Dataphyte: jornalismo e serviços de dados para jornalistas e cidadãos

por Kunle Adebajo
Mar 3, 2020 em Jornalismo de dados
Trabalhando com dados

O jornalismo de dados existe desde a década de 1960, mas, apesar das tremendas melhorias nas tecnologias de computador e internet, muitos repórteres na Nigéria ainda têm dificuldades em trabalhar nessa interseção crucial entre jornalismo e números. No entanto, uma empresa de mídia, a Dataphyte, está tentando fazer diferença.

O diretor-gerente da Dataphyte, Joshua Olufemi, vê a organização como um "filho da circunstância" que surgiu por causa de um enorme vácuo na forma como as instituições públicas e a mídia operam na Nigéria. "Se você olhar os setores que recebem pouca cobertura no país, um fator-chave é a falta de dados para conduzir a conversa", disse ele.

Olufemi, que tem mais de uma década de experiência trabalhando na mídia e no ativismo em prol das prestação de contas e dados abertos, renunciou ao cargo de diretor de programa do Centro de Jornalismo Investigativo do Premium Times (PTCIJ, em inglês) para trabalhar em tempo integral neste projeto. Ele começou a contemplar a necessidade de uma equipe autônoma de jornalismo de dados em 2015, mas o projeto não começou a tomar forma até 2018, quando ele participou de uma bolsa de cinco meses organizada pela National Endowment for Democracy (NED). O Dataphyte finalmente foi lançado no ano seguinte e começou a operar plenamente em janeiro de 2020.

A plataforma compartilha algumas semelhanças com o BudgIT, uma organização cívica que simplifica o orçamento e os dados públicos, e o Code for South Africa, que promove dados governamentais abertos e o envolvimento cívico. Mas é a primeira organização do país cujo objetivo é combinar jornalismo de dados com dados abertos, treinamento e dados como serviço, que se refere à venda de dados extraídos e analisados ​​e ao fornecimento de consultoria em dados.

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Para Olufemi, a bolsa NED apresentou uma oportunidade de estabelecer uma plataforma modelo de jornalismo de dados na Nigéria, inspirada no FiveThirtyEight, uma organização com sede nos EUA que conta histórias interessantes usando análise estatística. "Não há modelo que um jornalista nigeriano possa aspirar", disse ele. "Não temos [um grupo] que esteja realmente fazendo jornalismo de dados pelo bem do jornalismo de dados. Eu queria preencher essa lacuna."

O cofundador e diretor do BudgIT, Oluseun Onigbinde, concordou que, embora algumas organizações de notícias estejam indo bem, não havia uma plataforma local que se esforçasse mais e tratasse o jornalismo de dados como o centro de seu trabalho.

O Dataphyte já publicou inúmeras histórias, expondo ineficiência no orçamento, corrupção no governo, problemas que as minorias demográficas enfrentam e muito mais. Histórias recentes incluem “A Nigéria orçou dois mil nairas para a saúde de cada cidadão em 2020”, “O bem-estar de 47 milhões de nigerianos está na balança devido à má gestão do NDDC de 1,53 trilhão de nairas” e “Razões para 50 milhões de pessoas com distúrbios mentais não serem atendidas na Nigéria".

O Dataphyte também possui maneiras inovadoras de transmitir dados estatísticos para leitores e gerar conversas sobre políticas, incluindo “Numbers II Ponder”, um boletim semanal que extrai e compartilha números importantes de notícias recentes; e "cartões de dados", que são infográficos diretos que compartilham estatísticas essenciais sobre população, saúde, orçamento e mais.

Joshua Olufemi
Joshua Olufemi. Foto: ‘Kunle Adebajo/IJNet

 

O grupo também está disponibilizando dados para outros jornalistas que precisam e planeja ajudar cinco redações a estabelecer data centers nos próximos dois a três anos. Olufemi também espera criar portais de dados abertos para pelo menos dez governos estaduais e ajudá-los no desenvolvimento de um processo sustentável para a publicação de dados legíveis por máquina. O grupo já está conversando com quatro deles.

“Tentamos coletar, liberar e disponibilizar dados a cidadãos e jornalistas interessados ​​em redirecioná-los para suas próprias reportagens ou pesquisas. Em outros dias, discutimos sobre quais informações críticas de dados podemos oferecer e é isso que você vê em nossa plataforma", disse Olufemi, fornecendo informações sobre as atividades diárias do grupo.

Ele disse que acredita os repórteres aprendem muito com o modelo de jornalismo de dados do Dataphyte. Segundo ele, os dados não apenas permitem atrair a atenção de um público, mas também ajudam os jornalistas a filtrar seus preconceitos, para que possam ser mais objetivos em suas reportagens.

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"Os dados te ajudam a se relacionar com um governo intolerante que acredita que tudo o que você diz é da oposição ou porque você é contra o progresso", disse Olufemi. “Os dados se tornaram uma ferramenta de verificação de fatos, mas também um instrumento seguro de prestação de contas. Ajuda você a apresentar fatos, mesmo usando informações do governo.”

De acordo com a pesquisa "Estado de Tecnologia nas Redações Globais" de 2019 do ICFJ , até 65% dos jornalistas acreditam que o jornalismo de dados ajuda a envolver o público, melhorar a qualidade e aumentar a produtividade. O estudo também observou que, enquanto 79% dos jornalistas gostariam de ser treinados em análise de dados, apenas 35% das redações oferecem essas oportunidades.

O surgimento do Dataphyte inicia uma nova fase do jornalismo que conta a história por trás dos números, disse Stanley Achonu, consultor de sociedade civil da Open Government Partnership, Secretaria da Nigéria.

"Os dados dão uma ideia do que os formadores de notícias e os formuladores de políticas deixam de dizer", disse ele. "Confirma se o que está sendo dito é verdadeiro ou não e, o mais importante, pode prever o resultado provável de uma política."

Achonu acrescentou que espera que a nova organização sirva de força para apoiar outras redações e treinar jornalistas em jornalismo de dados. Para Onigbinde e Damilola Ojetunde, analista de dados do International Center for Investigative Reporting (ICIR), o Dataphyte tem um papel crucial a desempenhar na elaboração de análises de qualidade acompanhadas de cativantes visualizações de dados, além de apresentar insights estatísticos incomuns que podem gerar matérias.

"O jornalismo de dados é o futuro", disse Ojetunde. "Os jornalistas precisam ter conhecimento de dados para que possam ser relevantes nos próximos anos."

No futuro, Olufemi planeja expandir o Dataphyte além da Nigéria.

"Eu digo, Nigéria, pelos próximos cinco anos", disse ele. "Mas, no final das contas, o nosso contexto de trabalho é a África."


Imagem sob licença CC no Unsplash via NESA by Makers