Depois de deixarem seus países, na maioria das vezes clandestinamente ou com pressa, os jornalistas africanos refugiados políticos na França têm a esperança de continuar sua carreira jornalística, mas se deparam com várias barreiras, principalmente culturais e linguísticas.
A maioria dos jornalistas na França encontra uma cultura de mídia diferente da deles ou enfrenta novos códigos profissionais — como ser versátil e dominar todas as ferramentas técnicas para mídia impressa, web e audiovisual.
“Na França, o jornalista é cada vez mais multitarefa, você tem que saber fazer tudo. Portanto, a gama de habilidades está se ampliando, então pode haver essa incompatibilidade. Há jornalistas que ainda conseguem encontrar um veículo pequeno, mas ainda é muito limitado”, reconhece Darline Cothière, diretora da Maison des Journalistes (MDJ).
“Às vezes você pensa que ao se mudar para outro país como a França, será fácil continuar a exercer sua profissão no país anfitrião. Muitas vezes é muito difícil porque para alguns existe a barreira do idioma; também é um setor muito fechado, há pouquíssimas vagas para jornalistas", completa.
Deixando o jornalismo para trás
O jornalista guineense Alpha Kaba chegou à França em 2016 depois de passar pelo "inferno da Líbia", conforme descreveu em seu livro “Escravo das milícias, jornada ao fim do inferno da Líbia” (em francês).
Depois de sonhar em continuar a trabalhar como jornalista longe da Guiné, seu país natal, Kaba ficou desiludido. "Fiquei surpreso ao ver que é uma grande luta sobreviver, quanto mais trabalhar como jornalista na França. Normalmente, as pessoas me dizem que tenho sotaque africano. Conheci vários meios de comunicação que disseram a mesma coisa", diz.
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Kaba agora trabalha como segurança no Escritório Francês de Imigração e Integração na cidade de Bordeaux, no sudoeste da França. O emprego, que ele conseguiu após algumas semanas de treinamento, proporciona estabilidade em sua vida. "Trabalhei num depósito, mas não me convinha. Estive no ramo da construção durante três meses, mas parei porque descobri que não era para mim. Acabei por escolher [o ramo da] segurança porque preciso pagar as minhas contas", declara.
Para se manter em contato com o mundo da mídia, Kaba é voluntário na "La clef des ondes", uma rádio local sem fins lucrativos em Bordeaux. Todos os sábados, ele apresenta um programa chamado "L'Afrique en question" (África em questão), que leva o nome do programa de rádio que ele comandava na África. Seu desejo é "poder voltar à Guiné livremente para praticar o jornalismo".
Longe de ser um caso isolado
Alpha Kaba não é o único nessa situação. Muitos jornalistas africanos tiveram de abandonar a paixão pelo jornalismo ou tiveram de enfrentar enormes dificuldades para conseguir o seu lugar numa redação quando chegaram à França.
Uma jornalista do Burundi que é refugiada política na França há sete anos, Diane Akizimana veio para para um estágio de um mês no Centro de Formação de Jornalistas (CFPJ). Foi durante a sua estada que a situação política se agravou fortemente no Burundi e ela tomou inicialmente a difícil decisão de ficar na França, sem o marido e os três filhos que se juntaram a ela alguns anos depois.
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Após vários empregos temporários como babá, Diane Akizimana agora é recepcionista para menores estrangeiros não acompanhados na Cruz Vermelha. “Francamente este trabalho para mim é para sobreviver porque, sem mentir para você, o jornalismo é um mundo muito fechado e difícil de integrar. Já fiz alguns artigos e entrevistas pela Maison des Journalistes, mas nunca pensei que seria aceita neste mundo. Não é nada fácil quando você é uma refugiada política, não estudei na França, não sou francesa e me sinto excluída”, desabafa Akizimana.
Um refúgio para jornalistas exilados
Akizimana teve a sorte de ter sido encaminhada para a Maison des Journalistes (MDJ), que a acolheu. “Passei dois ou três meses dormindo em hotéis diferentes graças ao serviço de assistência. Mas quando entrei na Maison des Journalistes, foi o período em que vivi um momento de estabilidade porque fiquei lá um ano”, conta.
Fundado em 2002, a missão do MDJ é receber e apoiar profissionais da mídia exilados na França. Além de hospedagem, oferece assistência social, jurídica e administrativa. Os jornalistas acolhidos também têm a oportunidade de manter um vínculo com a sua profissão, escrevendo artigos de forma voluntária para o site L'œil de la Maison des Journalistes.
Esse lugar já viu mais de 400 jornalistas de 70 países desde sua criação: 42% vêm do Oriente Médio, 28% da África Subsaariana e 30% estão distribuídos entre a Ásia, Norte da África e Caribe.
Infelizmente, as estatísticas sobre o número de jornalistas que deixam a indústria de notícias são inconsistentes e, como resultado, o quadro é incompleto.
Embora possam ocasionalmente fazer freelance, pode ser difícil ganhar a vida com isso — e nem todos os jornalistas têm a sorte de se beneficiar do apoio de uma organização como a Maison des Journalistes.
Kpénahi Traoré é uma jornalista de Burkina Fasso que trabalha na RFI na França. Formada pela l'École supérieure de Journalisme (ESJ) em Lille, ela é a ex-editora-chefe da RFI Mandenkan. Traoré também é criadora do podcast "Bas les pattes" que desafia o lugar das mulheres nas sociedades africanas na era #Metoo .
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