Os muitos caminhos da desinformação no Líbano

Dec 4, 2023 em Combate à desinformação
Des façades colorées à Beyrouth

Seja no WhatsApp, Facebook, X (antigo Twitter), Instagram, TikTok ou sites de notícias, as pessoas no Líbano estão cada vez mais consumindo informação online. Mas com muitas formas de se informar, há um risco aumentado de se deparar com notícias não verificadas e informação falsa.

A desinformação relacionada a refugiados sírios, que recentemente foram alvo de uma intensa campanha de ódio, se tornou especialmente notável. Em abril, por exemplo, uma imagem que mostrava uma carteira de identidade policial supostamente emitida para um homem de origem síria circulou amplamente, fazendo surgir comentários racistas online. Um software usado para detectar imagens adulteradas acabou provando que o documento era falso.

"Era uma carteira falsa criada graças a um software de alteração de fotos", diz Ghadir Hamadi, cofundador do Sawab, uma plataforma financiada pelo Programa de Desenvolvimento da ONU especializada na luta contra a desinformação no Líbano. "Há muita informação falsa que afeta grupos marginalizados na sociedade libanesa, incluindo refugiados sírios."

Criado por seis jornalistas treinados em verificação de fatos e combate ao discurso de ódio, o Sawab combate informações falsas principalmente no WhatsApp. "Começamos a trabalhar com o aplicativo de mensagem porque as pessoas o utilizam bastante e encaminham notícias para seus amigos e familiares o dia inteiro. Nós criamos nosso próprio grupo no WhatsApp no qual vamos atrás de informações falsas". diz Hamadi.

 

Entre as formas mais populares de desinformação no Líbano estão matérias falsas ligadas à atual crise econômica, que começou em 2019. “Temos lidado com muitas mentiras sobre produtos que supostamente vão sair do mercado. Eu acho que essa desinformação, acima de tudo, é alimentada pelo medo”, diz Hamadi.

A política é outro tópico comum em torno do qual a desinformação se espalha no Líbano, diz Jad Shahrour, chefe de comunicação do SKeyes Center for Media and Cultural Freedom. “A sociedade libanesa é muito interessada nesse assunto”, diz. “Para cada evento político, você provavelmente vai se deparar com várias versões diferentes.”

Um estudo publicado em março pela SKEyes mostra que a desinformação no Líbano invadiu as redes sociais, veículos alternativos e fontes “convencionais” como a televisão. “Cada geração tem sua própria plataforma de mídia, mas a desinformação está em todo lugar. A geração Z está no TikTok. Os millennials estão no Facebook, Twitter e Instagram. A influência da desinformação e das notícias falsas varia de plataforma para plataforma, mas está definitivamente em todos os sites, diz Shahrour.

“Os jovens estão cientes de que você deve acessar vários canais ou consultar vários sites para realmente entender o que está acontecendo, mesmo tendo afiliações políticas específicas”, diz Shahrour. “Pessoas com 60 anos ou mais, por outro lado, não questionam automaticamente a informação que recebem.”

O estudo mostra que algumas pessoas são mais inclinadas a acreditar na desinformação disseminada por figuras locais, que são consideradas particularmente confiáveis em regiões remotas, em vez de informações publicadas por veículos de credibilidade.

Shahrour aponta como particularmente preocupante a presença online de “exércitos eletrônicos” organizados. “Eles são implementados por certos grupos políticos libaneses importantes que trabalham para incitar conflitos ligados a cultos ou manchar a reputação de seus oponentes”, diz, acrescentando que eles tendem a usar contas fictícias nas redes sociais para fazê-lo.

Aprendendo a identificar desinformação

Diante dessas manifestações multifacetadas da desinformação, o Sawab lançou cursos em escolas e universidades para equipar os estudantes com as melhores práticas para identificar desinformação.

“Nós os ensinamos a usar mecanismos de busca reversa para encontrar fotos e vídeos”, diz Hamadi. “Para uma foto, por exemplo, podemos tentar encontrar pistas de quando ou onde um evento aconteceu. O mesmo vale para um vídeo. Também podemos tentar entrar em contato com autoridades locais ou pessoas em campo para verificar a veracidade de uma informação.


Foto por Christelle Hayek via Unsplash.

Este artigo foi publicado originalmente na IJNet em francês.