Jornalistas usam redes sociais para explicar economia argentina

Dec 15, 2022 em Redes sociais
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A economia argentina é excessivamente complicada de se entender, seja entre estrangeiros ou locais.

Ela vai além da alta constante dos preços que colocou o país no caminho para atingir uma taxa de inflação de 100% ao fim de 2022, e das mudanças de políticas que o governo frequentemente anuncia para tentar frear a crise.

De algum modo, espera-se também que os argentinos lidem com uma gama ampla de taxas de câmbio — a saber, a taxa de câmbio oficial e seus impostos, o mercado paralelo e várias outras, dependendo do setor da economia.

Para os jornalistas, explicar essa economia confusa também não é fácil. Alguns repórteres, porém, recorreram às redes sociais para produzir conteúdo explicativo rápido e envolvente sobre o que está acontecendo. Eles também estão usando uma variedade de formatos para fazer isso — stories do Instagram, vídeos curtos no TikTok e canais do YouTube, para citar alguns.

Se você também está pensando em usar as redes sociais para explicar a economia ou outras questões importantes no seu país, abaixo estão algumas dicas e alertas para considerar.

Jornalismo por outros meios

Estefanía Pozzo, jornalista argentina especializada em economia e finanças, entende que a comunicação é um ecossistema em constante mudança. Ela diz que as plataformas "mudam a forma como as pessoas obtêm e consomem informações". Não só tudo nas redes sociais é imediato, como também as plataformas "satisfazem diferentes necessidades ao mesmo tempo: informação, opinião, análise e debate", ela explica. "Pode-se criar comunidades e referencialiades, e isso permite narrativas mais pessoais".

Em comparação à criação do seu próprio veículo, criar conteúdo nas redes sociais requer uma infraestrutura muito mais simples. "Se você tem um celular com conexão à internet e uma câmera, você pode começar a se comunicar. Mas não é fácil e nem tudo pode focar em uma audiência de massa", diz a economista e jornalista Candelaria Botto.

Para Botto, o uso das redes sociais para explicar a complexa economia da Argentina veio naturalmente. "Eu faço parte de uma geração que cresceu usando as mensagens do MSN, Fotolog, Facebook, então sempre foi algo orgânico", explica. Botto decidiu compartilhar seu conhecimento em um espaço com o qual ela já era familiarizada. Ela começou com o Twitter.

A repórter de economia Sofía Terrile recorreu às redes sociais em consequência de seu trabalho na televisão. "Muitas pessoas começaram a seguir minhas contas pessoais e eu queria profissionalizá-las. Eu percebi que tinha um público com o qual eu podia falar porque ele já estava me acompanhando na televisão, uma audiência que estava interessada em assuntos de economia", diz. 

Ambiente mais rápido e direto

O seu trabalho depende de você mesmo nas redes sociais. Você pode trabalhar rápido e debater tópicos ao mesmo tempo em que interage com outras pessoas, diz Pozzo. Ela usa o Twitter e o Instagram, e começou seu próprio canal no YouTube, plataforma que considera ser a mais interessante. Pozzo acredita que todos esses formatos são potentes e acessíveis — ela diz que é importante priorizar a informação de qualidade neles ao mesmo tempo em que se produz conteúdo que engaja.

 

 

As redes sociais deram a Botto mais liberdade — não só editorialmente, mas também em uma gama ampla de formatos que ela pode tirar proveito para se expressar e alcançar as pessoas. "Há reações diretas, comentários, respostas. Sei falar sobre o que [os meus seguidores] têm curiosidade [em relação à] economia da Argentina", explica. 

Botto costumava fazer comentários com um tom mais crítico e questionador no Twitter, porém não atraía muito engajamento na plataforma. Ela sentia que a rede social era mais confrontante, com um clima de um lado contra o outro. "O Instagram é mais amigável nesse sentido", diz. 

Botto começou criando vídeos longos com o rótulo "Candesplaining" — uma abordagem do YouTube, mas no Instagram. Quando a plataforma de propriedade da Meta abandonou o formato IGTV, ela foi forçada a mudar sua estratégia. Ela criou o "Cande al rescate" (Cande ao resgate), usando o adesivo de perguntas do aplicativo. "Também já tentei usar o Reels, mas explicar [tudo] em um minuto e meio é difícil", diz.

Não tenha medo de inovar. Botto enfatiza que as plataformas são dinâmicas e o que os usuários consomem muda com o tempo. "Eu me coloco no lugar deles e imagino que talvez eles se sintam cansados do formato. É preciso ser capaz de se adaptar", diz.  

Os formatos das redes sociais demandam conteúdo rápido e curto, observa Terrile. Ela usa linguagem simples, focando em como captar a atenção da audiência com chamadas breves.

 

@sofiterrile Dólar, dólar, dólar 🇦🇷 Apostemos: cuál es el que sigue? 🧞‍♀️ #tiktokteinforma #tiktokargentina #noticias #argentina ♬ Sunroof - Nicky Youre & dazy

 

Para aprender a usar as ferramentas básicas, Terrile recomenda começar com um editor de vídeo. "O CapCut é muito fácil de usar." Ela também sugere usar o Canva para criar pequenos templates.  

Ideias para dar forma à sua cobertura

As redes sociais permitem que você tenha feedback direto, o que nem sempre é o caso se você trabalha no impresso ou na televisão. Ao observar as perguntas de seus seguidores, os repórteres podem ter uma ideia de quais são suas necessidades de informação. Esses dados são poderosos, diz Botto.

As perguntas mais frequentes são aquelas sobre o dólar dos Estados Unidos (sempre uma questão importante para os argentinos), inflação, impostos e preços de energia. Alguns também querem entender melhor sobre o PIB.

Terrile e Botto recebem perguntas sobre investimentos pessoais também. Elas tentam não responder a essas questões, já que fogem de suas especialidades. Esse interesse, porém, pode mais tarde virar uma oportunidade para fazer parcerias com outras contas e expandir mutuamente o alcance.

De sua parte, Pozzo compilou respostas às perguntas que recebe sobre economia e finanças em seu livro Es la economía, vos no sos estúpida  (É a economia. Você não é estúpida), com o objetivo de melhorar a autonomia econômica das mulheres.

Cuide de você

O feedback direto é uma faca de dois gumes. "É na maioria das vezes positivo e isso é ótimo. Mas as redes sociais também são o império da violência. Eu sou sistematicamente alvo de agressões massivas e sistemáticas", diz Pozzo.

Terrile concorda. "Há comentários muito negativos e isso tem um custo porque você tende a medir os níveis de sucesso e autoestima com base nisso, o que não deveria ser o caso", alerta. 

Consequentemente, é importante prestar atenção à sua saúde mental. Observe o tempo que você gasta nas redes sociais, por exemplo, recomenda Terrile. Os algoritmos favorecem o engajamento constante, por isso pode ser tentador engajar com os seguidores o tempo todo. Isso pode sair do controle.

Por essa razão, Terrile tenta regular o tempo que ela fica online. "Do contrário, não tem fim."


Foto por Angelica Reyes via Unsplash.