"Se você construir, eles virão" é a frase clássica proferida pelo personagem interpretado por Kevin Costner no filme "Campo dos Sonhos" de 1989. O filme conta a história de um fazendeiro do estado de Iowa, que escuta vozes dizendo para ele arar seu campo de milho e construir um estádio de beisebol no meio do nada.
Ele acredita que se fizer isso, a equipe do time Chicago White Sox virá ao campo para jogar. Então ele faz e eles vêm.
Mas, infelizmente, a fantasia-drama de Hollywood com um resultado perfeito está longe da vida real da tecnologia, onde as coisas não seguem ordenadamente um roteiro para terminar em uma final feliz. Muito frequentemente, ferramentas de dados poderosas mas simples de usar são construídas para jornalistas e, depois de um burburinho inicial, elas acabam sendo pouco utilizadas pelos próprios usuários a quem são destinadas.
Sites e comunidades de mídia social e jornalismo são ótimos para ajudar na disseminação, mas com novas ferramentas constantemente aparecendo, algumas realmente boas se perdem no caminho porque pouca ou nenhuma atenção é dada à divulgação, marketing e formação de potenciais usuários.
Um exemplo disso é a poderosa rastreadora de influência Siyazana construída pelo ex-bolsista Knight Friedrich Lindenberg, que conecta políticos e seu dinheiro e interesses comerciais. Inicialmente, a ferramenta não recebeu a atenção que merecia, mas desde que foi incluída em workshops sobre jornalismo de dados, tornou-se uma ferramenta essencial para jornalistas e pesquisadores políticos sul-africanos.
Esse problema está no centro do trabalho do Code for South Africa (Code4SA), onde estou trabalhando como bolsista do Knight Journalism Fellowship do ICFJ, como parte de uma iniciativa do ICFJ/Code for Africa que está usando ferramentas de jornalismo de dados e de engajamento cívico para empoderar africanos e melhorar suas vidas.
A organização engaja ativamente com usuários de jornalismo em potencial para apresentar ferramentas para jornalistas desenvolvidas pelo Code4SA, como o Wazimap, OpenByLaws, People's Assembly e Bill Tracker.
Ao mesmo tempo, o Code4SA segue uma estratégia de "pegá-los enquanto são novos", trabalhando com faculdades de jornalismo e oferecendo ferramentas livres e formação em jornalismo de dados para seus alunos. Isto levou a parcerias com os departamentos de jornalismo em universidades que, em muitos casos, irão resultar em que estas ferramentas sejam incorporadas no currículo.
Em outra frente, Greg Kempe, diretor técnico do Code4SA, está trabalhando com a Southern African Geography Teachers Association para introduzir o Wazimap como um auxiliar de ensino prático nas salas de aula. O Wazimap, que torna dados de eleições e do censo facilmente disponíveis aos usuários sem habilidades de tecnologia, foi refinado e seus dados foram adicionados diretamente com base no feedback do usuário. Kempe está trabalhando em conjunto com professores para criar planos de aula que permitem que os alunos usem a ferramenta para exercícios e projetos práticos.
Kempe diz que as ferramentas desenvolvidas pelo Code4SA são projetadas para ter impacto. "Isso significa saber quem você está almejando e comunicando-lhes quais são as oportunidades e possibilidades. Isso também significa estar vivo para oportunidades de introduzir essas ferramentas em comunidades que você nunca pensou. Trata-se de incorporar o feedback do usuário como parte do processo de desenvolvimento, não como algo que acontece no final, quando o projeto terminar e o orçamento estiver esgotado."
Conseguir isso significa orçamentar desde o início para criar vídeos instrutivos, blogar e usar mídias sociais e sites interativos para mostrar o que as ferramentas fazem, diz ele.
"Se as pessoas não conhecem as ferramentas que você desenvolve e você não está ativamente dizendo por que deveriam se importar, quais problemas vão resolver para eles e como podem facilitar suas vidas, então não importa se a tecnologia é boa, nada acontecerá."
Imagem principal sob licença CC no Flickr via Andrew Carr