Há um padrão de recusa de vistos a jornalistas e estudantes africanos que viajam para o exterior. Discriminação, falta de respeito, dois pesos e duas medidas e controles migratórios excessivos estão entre os fatores apresentados pelos convidados de um evento online realizado pelo Fórum de Reportagem de Crises Globais do ICFJ em francês.
Para discutir os problemas com que se deparam jornalistas africanos em pedidos de vistos, o gestor de comunidade do ICFJ Kossi Balao recebeu Virgile Ahissou, jornalista multimídia e ex-correspondente da Agence France-Presse; Mathieu Piché, professor da Universidade do Quebec; e Michael Pauron, cocoordenador do conselho editorial do Afrique XXI.
Dois pesos, duas medidas
Várias razões costumam ser apresentadas quando vistos para jornalistas são negados, disse Ahissou. Isso inclui alegações de que a informação fornecida pelo solicitante do visto para justificar sua viagem está incompleta. Mesmo depois de ter o visto concedido, jornalistas africanos estão sujeitos a mais medidas de controle de passaporte que muitas vezes podem ser discriminatórias. "São atribulações que nos deixam desconfortáveis. Como jornalistas, frequentemente não temos o respeito que merecemos", disse Ahissou.
Ele destacou como o controle de passaporte para africanos em aeroportos ocidentais difere da experiência de pessoas com passaportes europeus ou dos Estados Unidos. "Estamos sujeitos a verificações sem fim", disse. "Quando um africano solicita um visto, pressupõe-se que ele está querendo imigrar e quer deixar seu próprio país. A suspeita acompanha o processo."
Piché observou que estudantes africanos têm taxas mais altas de vistos negados.
"É um fato documentado", disse. "Enquanto essa injustiça persistir, temos que seguir questionando. As autoridades têm que explicar se há uma questão sistêmica em jogo." Piché acrescentou que algumas agências em países africanos que prestam assistência a estudantes com pedidos de visto usam métodos questionáveis, o que também pode influenciar as negativas de visto.
Estudantes se deparam com uma situação paradoxal que é "absolutamente incoerente", continuou Piché. Ele explicou que os estudantes inicialmente têm que demonstrar sua intenção de retornar ao seu país de origem quando solicitam um visto, principalmente devido à escassez de mão de obra em muitos deles. Porém, eles podem receber ofertas de trabalho depois de completar seus estudos no país para onde vão viajar. Isso impacta negativamente futuras solicitações de visto de estudantes africanos, levando a mais vistos negados.
"Obviamente, há discriminação contra os países africanos", disse, chamando atenção para as injustiças enfrentadas por solicitantes africanos quando comparados com seus pares ocidentais.
O negócio dos vistos
Os problemas de vistos enfrentados por solicitantes africanos se tornaram um negócio lucrativo, disse Pauron. Usando a França como um exemplo, ele citou o aumento dos custos de solicitação de vistos e matrículas em universidades como um exemplo.
"Há uma intenção clara da parte da França de basear o processo de seleção no custo do visto", disse Pauron. "Mesmo com a melhor das intenções, tenho a impressão de que automaticamente vão suspeitar que um solicitante africano tem interesses ocultos ou alimenta intenções negativas em relação à imigração."
Também é quase impossível recorrer quando autoridades francesas rejeitam um visto, explicou Pauron. O processo de visto é parecido com uma loteria, disse. "Às vezes há uma certa falta de compreensão."
As autoridades francesas precisam operar seus processos de visto de forma mais transparente, principalmente quando se trata de informar os critérios para solicitações bem-sucedidas, disse Pauron. "Sem dúvida, há a necessidade de melhorar da parte da França." Ele acrescentou que uma ação coletiva dos solicitantes de visto poderia ajudar a gerar uma mudança.
Foto Anete Lūsiņa via Unsplash.
Este artigo foi publicado originalmente no site da IJNet em francês.