Foi-se o tempo em que, para acompanhar o que estava acontecendo no mundo, tínhamos que ir para a banca de jornal ou esperar pelo noticiário de rádio ou TV. Com a internet e redes sociais, aplicativos, newsletters e mais, muitas vezes ficamos com a impressão de que as notícias estão disponíveis para qualquer pessoa, em qualquer lugar, a qualquer hora e em qualquer formato possível.
Mas isso não é verdade se você tem alguma deficiência.
A maneira como os sites, aplicativos e outros serviços digitais são projetados --e a falta de educação sobre como eles devem ser projetados-- ainda representa um obstáculo, de acordo com Geoff Freed, diretor de projetos de tecnologia e padrões de mídia no Carl and Ruth Shapiro Family National Center for Accessible Media. "Apesar de o design acessível ter percorrido um longo caminho nos últimos cinco ou 10 anos", diz ele, "o número de sites de notícias acessíveis ou de materiais online ainda é pequeno, comparado ao número de materiais online em geral."
Há muitos recursos e tecnologias disponíveis para ajudar pessoas com deficiências a encontrar sites, mas nem sempre são conhecidos. Assim, os usuários muitas vezes visitam uma página que não conseguem navegar.
“Muitos sites de notícias hoje em dia [têm propagandas]”, diz Mohammed Salim Patel, um jornalista da BBC que também é deficiente visual. Com a ajuda de um leitor de tela, seguir uma matéria pode se tornar difícil porque os anúncios poluem o texto narrativo e o visual.
"Há muitos sites onde eu quero apenas ler algo, mas acabo fechando", explica ele. "Eu só quero ler o artigo e não consigo, então clico em outra coisa."
Nos últimos anos, houve milhares de ações judiciais e reclamações registradas nos Estados Unidos contra organizações cujos websites e aplicativos eram inacessíveis a pessoas com deficiências, explica Freed, do NCAM. "As organizações de notícias perceberam isso", diz ele. "Nem todos eles foram processados, mas muitos deles estão olhando ao redor e vendo que poderiam ser processados, e isso é uma grande motivação para tornar seus materiais acessíveis."
Quais são algumas soluções práticas que criadores de mídia digital e jornalistas poderiam implementar em sua prática? Perguntamos a dois especialistas e criamos uma lista.
Aprenda como fazer as pessoas encontrarem seu conteúdo
Isso pode parecer óbvio, mas antes de qualquer iniciativa, você tem que pesquisar. A Web Accessibility Initiative (WAI) é o lugar por onde começar, diz Freed. “É responsável por um enorme conjunto de diretrizes, chamadas de Diretrizes de Acessibilidade ao Conteúdo da Web, que são a base para todas as políticas, práticas e leis de acessibilidade ao redor do mundo”, explica ele.
Sua enorme biblioteca é um material educacional valioso para designers e autores. Concentre-se especialmente em aprender a construir sites bem organizados nos quais os públicos com deficiências podem encontrar seu conteúdo. Freed diz: “Um dos pontos mais importantes a ter em mente é que as pessoas têm que encontrar coisas. Para encontrar coisas, desenvolvedores e autores precisam criar materiais que sejam fáceis de navegar, inclusive para pessoas que não podem ver e ouvir ou que tenham problemas de mobilidade."
Trabalhe com jornalistas com deficiências
Acessibilidade e inclusão não podem ser uma reflexão tardia para empresas de mídia. A indústria precisa de mais jornalistas com deficiências para implementar mudanças. "Quando estou reportando, por exemplo, tento usar áudio o máximo que puder ou tento descrever tudo o que é descritível", diz Patel. "Se pudéssemos ter mais jornalistas com deficiências fazendo o trabalho, então as coisas mudariam automaticamente, e também a mentalidade de seus colegas [também] mudaria."
Sem diversidade na redação e no campo, algumas questões nunca serão levantadas ou o feedback nunca será dado porque não foi buscado.
Se você é um jornalista independente que não tem condições de contratar alguém, considere consultar indivíduos ou instituições.
Repense o acesso aos recursos multimídia
Às vezes, são as pequenas coisas como dizer o nome de um entrevistado em vídeo, em vez de apenas tê-lo escrito, diz Patel, ou fornecer legendas ou uma transcrição do áudio. O principal objetivo é pensar em como as pessoas, incluindo quem não pode ver ou ouvir, por exemplo, podem entender e sentir a reportagem completa.
"Se você estiver usando muitas fotos, precisará fornecer descrições das imagens para que alguém que não possa ver a tela, mas esteja usando um software que leia efetivamente a tela em voz alta, possa obter acesso às informações" Freed aconselha.
Ele acrescenta um truque simples, mas eficaz: “[Finja que] você está lendo a matéria para mim ao telefone, e não consigo ver a história. Eu vou perder alguma coisa, se você não me disser o que está na foto?” Se isso for verdade, então você precisa fornecer uma descrição.
Imagem sob licença CC no Flickr via Cambridge University, Sir Cam