No início deste ano, o New York Times começou a buscar um editor de acessibilidade visual. Como normalmente acontece com outros cargos, novas funções em uma redação de renome internacional sinalizam para áreas que estão se tornando relevantes para a mídia. A acessibilidade não é uma exceção.
Recentemente o jornal anunciou que Jaime Tanner vai liderar esses esforços. Ela vai se encarregar do objetivo de tornar a cobertura "abrangente e vibrante" do jornal "disponível para qualquer leitor curioso", disse o editor-chefe adjunto Steve Duenes.
Com a nomeação de Jaime, o jornal também quer "adotar processos formais adicionais para assegurar que as melhores práticas se tornem uma parte maior" de suas operações diárias. "Grande parte da nossa reportagem visual é acessível, mas há desafios com formatos como visualização de dados, incluindo mapas e gráficos", disse Duenes em um email.
Com o conteúdo na internet se tornando cada vez mais visual — de vídeos curtos e divertidos e memes a imagens revolucionárias — o que jornalistas no mundo todo podem fazer para tornar o jornalismo visual acessível a todos?
A resposta é muita coisa. Seja você repórter, redator ou editor de redes sociais, há muitos passos que você pode dar para melhorar a experiência da sua audiência.
Problemas comuns
Patrick Garvin, defensor da acessibilidade online e criador da conta @A11yAwareness no Twitter, compartilhou alguns problemas prevalentes relacionados à acessibilidade do jornalismo:
- "A forma como um repórter ou editor escreve o texto que recebe um link pode ser confusa para quem usa leitores de tela se o texto do link não for autoexplicativo."
- "Links que abrem em uma nova aba ou que baixam PDF podem ser irritantes para usuários que não estavam esperando aquele comportamento."
- "O PDF de uma página de jornal pode ser difícil de ler ou de entender dependendo da forma como o diagramador a desenhou e formatou."
- "As cores de um gráfico podem ser bem difíceis de se distinguir."
- "Uma material interativo pode ser bonito, mas vai parecer uma bobagem em um leitor de tela ou ser inútil para quem usa teclado."
Essas são apenas algumas áreas que precisam ser melhoradas.
Necessidade de mais capacitação
"Os veículos começaram a ficar mais conscientes em relação à acessibilidade. Muitas redações estão nos estágios iniciais de se pensar a acessibilidade como uma prioridade e descobrindo como tornar as coisas acessíveis", diz Garvin.
Porém, ele aponta que ainda há sites que não usam texto alternativo nas imagens. Ou seja, uma descrição curta de uma imagem. Outros, ele diz, usam sistemas de gerenciamento de conteúdo que "apenas duplicam a legenda e a utilizam como um texto alternativo."
Em uma indústria que depende de visualização de dados e infográficos, ele explica, muitos materiais interativos publicados pelas redações não têm acessibilidade ou usabilidade totais quando se usa leitores de tela ou teclados.
Neste contexto, Garvin acredita que jornalistas precisam ser capacitados em questões básicas, bem como em tarefas específicas que precisam para fazer seu trabalho. "Muitos vão admitir que 'tecnologia assistiva', 'leitores de tela' ou 'navegação com teclado' não fizeram parte de nenhum curso que fizeram", diz Garvin.
Ele acrescenta que jornalistas devem tratar erros de acessibilidade da mesma forma que outros erros são encarados nas redações. Ele sugere, por exemplo, que as redações monitorem com que frequência suas contas oficiais tuítam imagens sem texto alternativo. "Insista em discutir abertamente formas de parar de fazer isso."
Ele mesmo já está fazendo isso com contas de jornais no Twitter . "Minha esperança é que ao menos uma pessoa vai ver meus tweets no A11yAwareness e fazer pequenas mudanças com base nisso. Talvez elas façam um esforço para começar a usar texto alternativo. Elas podem não se lembrar todas as vezes, mas o bot as lembrou de fazer um esforço."
Por que o texto alternativo é importante
Alexa Heinrich, diretora do Accessible Social, acha que a acessibilidade melhorou significativamente nos últimos anos. Ela diz que as plataformas que jornalistas usam para compartilhar conteúdo online priorizam a acessibilidade. Porém, ainda há uma "lacuna de educação" em relação a ferramentas de acessibilidade, segundo ela. "Quando se trata de notícias e jornalismo, vejo muitos repórteres e jornalistas fazendo prints de um artigo e compartilhando, mas sem texto alternativo. Esse aspecto precisa definitivamente ser melhorado."
Foi isso que a inspirou a criar o Accessibile Social, um site abrangente que pode ser acessado para se aprender sobre as melhores práticas em acessibilidade nas redes sociais.
Um dos melhores exemplos destacados por Heinrich é o trabalho da NASA para divulgar as primeiras imagens do telescópio James Webb. Divulgar "as imagens em infravermelho mais profundas e nítidas até o momento do universo distante", conforme descreve a NASA, é acima de tudo um trabalho visual. Ao fazer a divulgação, a agência se empenhou para tornar as imagens acessíveis a uma ampla audiência. "Eles escreveram textos alternativos bem descritivos para as imagens, o que é impressionante porque estão falando da vastidão do espaço, das estrelas e constelações", observa.
Imagens históricas como essas são apenas alguns dos conteúdos para os quais jornalistas precisam criar texto alternativo ao fazer suas reportagens. Infográficos, por outro lado, apresentam seus próprios desafios, já que são criados principalmente para transmitir informação visualmente. Nesses casos, Heinrich tem um conselho: decomponha os dados em um formato escrito.
Memes também podem ser difíceis. "Alguns memes são muito difíceis de serem resumidos de forma escrita para se fazer um texto alternativo", ela reconhece.
Dicas finais
Conheça os seus leitores: Tanner, a nova editora de acessibilidade visual do New York Times, encoraja os jornalistas a dedicarem um tempo para se familiarizarem com sua audiência com deficiências para que aprendam como ela engaja e interage com as notícias. "Testar o seu trabalho usando um leitor de tela ou navegando uma visualização de dados com o teclado, por exemplo, pode te ajudar a entender melhor como melhorar a experiência do usuário", diz.
Siga quem trabalha com acessibilidade: “Eu criei uma lista no Twitter de pessoas que falam bastante sobre acessibilidade para quem quiser acompanhar. Encorajo as pessoas a darem uma olhada nos materiais de empresas focadas em treinamento, testes e serviços de acessibilidade", recomenda Garvin.
Converse com pessoas que dependem de recursos de acessibilidade: "Eu posso ensinar a partir da minha perspectiva até certo ponto. Eu enxergo, não preciso de texto alternativo. Conversar com pessoas que de fato dependem de práticas acessíveis para acessar conteúdo digital é vital para tornar nosso mundo, seja online ou físico, completamente acessível para todos", diz Heinrich.