"Em caso de terremoto, proteja a sua cabeça. Em caso de terremoto, vá para debaixo da mesa. Em caso de terremoto, evite o vidro. Em caso de terremoto, busque um lugar aberto."
Esta é a letra de uma música tocada durante uma transmissão da rádio Lintas Merapi com o objetivo de educar a audiência infantil da emissora sobre mitigação de desastres. A rádio comunitária normalmente transmite informação sobre desastres através de músicas e histórias em um esforço para falar de um conteúdo tão pesado de um jeito mais leve.
A rádio Lintas Merapi funciona no povoado de Deles, na província de Yogyakarta. Deles fica a apenas quatro quilômetros do pico de 3.000 metros do Monte Merapi, o vulcão mais ativo da Indonésia. No início de novembro de 2020, o governo declarou que o Merapi está em "siaga", modo de espera em indonésio; houve um aumento significativo na atividade vulcânica, mas até o momento não há ameaça direta à população nos arredores.
Acreditando que uma erupção do vulcão poderia afetar o povoado a qualquer momento, Sukiman Mochtar Pratomo e vários voluntários de desastres fundaram em 2002 a rádio Lintas Merapi. Ele e seus colegas queriam equipar a comunidade com informação crucial sobre como reagir a desastres, principalmente tendo em vista que as pessoas que vivem nas encostas e ao redor delas são normalmente as últimas a receberem informação sobre a atividade do Monte Merapi.
De acordo com a Agência Nacional de Gestão de Desastres, milhares de moradores de 12 povoados vivem no entorno das encostas do Monte Merapi. Evacuar a área não é uma opção para as pessoas que vivem há gerações nessas áreas suscetíveis ao desastre. "A rádio se tornou a primeira opção [em 2022] porque, na época, a maioria dos moradores só tinha rádio", diz Pratomo, que hoje é o coordenador da rádio.
Desde a fundação da rádio Lintas Merapi, Pratomo cobre as últimas atividades do Monte Merapi de casa. Ele começou a usar canais como o Twitter e o WhatsApp para alcançar uma audiência maior e expandiu seus parceiros para incluir funcionários do Observatório do Monte Merapi, da Agência de Gestão de Desastres de Yogyakarta e voluntários de outras regiões.
"A lição a partir da nossa experiência é que a redução do risco de desastres é mais importante do que a gestão do desastre. O funcionamento da rádio é uma das nossas maneiras de reduzir o risco de desastre", diz Pratomo. A rádio Lintas Merapi agora é administrada por 30 pessoas que operam a emissora, realizam capacitação em desastres e no cultivo de café e implementam programas de prevenção de desastres para as comunidades próximas.
"Pelo telefone, os moradores podem [ligar para a rádio e] falar sobre suas experiências no que diz respeito ao Merapi. É também um jeito de nós nos aproximarmos dos ouvintes e aprendermos uns com os outros", diz Pratomo.
O morador Mumuk Wardi Wiyono, cuja casa está a apenas quatro quilômetros do pico do Monte Merapi, é um ouvinte leal da rádio Lintas Merapi há anos. A emissora é sua principal fonte de informação sobre o vulcão. "A rádio me informa rapidamente sobre a situação atual do Merapi e como eu devo agir. É muito útil pra mim", diz Wiyono.
Engajamento da comunidade
A rádio Lintas Merapi atende os interesses dos moradores a fim de construir uma relação de mais proximidade entre eles. "Como a maioria da população trabalha como agricultores, nós também falamos muito sobre agricultura, principalmente o cultivo de café", diz Pratomo.
O ouvinte e agricultor Sriyanto diz que as transmissões da rádio se tornaram um ponto de referência para ele em assuntos que vão de informações sobre desastres à agricultura. "Pra mim, essa rádio é um meio de informação e de entretenimento. O conteúdo dela é muito próximo da minha vida cotidiana", diz.
Além de oferecer atualizações sobre o vulcão mais ativo da Indonésia e servir como uma fonte para os agricultores, a rádio Lintas Merapi também toca música relaxante para seus ouvintes. "Eu gosto de ouvir músicas javanesas todas as tardes enquanto estou descansando. Dá uma paz", diz Wiyono.
Empoderamento econômico
A rádio ainda engaja os ouvintes ajudando-os a ter independência econômica em caso de emergência. A equipe da emissora, por exemplo, ajuda os moradores a preparar fundos de prevenção a desastres que são geridos coletivamente. Se um desastre acontecer, os moradores podem usar os recursos para arcar com suas necessidades caso, por exemplo, eles tenham que se deslocar para abrigos de refugiados.
Pratomo acredita que equipar os moradores com mais informação sobre o Monte Merapi vai ajudá-los a se tornarem mais conscientes sobre como reagir caso ele entre em erupção. Um dos resultados disso é que os moradores agora levam em consideração todos os aspectos da mitigação de desastres em qualquer desenvolvimento feito ao redor do Merapi e já são capazes de evacuar a área por conta própria sem depender de ajuda do governo.
"No futuro, a rádio vai continuar sendo o centro da educação em mitigação de desastres para nós", diz Patromo. "Quando o Merapi estiver em uma condição segura, a mitigação vai nos levar ao fortalecimento econômico, educação sobre desastres e preservação cultural."
Foto por Arif Riyanto no Unsplash.
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