Em uma era de desinformação e incerteza desenfreada para jornalistas e seus públicos, o jornalismo ético desempenha um papel fundamental em ajudar a criar estruturas efetivas na redação e processos de reportagem. Pode abordar alguns dos desafios mais urgentes que as redações enfrentam enquanto lutam para estabelecer a confiança dos cidadãos.
No 10º Fórum de Jornalismo Investigativo promovido pelos Repórteres Árabes para Jornalistas Investigativos (ARIJ, em inglês), os palestrantes discutiram o poder do jornalismo ético ao examinar os resultados da “auditoria ética” da 7iber, uma revista online na Jordânia premiada pela Rede de Jornalismo Ético (EJN, em inglês).
O diretor de campanhas e comunicação da EJN, Tom Law, e a editora cofundadora e executiva da 7iber, Lina Ejeilat, destacaram as lições aprendidas com o processo e compartilharam insights sobre o papel da ética do jornalismo na criação de estruturas de governança da redação, fortalecendo a reportagem e criando confiança.
O que é uma auditoria ética?
A palavra “auditoria” dá a impressão de uma avaliação externa e separada. No entanto, Ejeilat disse que esse termo “não faz justiça ao processo”. A auditoria não foi algo a parte, mas facilitou uma conversa aberta entre a administração e a equipe da 7iber que examinou como seu trabalho e processos se alinhavam à missão e ao valores fundamentais da organização.
A auditoria da EJN abrangeu as funções de redação da 7iber, seus resultados editoriais e a responsabilidade interna. Revelou processos ou tendências anteriormente ocultos que incentivaram a administração da 7iber a reavaliar suas práticas editoriais.
Por exemplo, Ejeilat ficou surpresa ao descobrir que apenas 38% do conteúdo da produção era produzido por mulheres: uma descoberta que contrastava com a missão progressiva e inclusiva da organização.
Além de facilitar o auto-exame, a auditoria ajudou a liderança da 7iber a examinar sua estrutura e políticas de governança. As mudanças nos recursos humanos (incluindo a preparação de contratos e a criação de segurança no emprego para os funcionários) podem ajudar a criar o espaço necessário para fomentar o jornalismo ético e de alta qualidade.
"Quando os jornalistas se sentem seguros, eles têm mais independência e podem fazer um jornalismo melhor", disse Ejeilat.
A disposição da liderança da redação de participar neste auto-exame é fundamental para o sucesso da auditoria, segundo Law. A auditoria ética foi construída a partir de uma conversa existente com a liderança da 7iber, que demonstrou seu forte compromisso de agir com base nos resultados e fazer as mudanças editoriais e estruturais necessárias.
O que isso significa para o público?
Tanto Law quanto Ejeilat enfatizaram o valor de engajar audiências em conversas sobre a ética do jornalismo. Ganhar a confiança do público está entre os desafios mais comuns no panorama atual da mídia. Ao compartilhar esforços para melhorar suas práticas éticas, as redações podem fortalecer a confiança em seu trabalho jornalístico.
"Temos que ir muito além para provar ao nosso público por que devemos ser confiáveis", disse Law. "Para nos diferenciamos de toda a bagunça que está acontecendo online por causa de nossos valores, não apenas em nossa política editorial, mas em todas as partes de nossa estrutura e governança."
Para fazer isso, gerentes de redação e jornalistas precisam fazer um esforço consistente para envolver seu público. Ejeilat reconheceu que isso pode não agradar a todos os públicos, mas é crucial para a construção de um núcleo de seguidores leais. Ela compartilhou um exemplo de uma recente reportagem investigativa publicada pela 7iber sobre a deportação de refugiados sudaneses da Jordânia. Depois que a matéria foi publicada, a 7iber organizou uma conversa sobre o artigo no Facebook Live. Embora o público fosse pequeno, a iniciativa demonstrou claramente uma relação próxima entre a 7iber e um público comprometido.
Mudando o pensamento
Para Ejeilat, esse tipo de envolvimento com o público requer uma mudança fundamental no pensamento sobre como os jornalistas fazem seu trabalho. "Os jornalistas estão programados para informar sem compartilhar muito sobre o que estão fazendo", disse ela. Mas há valor em incentivá-los a documentar e compartilhar seus processos com seu público.
Além de criar confiança, a auditoria envolve o público diretamente no processo de reportagem. Law compartilhou o exemplo de David Fahrenthold, um jornalista do Washington Post que documentou e compartilhou seu processo de coleta de informações diretamente com o público. Simplesmente publicando fotos de seu caderno nas redes sociais, ele conseguiu melhorar a transparência de suas reportagens ao mesmo tempo em que adicionava uma nova camada à sua narrativa.
A falta de transparência, combinada com práticas antiéticas, pode causar danos irreparáveis. News of the World, um tablóide do Reino Unido, fechou depois que foi revelado que seus jornalistas estavam hackeando telefones de celebridades e vítimas de crimes, disse Law. O escândalo do hacking de telefones foi reflexo de uma falha de governança sistêmica no News of the World, que pressionou seus jornalistas a agir de forma não ética no interesse de produzir matérias.
A lição? Quando as organizações noticiosas se concentram apenas no dia-a-dia e negligenciam investir apropriadamente em estruturas de governança ética, elas arriscam sua sobrevivência a longo prazo.
Imagem sob licença CC no Unsplash via Dose Media