 17 organizações, incluindo o site argentino Chequeado, o site de notícias e comentários Raseef22 no Oriente Médio, o site de notícias de investigação liberiano Premium Times, o site de notícias regional Juzne Vesti na Sérvia e a ONG de jornalismo de investigação e de dados Correct!v na Alemanha. Queríamos aprender mais sobre o ambiente atual para jornalistas independentes, bem como sua abordagem para construir relacionamentos mais próximos com suas comunidades.
A grande maioria dos entrevistados esperava produzir notícias que fossem relevantes e acionáveis para o público. Esses jornalistas disseram que publicam jornalismo baseado em fatos na crença de que podem fortalecer lentamente seu relacionamento com o público. No entanto, alguns veículos de jornalismo acabam concorrendo com notícias de tablóides, fake news ou narrativas sancionadas pelo governo, tornando mais difícil para a reportagem de qualidade ser ouvida.
A maioria dessas organizações busca vigorosamente novas maneiras de alcançar seus leitores. Por exemplo, o site Chequeado descobriu que GIFs e explicadores de vídeo podem ajudar a atrair leitores que normalmente não leem as notícias. O Raseef22 criou um blog para promover reportagens de cidadãos. O site de notícias alemão Krautreporter, que funciona como um coletivo, frequentemente confia em seus leitores como fontes de informação e experiência.
Enquanto as mídias estão tentando novas abordagens para alcançar os leitores, não é fácil medir o efeito que seus esforços têm na confiança do leitor. Também é importante lembrar que não existe uma explicação única para a desconfiança da mídia; as razões por trás da desconfiança podem diferir muito de país para país. Partidarismo político, corrupção interna, propaganda governamental, falta de financiamento para o jornalismo: todos são fatores que afetam a forma como a imprensa é vista.
O alcance de algumas dessas organizações é baixo e jornalistas estão lutando para construir modelos de negócios sustentáveis. Apesar disso, essas organizações estão trabalhando para atuar como um farol de luz para jovens jornalistas que desejam fortalecer suas habilidades. O portal Juzne Vesti da Sérvia começou a organizar cursos de treinamento para jovens jornalistas, e o Premium Times oferece programas intensivos de três dias nas principais universidades nigerianas. A esperança não é que os alunos trabalhem em suas organizações, mas que armados com treinamento, podem melhorar a qualidade do jornalismo nos veículos de imprensa em seus respectivos países.
Um dos maiores desafios para a mídia independente é o financiamento. Planos de negócios sustentáveis e de longo prazo estão na mente de quase todos os entrevistados. Alguns estão experimentando com paywalls ou associações/assinaturas, e alguns poucos tiveram sucesso com crowdfunding. A capacidade de escrever notícias baseadas em fatos depende tanto da sustentabilidade financeira como da pressão social ou estatal.
É difícil prever o futuro a longo prazo das mídias que cobrimos no relatório e se pequenas organizações de mídia podem ter impacto suficiente para reverter a percepção pública da mídia. No entanto, sua existência é um exemplo que contraria as atitudes negativas em relação à mídia em suas comunidades.
Para saber mais, confira o relatório Bridging the Gap na íntegra, escrito por Anya Schiffrin, Beatrice Santa-Wood, Susanna De Martino, Ellen Hume e Nicole Pope. O relatório inclui resultados qualitativos e quantitativos relacionados à pesquisa, bem como revisões de literatura sobre a confiança na mídia e literacia mediática.
Imagem sob licença CC no Flickr via Joe the Goat Farmer