Os jornalistas paquistaneses enfrentam atualmente uma gama variada de riscos à segurança devido à natureza de seu trabalho. Eles têm que lidar com ameaças de morte, raptos, ataques, violência e intimidação. Entre 2002 e 2022, 90 jornalistas foram mortos no país, incluindo cinco somente no ano passado, de acordo com um relatório da UNESCO.
Consequentemente, a cultura de medo e autocensura se tornou arraigada, limitando a cobertura de questões críticas, como violações aos direitos humanos, corrupção e repressão política.
O estado ruim da liberdade de imprensa no Paquistão traz a necessidade urgente de ação para proteger e promover o trabalho de jornalistas e ativistas da sociedade civil. A seguir estão amostras dos riscos que os jornalistas paquistaneses enfrentam.
Ataques contra jornalistas
Apesar das garantias de liberdade de expressão e de imprensa na constituição do Paquistão, barreiras legais e institucionais frequentemente impedem que jornalistas realizem suas funções.
De acordo com o Artigo 19 da Constituição, a liberdade de imprensa está "sujeita a restrições razoáveis impostas pela lei" em razão de segurança nacional, defesa ou religião. Interpretações do artigo levaram a limitações à liberdade de imprensa devido a ofensas à decência, moralidade ou à religião oficial, o Islã.
Enquanto isso, raptos, ataques, assédio, prisões arbitrárias e até mesmo assassinatos de jornalistas estão aumentando. Autoridades paquistanesas também aumentaram a pressão sobre editores e proprietários de mídia para silenciar vozes críticas ao governo.
Em outubro de 2022, o jornalista Arshad Sharif, de 49 anos, que fazia reportagens críticas ao governo paquistanês, foi baleado e morto pela política em Nairóbi no que a polícia chamou de um caso de "erro de identificação". Mas investigadores paquistaneses determinaram que foi um "assassinato planejado". Sharif vivia no exílio depois de fugir do país para evitar ser preso por acusação de sedição. A família dele alega que o governo esteve envolvido no assassinato.
Em abril de 2023, Akash Ram, diretor de marketing do Bol Media Group, foi sequestrado e ainda permanece em cativeiro. Como ele é membro da comunidade hindu paquistanesa, seu sequestro provocou preocupações sobre o tratamento de minorias pelo país.
Esses ataques impedem o acesso a informações críticas para o público paquistanês, já que os jornalistas cada vez mais autocensuram suas reportagens. Essa realidade é significativa principalmente durante a atual crise política e econômica, sobre a qual informações confiáveis são essenciais para o público.
Consequências para os jornalistas
Jornalistas de diferentes veículos e regiões no Paquistão, como Islamabad, Peshawar, Karachi, Hyderabad e Lahore, expressaram como a falta de liberdade de imprensa impacta seu trabalho.
Por exemplo, quando cobria um bombardeio em Landi Kotal que matou 26 pessoas, Muhammad Qasim, repórter sênior no jornal Ummat na província de Khyber Pakhtunkhwa, decidiu que não mencionaria o grupo suspeito por trás do ataque por medo de retaliações. Porém, apesar de suas objeções, a equipe editorial de Qasim publicou a matéria com manchetes chamativas que davam nome ao grupo.
"As consequências desses atos foram rápidas e atemorizantes. Eu me tornei um alvo constante de ameaças de organizações que escolhi não nomear. Busquei refúgio dentro do meu escritório, temendo pela minha segurança", diz. "Minha vida foi alterada profundamente por uma única manchete manipulada."
Assédio, violência e ameaças constantes são preocupações frequentes dos jornalistas no Baluquistão, explica o jornalista de TV Abdullah Magsi. "Eu vi em primeira mão as dificuldades e perigos que os jornalistas enfrentam no Baluquistão na busca pela liberdade de imprensa", diz. "Nossa província se caracteriza por uma situação de segurança complexa, dinâmicas tribais e influências religiosas que frequentemente impedem o trabalho jornalístico. A falta de apoio institucional exacerba a situação."
Ele acrescenta que é necessário mais suporte e colaboração em diversos setores para proteger os jornalistas. "É crítico que a mídia, a sociedade civil e o governo trabalhem juntos para tratar os desafios que os jornalistas enfrentam no Baluquistão."
Jornalistas dizem que os riscos à sua segurança física estão ditando o que eles escolhem cobrir. "É uma batalha sem fim contra o medo e a intimidação", diz Imran Bhinder, jornalista da Dawn News, na província de Punjab. "Pela minha própria segurança e da minha família, eu tomei a difícil decisão de me abster de cobrir questões controversas como política, crime, corrupção e outros assuntos sensíveis."
O jornalista Rauf Chandio, radicado em Hyderabad, acrescenta que os veículos priorizam interesses comerciais e frequentemente funcionam sob a influência estatal, limitando sua habilidade de informar livremente. "O estado do monopólio de mídia limita a independência dos jornalistas e impede a busca pela reportagem objetiva", diz.
No entanto, jornalistas permanecem dedicados ao seu trabalho, apesar dos riscos. "O temor pela segurança da minha família consome meus pensamentos, mais isso não me detém", diz Lala Mirza, jornalista da província de Sindh. "Aziz Memon e Arshad Sharif, por exemplo, pagaram o preço mais alto por falarem. O sacrifício deles serve como um lembrete dos perigos que enfrentamos", diz a jornalista, se referindo aos dois jornalistas de destaque mortos por causa de seu trabalho nos últimos anos.
Chamado urgente à ação
A falta de vontade política no Paquistão para tratar da segurança dos jornalistas e os esforços insuficientes do governo para melhorar a liberdade de imprensa significam que os jornalistas provavelmente vão continuar lutando contra as consequências da deterioração da liberdade de imprensa no futuro.
Mas jornalistas e ativistas têm recomendações sobre como a situação pode melhorar. "Uma comissão de juízes imparciais deve responder rapidamente aos ataques contra jornalistas e proteger os direitos deles", sugere Mirza. "Precisamos de um ambiente seguro para o jornalismo prosperar e para que aqueles que estão no poder prestem contas."
A sociedade civil também tem um papel a desempenhar, diz Haseen Musarat, ativista social de Sindh. "Sou inflexível quanto à importância da sociedade civil na preservação da liberdade de imprensa", diz. "É crítico que trabalhemos para defender a liberdade de imprensa genuína e para criar um ambiente no qual jornalistas possam trabalhar sem medo ou influência indevida.
As perspectivas para a melhora da liberdade de imprensa no Paquistão dependem de esforços combinados do governo, sociedade civil, organizações de mídia e dos próprios jornalistas. Somente assim a mídia paquistanesa vai refletir verdadeiramente as aspirações democráticas do país e ser capaz de dar aos cidadãos a informação confiável que precisam.
Foto por Hamid Roshaan via Unsplash.