Dicas para fazer investigações para TV

Sep 13, 2023 em Jornalismo investigativo
رياض قبيسي

A explosão do porto de Beirute em 2020, uma das maiores explosões não-nucleares da história, matou mais de 200 pessoas, feriu mais de 6.500 e deixou o Líbano estremecido.  

Logo após o ocorrido, o jornalista investigativo Riad Kobaissi e seus colegas publicaram documentos vazados do governo que supostamente mostravam como autoridades libanesas estavam cientes do armazenamento negligente das grandes quantidades de nitrato de amônio responsáveis pelo desastre, porém não fizeram nada a respeito. 

Essa investigação é apenas um dos casos de corrupção no Líbano que Kobaissi e sua equipe, formada por sete jornalistas e um cinegrafista da unidade investigativa da Al Jadeed, revelaram ao longo dos anos.

Kobaissi, vencedor do prêmio ICFJ Knight Internacional 2023, também contribuiu com grandes investigações transfronteiriças, como os Panamá Papers e o Swiss Leaks, bem como uma grande reportagem em parceria com o Projeto do Crime Organizado e Corrupção e a Daraj Media que revelou contas offshore mantidas pelo diretor do Banco Central do Líbano.

Em um webinar recente do Fórum Árabe de Reportagem de Crises Globais, Kobaissi deu dicas para jornalistas realizarem investigações para televisão. Ele discutiu como jornalistas podem avaliar riscos e protegerem a si mesmos física e digitalmente, dentre outros assuntos.

 

 

Primeiro, segundo aconselhou Kobaissi, jornalistas devem diferenciar entre o que as pessoas querem saber e o que elas precisam saber: foque mais em questões de interesse público. Jornalistas devem ainda comunicar suas matérias de forma atrativa para engajar a audiência.

A seguir estão mais algumas das principais dicas de Kobaissi para jornalistas investigativos que fazem seu trabalho na TV: 

Precauções de segurança

Jornalistas devem avaliar todos os riscos ao planejarem suas investigações e ponderar a importância de publicar a informação em função desses riscos, disse Kobaissi. Não se deve colocar a vida em risco em nome de uma investigação, ele afirmou, não importa o quão importante possa parecer.

Kobaissi destacou a necessidade de seguir procedimentos de segurança digital, como proteger as contas de redes sociais para diminuir a possibilidade de ser hackeado. Jornalistas não devem responder a quem os ataca nas redes sociais e evitar viajar para lugares onde foram feitas ameaças contra eles.

É igualmente essencial que jornalistas garantam a segurança de suas fontes, disse Kobaissi. Jornalistas devem explicar os riscos que podem resultar da publicação de uma investigação; se uma fonte sofrer algum dano, outras podem pensar duas vezes antes de falar com o jornalista no futuro. Jornalistas também devem verificar todas as informações compartilhadas por suas fontes.

Produção para a TV

Produzir investigações para a TV requer ir onde a audiência está, disse Kobaissi. Particularmente, tenha em mente que as pessoas geralmente tendem a preferir assistir a programas mais leves e de entretenimento.

A linguagem usada para a TV deve ser básica e familiar: evite apresentar informações de uma forma que desestimule as pessoas a assistirem. Ele acrescentou que jornalistas devem encontrar um balanço entre oferecer fatos e criar suspense para atrair os telespectadores.

A reação da audiência a investigações transfronteiriças pode variar de país para país. Por exemplo, as matérias sobre evasão de divisas dos Panamá Papers não receberam o mesmo grau de atenção em todas as partes do mundo.

O feedback dos usuários nas redes sociais pode ajudar a indicar o que funciona melhor para engajar a audiência. Mas Kobaissi alertou que esse feedback pode ser muitas vezes incompleto: o seu programa ou parte dele pode ser vetado em alguns países, impedindo as pessoas de assisti-lo. 

Câmeras escondidas

Kobaissi aconselhou jornalistas a terem cautela se forem fazer uma investigação à paisana, já que isso pode violar a privacidade das pessoas. Câmeras escondidas também podem trazer riscos se pessoas que não estão envolvidas no caso forem filmadas. Embora Kobaissi não use essa tática, ele disse que abre uma exceção quando se trata de autoridades que roubam recursos públicos, já que seus crimes afetam diretamente a população em geral. 

Ele acrescentou que o uso de câmeras escondidas apresenta riscos únicos. Considere como exemplo a investigação feita por um jornalista da BBC em 2006, na qual o repórter usou vídeos gravados em segredo para expor o racismo na polícia de Manchester, no Reino Unido. A polícia prendeu o repórter quando descobriu as gravações. Ele acabou sendo solto porque provou que estava trabalhando pelo interesse público.

Às vezes, o rosto de um entrevistado pode ser intencionalmente ocultado durante a transmissão. Kobaissi prefere não fazer isso. Para ele, caso o entrevistado alegue que alguém cometeu um crime, é necessário que a pessoa mencionada possa responder plenamente às acusações. 

Kobaissi sugeriu que jornalistas podem usar diferentes plataformas de publicação para ampliar o alcance de suas investigações para além da TV. Considere postar vídeos curtos nas redes sociais para estimular o engajamento, por exemplo. Esses vídeos podem incluir informações adicionais que ainda não tenham sido apresentadas na televisão. Ele também recomendou lançar um site com detalhes sobre a investigação, caso haja recursos.

Outras dicas de Kobaissi

  • Não fabrique ou exclua evidências para provar uma hipótese ou teoria

  • Dê aos alvos de uma investigação a possibilidade de resposta e tenha em mente o direito deles à privacidade

  • Mantenha os padrões éticos ao fazer investigações em que crianças possam estar envolvidas. Considere os efeitos que uma matéria pode ter em uma criança caso a identidade dela seja revelada

  • Ao planejar uma investigação, resuma sua hipótese e como você irá prová-la. Identifique suas fontes e quaisquer riscos envolvidos

  • Se a hipótese de uma investigação não puder ser provada, considere mudar a hipótese ou encerrar a investigação

  • Para proteger melhor a si próprio, assegure-se de que há um veículo disposto a publicar sua investigação


Imagem principal cedida por Riad Kobaissi.

Este artigo foi publicado originalmente no site da IJNet em árabe.