O que saber para se tornar um jornalista ambiental

Nov 24, 2022 em Reportagem de meio ambiente
Wind power plants at dusk

Das consequências alarmantes da crise climática à corrupção governamental em torno de crimes ambientais e a influência do crime organizado no desmatamento de florestas, não faltam problemas para jornalistas cobrirem quando se trata do meio ambiente. Como resultado, mais e mais jornalistas hoje estão se tornando repórteres ambientais, o que antes era considerado um assunto de nicho.

Em função da Conferência do Clima da ONU de 2022, a COP27, em Sharm El Sheikh, no Egito, a IJNet e o Fórum Pamela Howard de Reportagem de Crises Globais mergulharam em dicas de reportagem e ferramentas de jornalistas que cobririam a conferência para aqueles que são novatos na editoria de meio ambiente.  

 

 

A jornalista ambiental e editora da IJNet em chinêsCrystal Chow, e Mais Katt, jornalista investigativa que cobriu crimes ambientais na Síria e é atualmente a editora para o Oriente Médio do Fórum de Jornalismo Ambiental Investigativo, discutiram o que significa cobrir a COP27, a importância da cobertura ambiental, ferramentas para reportagem ambiental, dentre outros assuntos. 

Abaixo estão destaques da conversa:

O papel dos jornalistas ambientais na COP27

Tradicionalmente, jornalistas são ensinados a não escolher um lado na hora de informar. Porém, só há um lado na crise climática, disse Chow.

"Não estou dizendo que deveríamos virar ativistas, mas eu acho que deveríamos informar sobre o assunto sob a ótica da justiça", explicou. "Eu acho que deveríamos destacar o impacto da [crise climática], destacar o que tem sido feito, mostrar algumas das soluções em potencial e criar mais empatia com as pessoas."

Durante a COP27, no Egito, jornalistas do Oriente Médio e do Norte da África desempenham um papel importante para informar sobre a conferência a audiências regionais. Mas nem todos podem estar preparados para cobrir os eventos, disse Katt. "Especialmente no Oriente Médio, muitos jornalistas não têm ou perdem a capacidade, especialmente o aspecto prático. O que estamos tentando fazer com o Fórum de Jornalismo Ambiental Investigativo é dar apoio aos jornalistas e provê-los com informações", diz Katt. 

Todo mundo deveria ser um jornalista ambiental?

Questão global que transcende uma única editoria, a cobertura da crise climática pode incorporar uma variedade de tópicos. Muitas matérias ambientais também são colaborativas, observou Chow. "Eu acho que a chave é não tentar aprender tudo sozinho, porque não conseguimos", disse. "É sobre criar conexões e colaborar com pessoas com diferentes proficiência e perspectivas."

Katt também enfatizou a importância de reportagens transfronteiriças, especialmente nas regiões do Oriente Médio e Norte da África. "É muito claro que [a mudança climática] é o assunto transnacional mais importante no qual podemos trabalhar juntos", disse Katt. "Se tivermos isso em mente como organização, como redação, e também como freelancers, então podemos certamente fazer algo a respeito." 

Dicas para novos jornalistas ambientais

É essencial que jornalistas interessados em cobrir a mudança climática ampliem seu conhecimento na ciência do clima e em outras questões ambientais, disse Katt. Entender completamente a ciência pode facilitar uma melhor cobertura do tema. Isso é especialmente importante porque jornalistas não são pesquisadores e sim contadores de histórias, disse Katt. "Precisamos fazer as pessoas entenderem o que estamos escrevendo tocando suas mentes, corações e sentimentos. Desse modo, podemos [influenciar] o impacto que queremos ou esperamos que aconteça de alguma forma." 

Jornalistas devem tentar encontrar pautas que ecoem em sua audiência, sem exagerar as notícias. "Não estamos minimizando a gravidade da crise climática, é claro, mas devemos ser o mais verdadeiros e precisos possível na hora de comunicar", disse Chow.

Manchetes sensacionalistas sobre a mudança climática podem andar lado a lado com informação enganosa e uso indevido de dados, de acordo com Chow. Isso pode impactar a confiança dos leitores nas matérias com as quais se depararem. "Quando você divulga [uma informação enganosa], você não consegue reverter, então é um desastre", disse Chow.  

O futuro da reportagem ambiental

Com o crescimento da editoria de jornalismo ambiental, crescem também as formas de informar sobre o assunto. No Oriente Médio e no Norte da África, por exemplo, mais matérias com perspectiva do clima incorporam uma abordagem do jornalismo investigativo, de acordo com Katt.

"Isso também pode gerar uma grande mudança [no] alto escalão — no nível governamental — o que é, eu acho, o mais importante para nós na região", disse.

Para Chow, ver cada vez mais pessoas vindo de diferentes áreas e regiões para colaborar em projetos de reportagem que tratam da mudança climática representa o futuro da cobertura ambiental: "Com origens em diferentes continentes, inclusive eu e a Mais, ou qualquer pessoa que está assistindo agora pode começar a gerar ideias para projetos novamente."


Foto por Sebastian Ganso via Pixabay.