Rádio trabalha para manter língua ameaçada de extinção no Quênia

Oct 6, 2022 em Jornalismo multimídia
Radio station controls.

A pouco mais de 300 quilômetros a oeste de Nairóbi, capital do Quênia, nas margens do Lago Vitória, você vai encontrar a Suba ou Abasuba, uma pequena comunidade queniana que fala olusuba. Eles vivem na região ocupada predominantemente pela comunidade Nilotic Luo, cujo idioma principal é o dholuo.

A assimilação da comunidade Suba à cultura Luo contribuiu para o desaparecimento gradual de sua língua nativa, explica Arphaxad Mugambwa, presidente e ancião da Associação Comunitária Abasuba. O idioma é considerado hoje uma das 300 línguas na África ameaçadas de extinção, de acordo com o Atlas da UNESCO de Línguas em Perigo de Extinção

"Atualmente temos menos de 10.000 pessoas que falam olusuba fluentemente de uma população total de 158.000 pessoas do povo Suba", diz Mugambwa. Os subas remanescentes que ainda falam olusuba vivem na Ilha Mfangano, ao sul do Lago Vitória.

O surgimento da religião moderna e da educação formal na região fez com que o povo Suba usasse o dholuo, explica o ancião suba Ochieng Omollo, de 74 anos. Bíblias eram escritas em dholuo e a educação também era feita no mesmo idioma. "Quando os colonizadores chegaram, os Luos eram a maioria aqui e [os colonizadores] contrataram intérpretes da comunidade Luo. Isso forçou nosso povo a aprender dholuo para facilitar a comunicação", diz Omollo. "Nossa identidade está ameaçada porque a maioria das pessoas nascidas a partir dos anos 1980 não sabe falar olusuba." 

Para evitar a perda de mais uma língua africana, e na esperança de preservar a rica cultura e história do povo Suba, um grupo de jornalistas quenianos fundou a Rádio Ekialo Kiona Suba Youth (EK-FM) em 2009. A EK-FM transmite programas em olusuba sobre saúde, mudança climática, agricultura sustentável, pesca, empoderamento jovem e cultura Suba.

Salvando uma língua em estado terminal

"Nós levamos três anos para conseguir fazer a rádio funcionar", diz Richard Magerenge, fundador e diretor da EK-FM, observando que os recursos limitados provocaram o atraso no lançamento. A ajuda de uma equipe de estudantes universitários da Escola de Design da Universidade da Pensilvânia e um subsídio do Google os ajudaram a finalizar o projeto. Hoje, a EK-FM é comandada por uma equipe de 10 apresentadores e produtores voluntários.

Os Subas estão rastreando as origens de sua cultura graças à iniciativa. "Essa rádio está mudando as coisas para melhor. Muitas pessoas estão começando a assumir e abraçar a cultura Suba", diz Magerenge. "Os jovens, principalmente, estão achando interessante aprender [sobre] a língua olusuba do mesmo jeito que estariam animados de aprender uma língua estrangeira como francês ou alemão."

Engajando o público jovem

A EK-FM tem uma iniciativa de desenvolvimento jovem que orienta estudantes do ensino médio na criação de programas de rádio e apresentação de matérias em olusuba. "A geração mais jovem é fundamental para o sucesso desse projeto porque o futuro pertence a ela. Se nós conseguirmos fazer com que os jovens falem olusuba, então podemos ter certeza que o futuro do nosso idioma está assegurado", diz Magerenge.

A EK-FM também toca música Suba e realiza debates com anciões Suba como uma forma de ressuscitar o idioma em extinção. "Sempre fazemos transmissões que guiam nossa audiência por práticas culturais Suba como casamento, circuncisão e linguagem", diz  Nancy Sungu, apresentadora na rádio. 

A geração mais jovem parece estar mais interessada em aprender a língua olusuba e a cultura Suba do que a geração mais velha, observa Sungu. "Com os nossos programas, as gerações mais jovens estão se identificando mais como Suba em comparação com a geração mais velha, que se identifica como Luo." 

Os anciões da comunidade também comandam aulas de olusuba que ajudam os apresentadores a desenvolverem vocabulário para usar nas transmissões. Os apresentadores da EK-FM também entrevistam membros da comunidade sobre tradições e história Suba.

Unindo a comunidade

A rádio funciona como um vínculo de unidade, diz o coordenador de rádio comunitária Samwel Karan. "Essa é a voz da comunidade. A rádio oferece uma plataforma [para] mobilizar a comunidade Suba na direção de um determinado caminho sempre que [a] necessidade surge", diz.

No momento, a rádio está coletando informações para usar no desenvolvimento de um dicionário online trilíngue olusuba-dholuo-inglês para as futuras gerações.  

O objetivo para a próxima década? Que a comunidade Suba use o olusuba como seu idioma principal, diz Karan.


Foto por Jacob Hodgson via Unsplash.