Tristan Ferne, o principal produtor da unidade de pesquisa e desenvolvimento da BBC, escreveu em um recente post de 2.043 palavras: "Poderíamos combinar a mídia existente para tornar as notícias online mais acessíveis, envolventes e relevantes para os jovens?"
"Com um artigo de 800 palavras, não há interação", disse Ferne. “Esse público passa todo o tempo no Snapchat e no Twitter, onde há interação constante na interface. Há coisas para fazer com seus dedos: você pode deslizar, rolar, tocar. Descobrimos que [os usuários] esperavam isso.”
Muitas organizações de notícias estão procurando ir além do texto. O Guardian Mobile Innovation Lab, que funcionou por dois anos, testou um tocador de podcast interativo, “Smarticles”, um aplicativo de notícias offline e notificações ao vivo. Redações de notícias como a do Washington Post têm experimentado com matérias de AMP impulsionadas pelo kit de ferramentas do Google, semelhante ao Snapchat ou Instagram Stories. A BBC também tem trabalhado em mais trocas com seu público, como chatbots em matérias e melhor vídeo vertical dentro do aplicativo.
Ferne e sua equipe de quatro pessoas --um jornalista, um designer, um pesquisador de usuários e um desenvolvedor-- passaram dois meses testando 12 protótipos, todos destinados a levar a BBC além dos artigos-padrão de 800 palavras. Eles usaram “um pouco de teste de guerrilha nas ruas de Londres perto de universidades”, e também testaram junto a um grupo de 26 jovens de 18 a 26 anos. Aqui está um pouco do que eles aprenderam (e mais está aqui).
O que funcionou
O Expander — Este recurso já é usado por outros veículos, como o jornal Guardian, e Ferne disse que será testado no site da BBC a partir do próximo mês. Quando os leitores veem reticências em amarelo após uma palavra-chave/evento/nome/etc, podem clicar nelas para exibir mais algumas informações.
O Incremental — O favorito do público, este formato no estilo "escolha-sua-própria-aventura" pode reutilizar o conteúdo, mas requer trabalho do editor para criar o mesmo conteúdo em vários formulários. A matéria é segmentada com opções para clipe de vídeo, rota de texto curto ou longo para o próximo segmento ou pular a parte seguinte inteiramente. "Achamos que poderia ser uma forma longa de modo oculto: uma maneira de envolver as pessoas desinteressadas por artigos longos ou muitas barras laterais e links de artigos relacionados", escreveu Ferne.
Fast Forward — Rolável. Vídeo. Sincronizado. Para. A. Transcrição. Funciona como legendas, mas é útil para mover o vídeo sem perder um segmento ou ir com o polegar longe demais para a direita. Vídeo fácil de navegar? Sim, por favor.
Viewpoints [Pontos de Vista] — Isso me lembrou as enquetes do Snapchat na série Good Luck America, em que, depois de mergulhar em questões como a remoção de estátuas americanas, os usuários eram solicitados a votar em suas conclusões. Para os Viewpoints da BBC, os usuários encontram uma introdução a um tópico, seguida por breves vídeos de pessoas que descrevem sua opinião, a favor ou contra. Em seguida, os usuários são convidados a opinar. Imagine uma seção de opinião de site de notícias inspirada pelo Tinder, mas com menos comentários desagradáveis e dando mais rosto para a opinião.
O que não funcionou
Atmosphere [Ambiente] — Criar um cenário com áudio de fundo quando o usuário começa a ler um artigo foi muito chato para os testadores. “Os jovens estão tentando navegar por um caminho difícil entre a sobrecarga de informações e FOMO ["Medo de Ficar de Fora”, em inglês] escreveu Ferne no post-mortem, explicando que a adição de áudio também criou sobrecarga sensorial.
Consequências — Mais botões! Este protótipo convidou o usuário a selecionar sua questão tópica preferida, em uma tentativa de personalização ou pelo menos relacionabilidade, depois de ler um artigo mais curto. Tocar em um ícone revelaria um resumo de pontos de impacto (consequências!) dessa notícia sobre o ambiente, por exemplo; outra, sobre a economia e assim por diante. “As pessoas nos disseram que querem saber o impacto que a matéria tem para elas. Mas isso é difícil porque você não sabe o que as pessoas fazem ou quem são", disse Ferne. "Ao separarem [por tópicos], elas podem escolher com o que se importam". Este protótipo foi melhor recebido do que a equipe antecipou devido a sua simplicidade na formatação --ainda atrelado a um artigo--, mas a equipe decidiu não avançar nessa ideia para o proxima rodada. "Não havia nada de especial nisso."
Drawing In [Envolvendo aos poucos] — Não é exatamente Star Wars, mas a forma como Ferne descreve evoca essa imagem: “Tentamos apresentar uma história como a introdução de um filme. Começamos com um som de fundo e visuais borrados e, enquanto você rolava, [o artigo] entrava em foco e havia um pouco de vídeo de fundo, como a cena da história antes de a história chegar ”, disse ele. Fracassou mais do que o filme do Han Solo: “A ideia de que poderíamos levar as pessoas sutilmente para a história estava errada”, disse ele. “As pessoas querem saber sobre o que é a história antes de decidir investir tempo nela.”
Mensagens — Em uma geração já cheia de ansiedades, convidar o usuário a assistir a uma reconstituição de uma conversa do WhatsApp entre um jornalista e sua fonte em uma zona de desastre não foi exatamente o maior sucesso. "Era autêntico e cru e captava a imaginação das pessoas, mas era muito angustiante", admitiu Ferne.
A busca de um ano pela equipe de pesquisa e desenvolvimento por novos formatos possíveis de matérias terminará em setembro, embora suas contribuições para o cenário da mídia continuem. O Expander começará sua fase piloto no próximo mês e outros protótipos poderão ser lançados após novos testes, disse Ferne. Outras equipes da BBC continuam trabalhando com protótipos de voz e chatbots, e é claro que há algumas pessoas pensando sobre a ética de toda essa tecnologia de jornalismo também.
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Este artigo foi publicado originalmente no NiemanLab. Foi editado e republicado na IJNet com permissão.
Imagem sob licença CC no Unsplash via Daria Nepriakhina. Vídeo e gif cortesia do BBC Research & Development.