A experiência de jornalistas diante do conflito armado no Sudão

May 8, 2023 em Reportagem de crise
ًصورة من السودان

A eclosão de conflitos armados no Sudão entre o grupo paramilitar Forças de Suporte Rápido (FSR) e as Forças Armadas Sudanesas no dia 15 de abril colocou jornalistas em perigo e intensificou os desafios que eles enfrentam na profissão. 

Por causa da crise, 250 jornalistas mudaram de carreira, de acordo com o Sindicato de Jornalistas Sudaneses. Outros 250 ficaram desempregados recentemente. "Se as condições continuarem as mesmas, o jornalismo vai desaparecer do Sudão", diz Abu Idris, representante da entidade. 

IJNet em árabe conversou com dois jornalistas sudaneses sobre suas experiências na cobertura da atual crise e os riscos que colegas de profissão enfrentam atualmente no Sudão. Leia na sequência o que eles têm a dizer.


Os perigos do trabalho jornalístico

No fim de abril, o Sindicato dos Jornalistas Sudaneses informou que as Forças Armadas Sudanesas haviam atacado um correspondente da BBC em Cartum. Vários jornalistas também ficaram presos em suas redações devido ao conflito armado. 

Redações no centro de Cartum também foram bombardeadas, diz Eman Kamal El-Din, jornalista da Sudan Press. "Alguns jornalistas também foram vítimas de ataques e repressão enquanto cobriam os conflitos."

Iman diz que ela passou os primeiros cinco dias do conflito armado em uma área sitiada perto do campo do FSR em Bahri, ao norte da Cartum. "Com os cortes de água e energia nessa região, não consigo descrever o dia como sendo normal", diz. "Estamos presos entre riscos e a busca pelo máximo possível de informação. Durante os conflitos, eu publiquei notícias de última hora para o veículo onde trabalho sobre novos combates, aviões e artilharia pesada."

Situação difícil e incerta

"É realmente muito difícil ver a destruição e os corpos das vítimas fatais nas ruas, e ao mesmo fazer a cobertura", diz o jornalista sudanês Salem Al-Hashemi, correspondente do Al-Arabiya em Cartum. "As duas partes envolvidas não estão satisfeitas com as nossas notícias e informações. É uma situação perturbadora para jornalistas, mas ao mesmo tempo reconfortante porque é a forma correta de fazer a cobertura da situação." 

الصحفي السوداني سالم الهاشمي

O jornalista sudanês Salem al-Hashemi

 

A cobertura independente dos jornalistas, principalmente em áreas onde há conflitos armados, pode colocar suas vidas em perigo. Al-Hashemi, por exemplo, recebeu ameaças de morte.

"Eu levei essas ameaças a sério e informei as autoridades. Faço meu trabalho apesar da incerteza, principalmente porque não há leis nem comprometimento de ambas as facções para proteger os jornalistas ou responder aos pedidos de entrevista ou para fazer cobertura em algumas regiões que estão sob o controle deles", explica.

Os três primeiros dias dos conflitos foram especialmente difíceis, observa Al-Hashemi, tendo em vista a forma como ocorreram ao fim do Ramadã. "A destruição e os corpos das vítimas nas ruas foram chocantes, e eu não conseguia descansar mais do que uma hora por dia", diz.

Dicas e orientações para correspondentes trabalhando no Sudão

  • Jornalistas devem se preparar adequadamente para o trabalho na rua. Devem avaliar os perigos antecipadamente, ponderar riscos em potencial e planejar como reagir a eles;
  • Segurança digital é fundamental. Jornalistas devem usar aplicativos de comunicação segura para proteger seus dados pessoais;
  • Tenha bastante cautela ao usar as redes sociais e não dê nenhuma informação às autoridades ou grupos armados que possa colocar em risco sua segurança;
  • Prepare equipamentos de segurança e carregue kits de primeiros-socorros;
  • Descanse e priorize o bem estar mental. Trabalhar em um lugar perigoso, sob condições difíceis, e por longas horas, gera um impacto negativo na saúde psicológica e física dos correspondentes. 


Recursos e oportunidades para jornalistas no Sudão

  • A UNESCO criou um guia de segurança para jornalistas que trabalham em ambientes perigosos;
  • Rory Peck Trust oferece apoio prático e financeiro para jornalistas freelancers e seus familiares no mundo inteiro. A organização também presta assistência em situações de crise e ajuda jornalistas a trabalharem com segurança e de forma profissional na cobertura de conflitos; 
  • A Internews lançou uma campanha de arrecadação de fundos para jornalistas no Sudão por meio de seu Fundo de Emergência. A campanha tem o objetivo de dar apoio financeiro a jornalistas, além de fornecer equipamentos de segurança, medicamentos e ajuda psicológica;
  • fundo de segurança da Federação Internacional de Jornalistas dá apoio financeiro a jornalistas que trabalham em regiões em conflito e perigosas, incluindo o Sudão;
  • Reporters Respond Fund é um fundo de emergência que dá ajuda direta, apoio legal e orientações relacionadas à segurança de jornalistas e veículos afetados;
  • O projeto Journalists in Distress tem uma lista com os fundos e organizações mais importantes que dão apoio a jornalistas que trabalham em zonas de conflito.

Imagens cedidas pelo jornalista Salem Al-Hashemi

Este texto foi publicado originalmente na IJNet em árabe.