Conselhos para cobrir a guerra Israel-Hamas

Nov 20, 2023 em Reportagem de crise
View of Gaza

Já se passou mais de um mês desde que o Hamas atacou Israel, matando mais de 1.200 pessoas e fazendo mais de 200 reféns, de acordo com estimativas oficiais de Israel. Na sequência, Israel declarou guerra ao Hamas, dando início a uma campanha de bombardeio e invasão por terra do norte de Gaza que matou mais de 11.000 pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, que é comandado pelo Hamas.

Com o desdobramento do conflito, jornalistas precisam estar preparados para cobrir com ética e precisão os acontecimentos.

 

 

Em um webinar recente do Fórum de Reportagem de Crise do ICFJ patrocinado pela Dow Jones Foundation, o editor do Voice of AmericaMichael Lipin, e o diretor do Centro pelo Jornalismo de Paz Global da Universidade de Park no Missouri, Steven Youngblood, compartilharam conselhos para jornalistas que estão cobrindo a guerra Israel-Hamas.

1) Reconheça as perspectivas globais e vieses pessoais

Tendo em vista a atenção global dada ao conflito e suas implicações geopolíticas, é importante reconhecer os vários posicionamentos assumidos por países além de somente os Estados Unidos. "Outras potências mundiais têm uma visão do conflito diferente da visão dos Estados Unidos", disse Lipin.

É importante informar sobre a visão e respostas dos países de forma direta. "Por exemplo, essa é a posição da Rússia. Essa é a posição da China. E refletir isso factualmente em uma matéria", acrescentou Lipin.

É vital que jornalistas reconheçam também seu próprio contexto e bagagem regional para fazerem uma cobertura imparcial do conflito. Um jornalista dos Estados Unidos, por exemplo, deve reconhecer que ele pode perceber e cobrir o conflito de um jeito diferente de um jornalista israelense ou palestino. 

"Precisamos estar cientes desses vieses o tempo todo e fazer o que pudermos para diminuir os impactos desses vieses", disse Youngblood.

2) Considere o impacto da linguagem e das imagens

Jornalistas devem ter atenção com a linguagem e as imagens que usam em sua cobertura, principalmente ao falarem sobre sobreviventes e trauma. Quando possível, opte por escolhas de palavras neutras em vez de uma linguagem carregada emocionalmente, como "banho de sangue" ou "massacre".

Youngblood sugeriu perguntas fundamentais que jornalistas devem considerar na hora de selecionar imagens para incluir nas matérias. "As imagens sangrentas e horríveis estão sendo usadas porque elas são necessárias para contar a história?", disse. "Ou elas estão sendo usadas como caça-clique? Elas estão sendo usadas de um jeito que é puramente sensacionalista? As imagens e a narrativa estão fazendo uma exploração emocional?"

Ao retratar sobreviventes e vítimas de trauma, jornalistas devem ser atenciosos com o tipo de pergunta que vão fazer em uma entrevista para evitar retraumatizar as vítimas, disse Youngblood.

Tome cuidado para garantir a precisão ao usar rótulos: tenha atenção, por exemplo, ao usar designações, como "terroristas" ou "genocídio" sem considerar cuidadosamente as definições legais e as reações emocionais que esses termos podem criar.

3) Diversifique as fontes

Durante o conflito, toneladas de informação, tanto factual quanto o oposto, se espalharam online rapidamente. Em especial, as redes sociais facilitaram a disseminação rápida de informação confiável e desinformação com os desdobramentos da situação.

Antes de tirar conclusões imediatas, certifique-se de ouvir fontes variadas e de confiança para incluir na sua matéria, insistiu Lipin.

Por exemplo, no artigo que ele fez sobre a possibilidade do Irã ter coordenado com o Hamas antes deste último fazer seu ataque, Lipin coletou informações de inúmeras fontes. Isso permitiu que ele entendesse melhor os detalhes de um assunto multifacetado e em evolução. Conversar e entrevistar fontes de confiança, incluindo vários representantes de governos e especialistas em política exterior na região, o ajudou a reunir os fatos e verificar informações.

Jornalistas devem conversar com pelo menos duas fontes escolhidas cuidadosamente ao fazerem suas matérias, disse Lipin.

Youngblood concluiu lembrando tanto jornalistas quanto audiências de reconhecerem o impacto de sua cobertura: o público vai perceber e entender o conflito baseado na forma como ele é relatado.


Foto por Mohammed Ibrahim via Unsplash.