Audiências no mundo todo estão evitando o noticiário, com as pessoas relatando sentimento de ansiedade e impotência devido a uma quantidade imensa de notícias negativas. O jornalismo de soluções tem o objetivo de oferecer uma alternativa por meio de reportagens que deem capacidade de ação às pessoas ao demonstrarem o que funciona e o que não funciona para resolver problemas.
Chibuike Alagboso, gerente sênior de programas do Nigeria Health Watch e chefe na Nigéria do Solutions Journalism Africa Initiative, enfatizou a importância de adotar uma abordagem colaborativa para o jornalismo de soluções durante um webinar recente do Fórum Pamela Howard de Reportagem de Crises Globais do ICFJ.
"Jornalistas de soluções devem pensar mais de forma colaborativa porque as coisas estão mudando mais rápido", disse Alagboso. "O seu trabalho precisa ter mais impacto. Como você faz isso com mais rapidez? O primeiro passo é colaboração."
Quando as pessoas vêem soluções, elas ficam mais dispostas a compartilhar essas histórias comunitárias e comparar suas próprias respostas às dos outros, disse Alagboso. Em contrapartida, a colaboração pode inspirar comunidades a usar recursos similares para lidar com problemas comparáveis.
A seguir estão outros pontos que Alagboso disse a respeito da adoção de uma abordagem colaborativa ao jornalismo de soluções:
Gerando um impacto duradouro
O jornalismo de soluções se baseia em quatro pilares, disse Alagboso: resposta, resultado, evidência e insights. O primeiro pilar, resposta, descreve os passos a serem dados para se chegar a uma solução, como medidas preventivas tomadas para ajudar a conter a disseminação da febre tifoide ou malária em uma dada comunidade.
"Há uma resposta em algum lugar. Alguém está tentando lidar com o problema", disse Alagboso. "A matéria tem que ser sobre o que está sendo feito para tratar o problema." Se a resposta é eficaz, ela merece uma matéria para começar uma conversa em outras comunidades que podem se beneficiar da solução. Matérias que tratam de respostas devem, portanto, descrever com exatidão os passos implementados, métodos usados e mostrar progresso em comunidades que implementaram a resposta em questão.
Outras matérias de soluções focam no segundo pilar: resultados ou "o que mudou antes e depois da resposta?", disse Alagboso. Resultados devem incluir o que torna um resultado noticiável, bem como abordagens ou lições a partir das quais outras pessoas podem aprender. "Você tem que mostrar o que foi útil na hora de lidar com problemas sistêmicos", disse.
O terceiro pilar, evidência, oferece revelações concretas a partir dos resultados que sustentam as conclusões. Evidências precisas podem ajudar a reconstruir a confiança da audiência nas notícias, reduzir vieses e encorajar a ação. Porém, embora as pessoas estejam dispostas a compartilhar lições aprendidas, elas podem não ter clareza sobre o que não estava funcionando ou por que uma determinada solução falhou ou não teve prosseguimento, criando a necessidade do quarto pilar: insights.
Com os insights, descobrir o que não estava funcionando corretamente é tão importante quanto promover sucessos, já que jornalistas podem, assim, informar a audiência e identificar os estágios nos quais são necessários progresso e pesquisa adicional. Os insights também podem ser úteis enquanto uma medida para jornalistas analisarem o seu próprio trabalho e ver se algo ainda é relevante ou pode orientar futuras intervenções.
"O jornalismo de soluções não é relações públicas. Estamos analisando uma resposta, não promovendo-a", disse Alagboso.
A importância da colaboração
Trabalhar colaborativamente em ideias de pautas de soluções permite que jornalistas tenham um impacto coletivo maior, adicionem mais perspectivas a potenciais ângulos de matérias, coletem mais evidências e aumentem o alcance e a conscientização de potenciais soluções.
Alagboso também deu vários exemplos sobre como comunidades diferentes podem se beneficiar de matérias de soluções. Em uma matéria sobre o método de testes drive-through da COVID-19 na Nigéria, a jornalista de ascendência nigeriana e alemã Ruona Meyer analisou os resultados dos procedimentos de teste da Nigéria, que seguiram protocolos semelhantes implementados com sucesso na Alemanha.
"Foi possível comparar as respostas das duas comunidades, o que permitiu que a matéria tivesse mais alcance sem se restringir à geografia ou localização", explicou Alagboso.
É importante ressaltar que a matéria de Meyer deu insights claros para outras regiões que lidavam com a COVID-19 e conselhos para aperfeiçoar respostas e antecipar desafios em futuras pandemias. A matéria também se assegurou de resumir os processos e procedimentos de forma transparente para a audiência.
Alagboso destacou outros bons exemplos de reportagens de soluções colaborativas, como um artigo sobre repostas a envenenamento por água em Cleveland e outra sobre o programa de assistência à saúde da Nigéria que busca melhorar a assistência infantil e maternal. Em ambos os casos, os autores foram além do problema em si e olharam para a história e o impacto dos problemas na comunidade e suas soluções.
"Quando você olha além do problema, você tem mais potencial para ideias de pauta e mais oportunidades para colaborar", disse Alagboso.
Oportunidades para gerar impacto
Com a evolução contínua do jornalismo de soluções, o networking e a colaboração podem trazer mais oportunidades para jornalistas. "O networking é como uma reação em cadeia. Talvez você não conheça a pessoa, mas outra pessoa que você conhece talvez conheça. Por isso é tão importante nos atermos às redes", disse Alagboso. A seguir estão algumas oportunidades que ele mencionou:
Aceleradora de Jornalismo de Soluções: A Aceleradora de Jornalismo de Soluções é uma iniciativa conduzida pelo Centro Europeu de Jornalismo, em parceria com a Rede de Jornalismo de Soluções (SJN na sigla em inglês), para fornecer subsídios, mentorias, treinamentos, recursos e transferência de conhecimento.
Plataformas do ICFJ: O Fórum de Reportagem de Crises Globais oferece não só um conjunto de recursos formado por jornalistas especializados como também treinamento, oficinas, fundos e bolsas para trabalhar em projetos.
Hostwriter: O Hostwriter é uma plataforma colaborativa que dá apoio aos seus membros em todos os níveis de carreira ao oferecer contatos locais no mundo todo. Todos os jornalistas precisam fornecer amostras do trabalho para verificação profissional. A associação é gratuita.
Por fim, Alagboso recomendou que jornalistas participem em futuros eventos e conferências globais, seja presencial ou virtualmente, como uma forma de estabelecer e manter conexões, aprender a partir das experiências dos outros e nutrir relações futuras.
Foto por Noah Buscher via Unsplash.