Por que a representatividade no jornalismo deve ser uma prioridade?

May 25, 2021 em Diversidade e Inclusão
pessoas em uma reunião de escritório

Já faz mais de um ano desde que o assassinato de George Floyd provocou protestos no mundo todo contra a brutalidade policial e justiça racial. Com o foco em questões de racismo estrutural, discussões sobre como melhorar a diversidade e inclusão no ambiente de trabalho se tornaram centrais em muitas áreas, incluindo a mídia. Para muitos jornalistas não brancos, isso tem significado buscar apoio adicional em suas redações, assim como enfrentar desafios adicionais que surgem ao se cobrir a própria comunidade.

No painel online "Como o jornalismo pode avançar a diversidade e inclusão em 2021", organizado pela IJNet e o Media Diversity Institute, especialistas ofereceram perspectivas críticas sobre por que a representatividade no jornalismo deve continuar sendo uma prioridade nos dias de hoje.

O evento virtual teve a participação de Krissah Thompson, editora de diversidade e inclusão do Washington Post; Darshna Soni, correspondente do Channel 4 no Reino Unido; e Selymar Colón, presidente e editora-chefe do Frame ONE Strategies e cofundadora do Diversifying Journalism. Elas abordaram esses desafios em uma conversa focada em soluções comandada por Gary Younge, ex-correspondente do The Guardian nos Estados Unidos, autor premiado, locutor e professor de sociologia na Universidade de Manchester, na Inglaterra.

 

Assegure a sustentabilidade dos esforços de diversidade e inclusão

Durante a discussão, Younge enfatizou a diferença entre um momento de oportunidade e um momento de oportunismo. Os painelistas sugeriram que as redações criem cargos permanentes como uma solução para assegurar a sustentabilidade dos esforços de diversidade e inclusão.

Thopmson observou a importância da "diversidade cognitiva" na redação. Simplesmente contratar pessoas com origens diversas não é o bastante — as redações precisam se empenhar para apoiar a geração de novas ideias e formas de pensar também. Isso significa incluir pessoas que têm aparência e pensamento diferentes, e se certificar de que as ideias delas são amparadas.

"Não é só sobre ter diversidade na sua redação, ou equipes diversas. É onde elas estão", observou Colón. "Nós temos diversidade de vozes. Nós temos o que chamam de 'diversidade em nível profundo', mas onde estão essas pessoas? Elas são ouvidas? Elas têm voz?  Elas são empoderadas para tomar decisões ou têm o apoio da liderança?"

Reconheça que todas as pessoas têm um papel

Os painelistas também discutiram como, sem apoio, jornalistas não brancos podem vivenciar burn-out por terem que repetidamente levantar e validar questões de raça.

"Em todo o meu tempo como jornalista, essas coisas vêm em ondas e às vezes fica na moda falar sobre raça", disse Soni. "Às vezes os editores querem ter um comentarista negro se há um protesto em algum lugar ou um assassinato ou se algo aconteceu... Mas aquilo vai morrer e em poucos meses será esquecido. E você sente como se a cada vez que há um novo evento, você precisa começar tudo outra vez."

Frequentemente é deixado para os jornalistas não brancos o ônus de levantar essas questões e de manter o foco nelas após a atenção inicial diminuir.

"A impressão é de que no último ano o debate mudou... Eu acho que dessa vez houve uma tomada de consciência por causa do Black Lives Matter que não depende só de pessoas negras ou asiáticas levantarem sempre essas questões e sempre estar dizendo porque deveríamos estar fazendo algo a respeito. Eu acho que tem havido uma percepção de que as pessoas brancas têm uma responsabilidade também", avalia Soni.

Defina seus interesses e saiba quem são seus aliados

Os painelistas debateram como as redações têm historicamente classificado jornalistas não brancos exclusivamente como especializados em escrever sobre raça e ofereceram conselhos para conter essa prática.

Younge encorajou os jovens jornalistas a escreverem sobre os assuntos que eles gostam e conhecem — e as redações devem ter espaço para isso. "Você vai continuar sendo negro, você continuar sendo uma pessoa não branca. Você vai continuar trazendo sua história", ele diz. "Mas todas aquelas frases como 'você vai ser categorizado' são sempre sobre outra pessoa fazendo isso com você. Você realmente quer poder definir a si mesmo e construir seus próprios interesses, porque é isso o que você faz melhor."

Thompson destacou como jornalistas não brancos podem contribuir com seu talento e experiência. "Eu sinto que aumentou a valorização à expertise de jornalistas que conseguem escrever sobre raça e identidade", ela observa. "O que eu realmente tenho tentado apoiar é mostrar que quando você consegue escrever sobre questões [culturais] de um jeito sofisticado e quando você consegue fornecer às pessoas insights que eles não tinham sobre esses assuntos, isso é valorizado."

Colón acrescenta que quando não há apoio dentro de uma empresa, é importante estar preparado e saber quem são seus aliados ao levantar questões.

"Se você quer provocar mudança e não está em posição de liderança, prepare-se. Tenha todo o conhecimento necessário, todos os fatos e traga soluções", ela diz. "Nem sempre nós precisamos trazer uma grande solução. Às vezes podemos começar aos poucos e fazer em fases."

Aja agora

Avançando na conversa, os painelistas enfatizaram a importância de agir hoje.

"Estimule o talento. Encoraje pessoas jovens, inclua-as, mostre a elas como podem ter progresso em suas carreiras, porque na maioria das vezes você pode", diz Soni. "Eu sinto que hoje as pessoas estão conseguindo empregos de nível iniciante muito baixo, mas não há uma trajetória nítida para elas. Conheço muitas pessoas brancas que começaram no comando da produção e não eram apresentadoras ou correspondentes. Não vi o mesmo acontecer com pessoas não brancas."

Para Thompson, o momento de provocar uma mudança significativa é agora. "Acho que estamos em um estágio em termos de diversificação das redações no qual simplesmente precisamos fazer isso", ela diz. "O talento está aí. Não acho que precisamos conversar muito mais sobre isso. Acho que só precisamos de olhar seriamente para nossas práticas."


Chanté Russell é assistente de programas no International Center for Journalists.

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