Ao discutir o futuro do jornalismo, é quase impossível fazê-lo sem mencionar a tecnologia móvel.
Em 2020, haverá um número estimado de 6,1 bilhões de usuários de smartphones em todo o mundo -- cerca de 70 por cento da população projetada do mundo. No início de 2015, 39 dos 50 principais sites de notícias digitais tiveram mais tráfego de dispositivos móveis do que de computadores de mesa.
É por isso que a edicão do jornal Guardian nos EUA lançou em novembro o Mobile Innovation Lab, um centro de experimentação dedicado a descobrir o que funciona -- e o que não funciona -- no cenário do jornalismo móvel. O laboratório irá explorar cinco áreas principais: cobertura ao vivo, vídeo, entrega contextual, interação de conteúdo e notificações.
Até agora, seus experimentos incluem conversar com os leitores através do WhatsApp durante um debate presidencial republicano e cobrir o show de cachorros de Westminster usando Periscope e Facebook ao vivo, com mais programado para os próximos meses.
Conversamos com a editora Sasha Koren sobre o trabalho do Innovation Lab Mobile e seus planos para ir além dos limites da inovação:
IJNet: Como são os experimentos do laboratório?
Por exemplo, podemos enviar notificações para uma pequena parte do público do Guardian, em seguida, realizar um teste A/B. Podemos mandar para a metade deles notificações regulares sobre um evento ao vivo e, em seguida, enviar a outra metade algo completamente diferente -- seja no tom ou formato ou atualizar de uma maneira diferente. Nós provavelmente aprenderemos algo interessante sobre a atenção do público, o que funcionou e o que não funciona.
As experiências vão ser projetadas para revelar como os usuários respondem e o que são interessantes para eles que não estamos pensando ou usando tanto assim. Eu acho que se formos bem sucedidos na nossa missão, vamos fazer coisas que não funcionam, que as pessoas não respondem ou não dão certo, que é uma forma estranha de dizer que o sucesso é o fracasso. Queremos futucar nas beiradas para ver onde há espaço para o crescimento, e parte disso significa que alguns dos lugares onde futucamos mostrarão que não há (espaço para crescimento).
Como uma redação que não tem o tipo de recursos que o BuzzFeed tem, por exemplo, conseguiria replicar esse tipo de inovação?
Eu penso em jornalismo móvel e local. Parte da minha família é de uma pequena cidade em Vermont; há um jornal local muito ativo e há também uma presença online muito ativa. O que significa atingir o público em organizações onde há um público realmente comprometido e dedicado, mas que pode não ter os recursos para construir os tipos de plataformas que BuzzFeed faria? Eles estão em uma espécie de extremos opostos do espectro, um jornal de cidade pequena e uma organização global de mídia grande.
Eu acho que se podemos chegar a alguns tipos de soluções leves, facilmente implementáveis para pessoas no final do nosso mandato, seria uma vitória para todo o jornalismo. O Coral Project, por exemplo, está realmente tentando criar soluções independentes com código aberto de plataforma agnósticas para que organizações de qualquer tamanho, forma e nível de recursos possam adaptar tudo o que fazem em certos sistemas de publicação, sem muito esforço.
Quando você se depara com limitações de recursos, sempre vai ser um desafio. Espero que o que podemos fazer seja algo que faça a nossa indústria progredir de uma forma que é ao mesmo tempo útil para os grandes jogadores, bem como para os médios e pequenos.
Vocês têm uma métrica para o sucesso?
Não temos uma métrica exata. Isso não quer dizer que temos um mandato realmente amplo, que poderíamos construir apenas um app para os próximos 18 meses, o que eu não acho que vamos fazer. Se pensássemos que isso seria a coisa que iria ajudar a responder muitas perguntas sobre a indústria e onde ela precisa ir, então poderíamos fazer isso. Mas não temos um conjunto específico de métricas.
A outra coisa que nós definitivamente temos que fazer é convocar conversas em torno do móvel e jornalismo e reunir as pessoas que estão interessadas nos tópicos para discuti-los. Estamos também trabalhando abertamente, o que é muito comum no Guardian. Esperamos tornar público o que decidirmos, a direção que estamos indo, o que aprendemos e como faremos as coisas. Vamos trabalhar para descobrir como ter certeza de que o que fazemos é não só público, mas vai fazer com que as pessoas interessadas queiram vê-lo.
Imagem sob licença CC no Flickr via Japanexperterna.se. Imagem secundária, captura de tela da cobertura do show de cachorros do Westminster pela edição americana do Guardian via Facebook Live