Redações brasileiras criam ferramenta para cultivar comunidades no Twitter

por Carolina de Assis
Aug 15, 2022 em Redes sociais
A phone displaying the Twitter icon.

Recentemente, as redações da revista AzMina e do Núcleo criaram uma ferramenta para acompanhar os debates de seus leitores no Twitter e promover diálogos entre o público e os veículos na rede social. A ideia é que, ao conhecer melhor a audiência e os seus interesses, o veículo pode se aproximar dos seus leitores e ampliar o impacto do jornalismo produzido. A intenção é tornar a ferramenta disponível para outras organizações interessadas em se conectar com suas audiências.

Ambas as redações basearam o projeto, chamado Amplifica, na experiência do Núcleo com ferramentas de monitoramento de redes como o Science Pulse, que explora tendências e conversas sobre ciência no Twitter e no Facebook, e o Monitor Nuclear, que analisa o engajamento de políticos brasileiros no Twitter.

"A ideia era criar uma ferramenta de construção de comunidade. Foi uma ideia conjunta [d'AzMina e do Núcleo]. Depois de algumas reuniões, chegamos na ideia de como trazer as pessoas para o nosso conteúdo", disse à LatAm Journalism Review (LJR) Jade Drummond, responsável pelo projeto no Núcleo.

"Ao fazer o monitoramento, reunimos informações para nós, mas não estamos necessariamente construindo uma comunidade. Então, [nós pensamos], a partir dessa ferramenta, desse monitoramento, como podemos trazer a comunidade para o nosso conteúdo? Como abordamos essas pessoas? Como podemos criar conversas e trocas entre os leitores? Foi assim que o projeto nasceu e foi desenvolvido", diz.

Os dois veículos estão trabalhando no desenvolvimento do Amplifica, selecionado pelo Desafio de Inovação do Google News Initiative 2022 e financiado pela empresa de tecnologia desde outubro do ano passado. Na primeira fase do projeto, eles contaram com a participação de cerca de 200 perfis do Twitter e desenvolveram um painel no qual era possível acompanhar os dados e publicações da comunidade na rede social.

Em abril, os veículos liberaram o acesso do público a uma versão simplificada do painel. A equipe também pode acessar e a ideia é dar mais visibilidade à ferramenta e convidar mais pessoas para fazer parte da comunidade. O painel público coleta os principais termos, hashtags e tweets, bem como os links mais compartilhados, de mais de 300 perfis do Twitter que se inscreveram no Amplifica até o momento. 

 

Screenshot
      Painel público do Amplifica (Captura de tela).

 

Diferentemente de ferramentas de escuta social normalmente usadas por outros veículos e empresas para descobrir quais os principais tópicos discutidos nas redes sociais, o Amplifica só acompanha as pessoas que cadastraram seus perfis do Twitter na plataforma. Isso acontece porque a ideia é conhecer mais profundamente as pessoas interessadas no jornalismo produzido pela AzMina e pelo Núcleo, e quem está ativo nas redes sociais. Para fazer isso, o Amplifica coleta dados dos perfis, como os tweets e suas interações, bem como dados demográficos como gênero e raça dos leitores.

"Nesse primeiro estágio, estamos entendendo como os dados coletados funcionam. Depois, vamos integrar a produção de matérias e a interação [com o público]", diz à LJR Verena Paranhos, responsável pelo projeto n'AzMina.

De acordo com ela, além da produção de matérias especiais a partir de temas que repercutem na comunidade do Twitter, na segunda fase do Amplifica será desenvolvida uma plataforma que permite aos veículos e sua audiência conversarem na rede social. A intenção é automatizar esse processo, por meio de um robô que capta os tweets de uma determinada hashtag e os reúne em uma thread, por exemplo. De acordo com Paranhos e Drummond, os detalhes dessa ferramenta interativa ainda estão sendo explorados pelas equipes dos dois veículos e ainda não estão finalizados.

Para desenvolver a próxima fase do Amplifica, a ferramenta precisa de ter pelo menos 500 pessoas registradas. É por esse motivo que os dois veículos estão no momento convidando os leitores para registrar seus perifs no projeto.

"De acordo com experiências anteriores de análise de redes, monitorar pelos menos 500 perfis gera um volume interessante de dados que permite testes e análises", diz Drummond. "Se a comunidade monitorada for muito menor que isso, o volume de dados fica baixo e a análise automatizada, que é usada para filtrar ruídos do excesso de conteúdo produzido nas redes sociais para dar sentido ao que é publicado pelos nossos leitores, tem pouco efeito." 

Também segundo Drummond, o desenvolvimento da próxima fase do Amplifica "já começou internamente, com o desenvolvimento de robôs e conversas com o Twitter. Mas dependemos da construção dessa comunidade de pelo menos 500 perfis para entender o comportamento e os interesses das pessoas que fazem parte do Amplifica. Com isso, vamos ter mais ideias e clareza sobre o que funciona melhor na hora de se conectar com essa comunidade." 

Tanto a revista AzMina quanto o Núcleo têm uma política de dados abertos, afirmam Paranhos e Drummond, mencionando ferramentas como Elas no Congresso, desenvolvida pela AzMina e cujo código está disponível no GitHub. O Amplifica também vai ser de código aberto e poderá ser usado por outras organizações, jornalísticas ou não, para acompanhar e interagir com suas audiências no Twitter.  

"O objetivo é que seja uma ferramenta que outros veículos também possam usar no futuro, depois de finalizarmos o desenvolvimento e a criação do projeto completo", diz Drummond. "A ideia é que outros veículos sejam capazes de replicar [a ferramenta] e criar suas próprias comunidades, e que o Amplifica seja uma ferramenta usada por veículos jornalísticos em geral."  

A expectativa é que a parte interativa do Amplifica seja desenvolvida nos próximos meses e que a ferramenta esteja funcionando completamente em outubro desse ano.


Este artigo foi publicado originalmente pela LatAm Journalism Review e reproduzido aqui com permissão.

Foto por Joshua Hoehne no Unsplash.