As fontes de renda dos jornalistas do Zimbábue

Dec 22, 2021 em Sustentabilidade da mídia
Photo of a plant growing from a pile of coins.

As consequências econômicas de antes e depois da COVID-19 forçaram o fechamento de várias redações pelo mundo e muitos jornalistas perderam seus empregos. O Zimbábue não é uma exceção.

Todos os anos, também, muitos jovens jornalistas se formam e ingressam no já concorrido mercado de trabalho de mídia no país. E eles fazem isso encontrando maneiras de ganhar a vida, desde o trabalho freelance até alternativas inovadoras.

Frilas

Trabalhar como freelancer é uma das formas mais comuns, porém competitivas, de jornalistas se sustentarem.

Farai Shawn Matiashe, freelancer zimbabuano cujas matérias foram publicadas na Al Jazeera English, Thomson Reuters Foundation, The Africa Report, entre outros veículos, diz que ser freelancer requer esforço.

"É difícil sobreviver sendo um jornalista freelancer. Os veículos não estão mais encomendando pautas como antes. Talvez seja por causa da pandemia. É uma confusão", afirma Matiashe. "O trabalho freelance é um negócio — ele precisa ser bem administrado. É preciso investir no negócio freelance, em equipamentos e até em capacitação."

[Leia mais: O que os cursos de jornalismo deveriam ensinar sobre ser freelancer]

 

Para Ray Mwareya, o trabalho de freelancer é de tempo integral. Ele trabalha nove horas por dia, apurando, fazendo ligações, viajando, entrevistando, escrevendo e editando.

Ele ganha entre US$ 3.000 e US$ 6.000 por mês, principalmente de publicações da Europa e dos Estados Unidos. "O truque para ter sucesso na sugestão de pautas está em fazer sugestões incisivamente, ser rejeitado e sugerir outra vez como um louco", ele afirma.

Oportunidades em plataformas e nas redes sociais

Sites como Upwork ou Freelancer oferecem aos jornalistas plataformas úteis para conseguir trabalhos remunerados. Enquanto isso, o Pitchwhiz é um site mais novo que atualmente está se popularizando entre os jornalistas no Zimbábue.

"Eu normalmente consigo um novo serviço através de cursos e oficinas internacionais dos quais participo, onde conheço editores e repórteres experientes. Plataformas como a Global Investigative Journalism Network, a IJNet e a Opportunity Desk, da Nigéria, compartilham ótimas oportunidades", diz Matiashe.

Tanto Matiashe quanto Mwareya também são ativos nas redes sociais e analisam as tendências para criar ideias de pauta. "Nunca subestime o poder do LinkedIn, Facebook e Twitter", diz Matiashe.  

Mwareya também consegue frilas nas redes sociais. "Eu construí um relacionamento sólido com editores online e pessoalmente. Mas minha principal fonte de trabalho freelance são contas do Twitter como Writers of Color, que eu sigo diariamente para checar as últimas oportunidades."

Jornalismo investigativo

O ambiente econômico e político zimbabueano oferece muitas oportunidades para investigação. Várias publicações e organizações frequentemente abrem chamados para reportagens investigativas financiadas.

Por exemplo, o The News Hawks, publicação online independente, formada por jornalistas investigativos veteranos, tem se mostrado como um robusto veículo investigativo no país — mesmo assim, mais do tipo seria bem-vindo. "A plataforma digital do Zimbábue líder em notícias investigativas de última hora. Estamos vigiando", diz a página do News Hawks no Facebook.

Repórteres como Matiashe fizeram trabalhos financiados por diferentes organizações voltados para reportagem ambiental.

[Leia mais: Como a pandemia afetou a mídia no Zimbábue]

Notícias no WhatsApp

Outros jornalistas estão aproveitando o WhatsApp. A crescente penetração do aplicativo de mensagens no país tem oferecido aos veículos jornalísticos uma forma diferente de atualizar com regularidade os leitores, bem como de vender anúncios. O aumento da popularidade do WhatsApp acontece em um país que tem apenas uma TV estatal desde sua independência em 1980.

Apesar de o país ter mais emissoras de rádio, elas frequentemente estão envolvidas em polêmicas, com concessões supostamente sendo outorgadas a amigos e aliados de políticos. É difícil adquirir uma concessão de rádio e, como em outros países, a circulação dos jornais impressos é cada vez menor.

O site Nhau, por exemplo, opera mais de 700 grupos do WhatsApp para fazer chegar aos usuários as suas matérias, com anunciantes pagando uma taxa para exibir publicidade nos grupos. "Usamos tecnologia para te trazer seu conteúdo de mídia favorito pelo WhatsApp", explica a página do Nhau no Facebook.


Foto por Visual Stories || Micheile no Unsplash.