Ex-jornalista da CNN, Octavia Nasr acredita que a mídia árabe está "acordando."
A IJNet conversou com a ex-correspondente no Oriente Médio sobre a ética e a influência das mídias sociais na Primavera Árabe. Na primeira parte da nossa entrevista, Nasr estressou a importância de proteger jornalistas contra os ataques na mídia social.
IJNet: Como as mídias sociais influenciaram a Primavera Árabe?
Octavia Nasr: Eu acho que a mídia social deu um grande impulso à Primavera Árabe. Forneceu as pessoas, que de outra forma não seriam ouvidas, um megafone que pôde alcançar além das fronteiras e em todos os continentes. As mídias sociais serviram como plataforma onde o ativismo prosperou, as ideias foram compartilhadas junto com notícias, atualizações e vídeos; todas as coisas que os tradicionais meios de comunicação ocidentais tinham totalmente ignorado nos anos anteriores do ativismo e [com] a mídia árabe totalmente sufocada. Os levantes não nasceram em 2010 ou 2011; eles foram gerados durante anos. A mídia social e o jornalismo cidadão os impulsionou e tornou quase impossível para a grande mídia ignorar.
IJNet: Em termos de formação, o que você acha que os jornalistas árabes precisam mais?
ON: Os jornalistas árabes precisam de treinamento sobre os conceitos básicos sobre a coleta de notícias e produção de notícias. Para começar, eles precisam de treinamento sobre o que é notícia. Agora, toda a conversa é sobre as revoltas, revoluções, despertares e outros temas quentes, mas o mundo árabe tem tantas histórias e problemas que precisam ser abordados, que vão além dos acontecimentos históricos do ano passado. O uso inteligente da tecnologia para contar histórias de maneira eficaz é outra área para os jornalistas árabes treinarem. Entender o código de ética, a sua importância, seus usos, limites e responsabilidades... determinar o que torna a região única e destacar isso, em vez de constantemente imitar os meios de comunicação ocidentais.
A arte de captação e planejamento de notícias é outra área que requer atenção especial. Finalmente, o poder das mídias sociais e como [elas] podem ser usadas para melhorar a missão de qualquer organização de mídia é um sonho meu que eu gostaria de ver acontecer em breve. Eu acredito fortemente (e escrevi sobre isso extensivamente) que as mídias sociais foram feitas para os árabes, mas eles ainda não as exploraram adequadamente para o máximo benefício de todos.
IJNet: Tem sido dito que os meios de comunicação tradicionais no mundo árabe perderam credibilidade, uma vez que foram os jornalistas cidadãos que deram os furos de notícia (usando a mídia social e não se restringindo pelos laços com os governos). Você concorda e, em caso afirmativo, o que precisam fazer para recuperar a confiança?
ON: Eu acho que o jornalismo cidadão está dando furo por algum tempo agora, não apenas na mídia árabe, mas na mídia ocidental também. Tudo começou com as eleições do Irã em 2009 e atingiu o seu auge no ano da Primavera Árabe e o terremoto e tsunami no Japão. Os meios de comunicação árabes são, em sua maior parte, ou estatais ou partidários, e não é difícil dar furo neles com imagens reais, verdadeiras e dramáticas.
Eu acho que todos os canais árabes não conseguiram até agora informar sobre a Primavera Árabe de forma justa e precisa. Não é nenhum segredo que as pessoas vão online para descobrir o que realmente está acontecendo na região. Mas é muito importante para os meios tradicionais e novos se unirem e encontrarem um equilíbrio a fim de servir o público de forma justa e honesta. Estamos faltando nesse elo, mas estou confiante que ele será encontrado e, quando isso acontecer, vamos ver um verdadeiro despertar na mídia árabe que será tão importante quanto o despertar histórico nas ruas que continuamos a testemunhar na região árabe.
IJNet: Qual mudança grande você acha que vai acontecer nos meios de comunicação árabes nos próximos cinco anos?
ON: A introdução de meios de comunicação verdadeiramente independentes e será revolucionário quando isso acontecer.
Você pode seguir Nasr no Twitter e ler mais sobre a jornalista no site pessoal.