Em busca das notícias: uma conversa com Peter Copeland

Oct 18, 2019 em Diversos
Peter Copeland

Ser rápido, preciso e justo.

Esses são os três principais valores do jornalismo, de acordo com o jornalista e autor Peter Copeland, que este mês publicou seu livro mais recente, "Finding the News: Adventures of a Young Reporter" (sem tradução).

“A precisão me parece ser o requisito mínimo para o jornalismo. Não é apenas quem entendeu primeiro, mas quem acertou”, disse Copeland em um evento recente de lançamento do seu livro em Washington.

Copeland resumiu seus três valores principais das 18 lições que aprendeu ao longo de sua carreira, a maior parte do tempo reportando para o Howard Scripps News Service, que hoje é a E.W. Scripps Company. Quando os jornalistas competem para dominar esses valores, a profissão como um todo se torna melhor, explicou.

"Rapidez, porque acho importante termos um ambiente de notícias competitivo, para que não seja apenas um repórter que cobre uma história", disse ele.

Copeland cobriu a Cidade do México por cinco anos como correspondente da agência Scripps na América Latina nos anos 80. Depois, ele se tornou o correspondente do Pentágono, cargo que ocupou em meados dos anos 90, quando assumiu funções de editor e gerente da redação.

“O terceiro valor é ser justo. Isso é realmente grande, amplo e difícil. Eu volta e meia pensava: é objetividade, é contar os dois lados de uma história ou é equilíbrio? Por que realmente estamos nos esforçando?”, ele perguntou. "Decidi por ser justo, porque mesmo uma criança de dois anos entende o que é justo e o que não é justo, e você tenta ser justo com todos na matéria e com a matéria em si."

Quase 40 anos depois de Copeland contar sua primeira história como jovem repórter, ele relembra uma carreira que o levou a 30 países em cinco regiões do mundo, tudo para encontrar e reportar as notícias.

Copeland conversou com a IJNet sobre seu livro, refletindo sobre sua carreira no jornalismo e o estado da profissão hoje. Ao longo do caminho, ele compartilhou conselhos para repórteres que estão começando suas próprias carreiras.

Sobre ser justo

É fácil identificar quando algo é "justo". É muito difícil aplicar isso ao jornalismo. Não há uma matéria que escrevi que não pudesse voltar e melhorar e tornar mais justa. Portanto, é fácil dizer, mas é difícil fazer na prática. Você deve ser justo com as pessoas com quem está falando, sobre quem está escrevendo, a história em geral e, em seguida, com a maioria do público. Você está descrevendo de maneira justa o que realmente está acontecendo no mundo?

Empatia é uma habilidade valiosa para se ter. Se alguém já escreveu sobre você teve, sabe o que estou dizendo. Caso contrário, tente imaginar que estão escrevendo sobre você ou sua família. Às vezes, isso muda seu ponto de vista.

Peter Copeland speaks with Newsy reporter Willie James Inman at Busboys and Poets in Washington, D.C.
Peter Copeland (à esquerda) fala com o repórter Willie James Inman (à direita) em uma livraria em Washington.

Sobre segurança e proteção dos jornalistas

Agora é mais perigoso, especialmente no Oriente Médio, onde trabalhei no Iraque, Arábia Saudita e Kuwait. Era perigoso naquela época, mas não como agora. Eu sempre senti, quando era repórter, que tinha um pouco de proteção por ser jornalista, porque certamente acreditava que era neutro e não tinha um lado. Havia uma espécie de consenso geral em todo o mundo de que isso era verdade, de que os jornalistas podiam ir e vir entre os dois lados de uma guerra, mesmo no mesmo dia.

Quando cobri El Salvador nos anos 80, saí com os guerrilheiros que estavam lutando contra o governo e depois voltei à tarde e fui a uma conferência de imprensa com o presidente ou me reuni com o exército. E você poderia fazer isso no mesmo dia. Agora, existem pessoas que atacam jornalistas porque são jornalistas. Antes, eu achava que era um acidente se nos feriam: alguém estava tentando matar o soldado ao meu lado e não tentando me machucar.

A outra coisa era que eu sentia alguma proteção sendo americano. Parte disso também é ingênuo, mas achava que éramos respeitados em todo o mundo e as pessoas sabiam que éramos honestos e estávamos fazendo um bom trabalho. Provavelmente também não era verdade, mas era o que pensava. Agora, certamente, há menos disso. Conheço repórteres que dizem que são canadenses porque podem querer machucar alguém que é americano.

Sobre menos correspondentes estrangeiros hoje

É lamentável que as organizações de mídia dos Estados Unidos não tenham seu próprio pessoal cobrindo o mundo como antigamente. Por outro lado, a mídia local ou a mídia nacional nos países que eu cobria é muito melhor agora do que quando eu estava lá. Se você quer saber o que está acontecendo no México, na Colômbia ou em El Salvador, existem muitos bons repórteres locais agora. Antes, quando eu estava lá, havia bons repórteres, mas muitas vezes eles não tinham permissão para publicar ou escrever sobre as coisas que viam e sabiam.

Sobre o que os leitores devem tirar de seu livro

Primeiro, jornalismo é muito divertido e incrível. Nós viajamos, conhecemos pessoas novas e interessantes, aprendemos coisas novas e depois as compartilhamos com todo mundo — e somos pagos. Eu nunca me cansaria disso.

A outra coisa é que é uma carreira significativa e importante. É uma força para o bem no mundo. Chamei o livro de “Finding the News” [Achando as Notícias] por duas razões. Primeiro, é isso que fazemos: encontramos histórias. E segundo, porque é como um chamado e um propósito na vida, e isso foi profundamente gratificante para mim.

Seu conselho para jornalistas em início de carreira

O melhor conselho que tenho é seguir em frente e começar a escrever. Mesmo se for na sua página pessoal de mídia social, comece a escrever e a produzir reportagens. Procure empregos de meio período, ou bicos, ou uma chance de acompanhar e conhecer outros jornalistas. Tente se inserir no setor de notícias e veja o que acontece porque, dependendo do país, é difícil conseguir um emprego em tempo integral que pague o suficiente para viver. Mas, se você realmente gosta de jornalismo, precisa fazê-lo e não pode esperar.

O mesmo vale para quem mora em um país e é fascinado por outro país. Não espere alguém te enviar para lá. Economize seu dinheiro e vá em frente e dedique três meses para explorar e tentar fazer conexões nesse país. Às vezes funciona — nem sempre funciona — mas, se você voltar para casa depois de três meses, ainda aprendeu bastante e teve uma boa aventura.


Foto principal cortesia de George Hager