Os podcasts estão em ascensão na África atualmente. Uma pesquisa sul-africana, por exemplo, identificou um salto dos ouvintes de 22% em 2019 para 48% em 2022 em meio a populações de áreas metropolitanas do país. A popularidade inclusive fez surgir um festival anual, o Africa Podcast Day.
Os podcasts africanos também estão sendo aplamente aclamados. Seja I said what I said, que discute a experiência de millennials africanos, ou Sincerely Accra, que aborda a vida urbana na capital de Gana, os podcasts estão atraindo audiências não só de países africanos como também internacionalmente.
Uma iniciativa tem sido especialmente fundamental para colocar os podcasters africanos no mapa: Afripods, plataforma gratuita de hospedagem de podcasts com sede em Nairóbi, no Quênia. Criada em 2017, a Afripods se tornou um ponto central onde podcasters e ouvintes podem acessar uma seleção ampla de conteúdo pan-africano. As categorias vão de comédia a true crime e os podcasts estão disponíveis em até 50 idiomas, incluindo xhosa, quicuio e iorubá.
Embora os gigantes do mercado de podcasts como Spotify e Apple ainda estejam na liderança, um estudo de 2022 mostrou que a Afripods está entre os aplicativos para podcasts mais usados na África. A plataforma tem o objetivo final de criar o maior acervo de histórias africanas em áudio como parte de um movimento mais amplo de podcasts que ajudam as vozes africanas a serem ouvidas.
Foco na comunidade
A necessidade e desejo por conteúdo africano feito em casa sempre esteve presente, e Molly Jensen, CEO da Afripods, reconheceu isso desde o começo da criação da plataforma.
"Nós vimos que os produtores de podcast na África estavam buscando se conectar com criativos com pensamento semelhante e criamos iniciativas de comunidade para conectá-los", diz. "Vimos que os ouvintes tinham dificuldades para encontrar conteúdo africano, por isso separamos os podcasts por idioma e país para facilitar a descoberta."
Como a Afripods é majoritariamente uma plataforma de hospedagem, ela prioriza a necessidade dos criadores promovendo os podcasts nas redes sociais e em eventos ao vivo. A plataforma ainda compartilha com a rede as estatísticas mais recentes sobre o setor.
Nas redes sociais, a Afripods destaca com frequência podcasts em uma gama ampla de categorias. Recentemente, a plataforma deu destaque ao podcast queniano "In my feelings", que fala sobre saúde mental, e o podcast ganense Free your mind, que se aprofunda na sociedade de Gana.
A Afripods também se dedica a formar uma rede e uma comunidade de podcasters africanos, principalmente por meio do #AfropodsMeets, que usa Instagram Lives, Twitter Spaces e painéis ao vivo para se engajar com seus criadores.
"Os podcasts são algo único e a experiência de ser um podcaster pode fazer com que você se sinta isolada quando as pessoas ao seu redor não entendem o que você faz", diz Gathoni Ngumba, gestora de comunidade da Afripods. "Esses espaços permitem que os criadores de podcast compartilhem coisas como o melhor equipamento a ser usado, ou ter com quem comemorar os primeiros 100 downloads. Isso é importante para novos podcasters."
Potencial dos podcasts
Anunciar por meio de podcasts oferece um potencial para assegurar a sustentabilidade dos podcasts africanos, acredita Jensen. "Muitas agências de publicidade aqui na África têm uma porcentagem discricionária para gastar anualmente com novas mídias, incluindo podcasts, e isso pode ser usado como uma ferramenta para ter acesso a audiências únicas e altamente segmentadas", explica.
Isso tem o potencial para inspirar uma relação mutuamente benéfica na qual anunciantes entram nos mercados pela África e em troca os podcasts têm um impulso no alcance e lucro.
"Eu acredito que os anunciantes estão em busca de novas formas de engajar com as pessoas e de desenvolver laços fortes com comunidades por meio de novas formas, e veremos os podcasts sendo usados como um veículo para tanto", diz Jensen.
Estágio inicial
As barreiras aos podcasts persistem no continente, principalmente em relação à acessibilidade da mídia e viabilidade.
"Alguns dos desafios dos podcasts no continente incluem acesso a estúdios, custo de produção, acesso a editores, materiais, comunidade e educação para aprender sobre podcasts e a capacidade de ser pago pelo conteúdo produzido", diz Jensen.
Como o mercado de podcasts está em um estágio inicial na África, há espaço para muita lucratividade. Investidores estão cada vez mais observando novas mídias no continente pela sua rentabilidade, o que pode funcionar a favor dos podcasts.
A Afripods já está expandindo seu alcance em países que podem não ter tanta visibilidade na indústria, como Uganda e Zâmbia. Jensen também está ávida para ver mais pesquisa de mercado em outras partes da África.
"Acredito que com a disponibilização de pesquisas sobre podcats em mais regiões e com o crescimento do ecossistema, vamos aprender mais sobre como a produção de podcasts se desenvolveu em outros países", diz Jensen. "Pessoalmente, estou bem animada para saber mais sobre o mercado francófono e espero ver crescimento significativo na região."
Ngumba está ansiosa para ver o desenvolvimento de comunidades no mercado africano de podcasts. O último evento virtual da Afripods focou no Egito e há mais eventos para acontecer.
"Temos mais cinco encontros de países planejados para este ano. No mês que vem vamos estar em Ruanda. Também teremos no Malauí, Serra Leoa, Sudão do Sul e Senegal. Estou muito animada para saber como é a produção de podcasts em cada um desses países", diz Ngumba.
Foto por Akinggraphics via Iwaria.