Aos 28 anos, o jornalista multimídia independente Ahmer Khan já foi indicado ao Emmy por seu trabalho ao lado de uma equipe de repórteres no filme “India Burning”. O filme, que faz parte de uma série produzida pela VICE News e Showtime, destaca a ascensão do nacionalismo hindu no país.
Khan nasceu e foi criado na Caxemira, um território disputado entre a Índia e o Paquistão. Ele faz reportagens desde 2013, quando ainda estava no ensino médio. Desde então, Khan trabalhou em projetos para várias publicações, incluindo The New York Times, The Guardian, Radio France Internationale, Time, Buzzfeed and the Los Angeles Times cobrindo conflitos, direitos humanos e desastres naturais.
“De desastres naturais e crises humanitárias a direitos humanos, fiz de tudo. Mas tenho certeza de que ainda há um longo caminho pela frente porque tenho apenas 28 anos”, refletiu Khan.
Em 2019, Khan ganhou o Prêmio Presse Kate Webb da Agence France, em homenagem a jornalistas que trabalham em condições difíceis na Ásia. Ele também ganhou o Prêmio Lorenzo Natali de Mídia 2018 depois de descobrir o concurso na IJNet.
Também por meio da IJNet, Khan participou do curso anual de reportagem sobre zonas de crise do Dart Center for Journalism and Trauma na Universidade Columbia. Durante o programa, 16 jornalistas freelance receberam treinamento em avaliação de risco, segurança digital e primeiros socorros de emergência para prepará-los para reportagens em ambientes hostis.
Conversamos com Khan sobre sua carreira como jovem jornalista freelance e suas experiências como jornalista na Ásia.
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IJNet: Como você começou a trabalhar como jornalista?
Khan: Eu tinha 18 anos em 2010 e, sendo da Caxemira, vi protestos públicos começarem a acontecer pela primeira vez. Antes disso, eu só tinha ouvido falar da militância ou agitação pública nos anos 90, nos primeiros dias da minha vida, porque nasci em 1992. Comecei minha jornada quando estava no colégio e na faculdade fiz um trabalho freelance. [Tudo] começou com a Al-Jazeera em 2014 e depois não teve mais volta. No meu primeiro ano de faculdade, fui ao Nepal para cobrir o terremoto de 2015, que matou mais de 10.000 pessoas, para a VICE News.
Acho que fui para o jornalismo porque vi muitos problemas em minha região na Caxemira, o que me levou a fazer algum tipo de reportagem para mostrar a verdade de nossa região. Sempre trabalhei com a mídia internacional, que não é tão tendenciosa quanto a mídia nacional na Índia, e queria fazer parte de um jornalismo verdadeiro e preciso.
Crescer na Caxemira afetou seu trabalho de reportagem sobre conflitos?
Tendo um conflito em casa, no seu quintal, você tende a aprender os truques do ofício e o que deve estar ciente. Eu levo isso comigo em todas as minhas reportagens. Viajei pelo sul da Ásia para reportar sobre outros países, por exemplo, a crise de Rohingya, a crise no Sri Lanka ou Nepal e a Índia continental.
Também preciso trabalhar em muitas outras histórias que estão se desenrolando diante de nossos olhos, porque o sul da Ásia está mudando rapidamente em todos os países neste momento.
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Alguma história em particular causou um impacto único em você ou em seu trabalho?
Acho que a crise que se desenrolou em agosto passado na Caxemira realmente afetou os jornalistas da Caxemira, no sentido de que muitas coisas mudaram para os jornalistas na Caxemira. Por exemplo, há um jornalista da Caxemira que foi preso pela polícia e depois agredido e esbofeteado duas vezes na delegacia de polícia na principal cidade da Caxemira.
Enquanto nosso trabalho havia se tornado tão restrito, eu estava viajando em 2019 entre a Caxemira e Déli para obter informações e usar a conexão com a internet, porque não tínhamos internet naquela época por vários meses. O governo montou um pequeno centro de mídia na Caxemira para os jornalistas usarem, mas havia centenas de jornalistas e apenas quatro computadores -- computadores monitorados pelo Estado -- com permissão para usarmos. Decidi não usá-los e fui a Déli pelo menos 16 vezes nas primeiras duas semanas. Eu costumava ir de manhã e voltar à noite, mas tínhamos que terminar tudo às 4 da tarde e depois pegar um vôo das 5 porque a segurança do aeroporto é um grande incômodo. Levamos horas para passar pela verificação de segurança na Caxemira. Foi muito difícil, mas meu trabalho foi premiado algumas vezes no início deste ano, inclusive pela AFP, o que me trouxe muita felicidade.
Que conselho você daria aos jovens jornalistas independentes?
Sempre disse uma coisa: “Se você for realmente bom, ou se a história for realmente boa, a matéria se venderá, não importa quem você seja ou onde estiver.”
Os editores estão sempre em busca de boas histórias. Obviamente, cortes orçamentários aconteceram recentemente, mas isso acontece em toda parte, não em uma parte do mundo. Acho que os jovens jornalistas de todo o mundo precisam entender que não precisam pensar muito sobre suas limitações e, em vez disso, deveriam pensar mais em seu trabalho. Obviamente, há muita competição lá fora, mas se você acredita em si mesmo, se você acredita na sua história e se a história é original e você toca a parte humana dela -- porque cada história tem uma parte humana, seja cultura, esportes , economia, direitos humanos ou conflito -- tenho certeza que você será capaz de vender sua matéria.
Há muita competição acirrada por aí, não há como negar, mas se você fizer boas matérias, acho que irá longe.
Chanté Russell é recém-formada pela Universidade Howard e estagiária de programas no Centro Internacional para Jornalistas.
Todas imagens cortesia de Ahmer Khan