Quando você pensa em desinformação visual, talvez pense em deepfakes: vídeos que parecem reais, mas que foram criados usando poderosos algoritmos de edição de vídeo. Os criadores editam celebridades em filmes pornográficos e podem colocar palavras na boca de pessoas que nunca as disseram.
Mas a maioria das desinformações visuais às quais as pessoas são expostas envolve formas muito mais simples de enganar. Uma técnica comum envolve reciclar fotografias e vídeos antigos legítimos e apresentá-los como evidência de eventos recentes.
Por exemplo, o Turning Point USA, um grupo conservador com mais de 1,5 milhão de seguidores no Facebook, postou uma foto de um supermercado saqueado com a legenda “YUP! #SocialismSucks” ["Sim, socialismo é uma droga", em tradução livre]. Na realidade, as prateleiras vazias dos supermercados não têm nada a ver com socialismo; a foto foi tirada no Japão após um grande terremoto em 2011.
Em outro exemplo, após um protesto pelo aquecimento global no Hyde Park de Londres em 2019, as fotos começaram a circular como prova de que os manifestantes haviam deixado a área coberta de lixo. Na realidade, algumas das fotos eram de Mumbai, Índia, e outras vieram de um evento completamente diferente no parque.
Sou uma psicóloga cognitiva que estuda como as pessoas aprendem informações corretas e incorretas do mundo ao seu redor. Pesquisas psicológicas demonstram que essas fotografias fora de contexto podem ser uma forma especialmente potente de desinformação. E, ao contrário de deepfakes, são incrivelmente simples de criar.
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Fora de contexto e incorreto
Fotos fora do contexto são fontes muito comuns de informações erradas.
No dia seguinte ao ataque iraniano de janeiro às bases militares dos EUA no Iraque, a repórter Jane Lytvynenko no Buzzfeed documentou vários casos de fotos ou vídeos antigos sendo apresentados como evidência do ataque às mídias sociais. Isso incluiu fotos de um ataque militar de 2017 do Irã na Síria, vídeo de exercícios de treinamento russo de 2014 e até imagens de um videogame. De fato, dos 22 boatos falsos documentados no artigo, 12 envolvem esse tipo de foto ou vídeo fora de contexto.
Essa forma de desinformação pode ser particularmente perigosa porque as imagens são uma ferramenta poderosa para influenciar a opinião popular e promover falsas crenças. Estudos de psicologia mostraram que é mais provável que as pessoas acreditem em afirmações verdadeiras e falsas, como "as tartarugas são surdas", quando são apresentadas ao lado de uma imagem. Além disso, é mais provável que as pessoas afirmem que viram manchetes recém-inventadas quando são acompanhadas por uma fotografia. As fotos também aumentam o número de curtidas e compartilhamentos que uma postagem recebe em um ambiente de mídia social simulado, juntamente com a crenças da pessoas de que a postagem é verdadeira.
E as imagens podem alterar o que as pessoas lembram das notícias. Em um experimento, um grupo de pessoas leu uma notícia sobre um furacão, acompanhada de uma fotografia de uma vila após a tempestade. É mais provável que eles se lembrem falsamente de que houve mortes e ferimentos graves em comparação com as pessoas que viram uma foto da vila antes do ataque do furacão. Isso sugere que as imagens falsas do ataque iraniano de janeiro de 2020 podem ter afetado a memória das pessoas para obter detalhes do evento.
Por que são eficazes
Há várias razões pelas quais as fotografias provavelmente aumentam sua crença em declarações.
Primeiro, você está acostumado a fotografias usadas para fotojornalismo e serve como prova de que um evento aconteceu.
Segundo, ver uma fotografia pode ajudá-lo a recuperar mais rapidamente informações relacionadas da memória. As pessoas tendem a usar essa facilidade de recuperação como um sinal de que as informações são verdadeiras.
As fotografias também tornam mais fácil imaginar um evento acontecendo, o que pode torná-lo mais verdadeiro.
Finalmente, as fotos simplesmente capturam sua atenção. Um estudo de 2015 da Adobe descobriu que as postagens que incluíam imagens recebiam três vezes mais interações do Facebook do que as postadas apenas com texto.
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Adicionando informações para saber o que está vendo
Jornalistas, pesquisadores e tecnólogos começaram a trabalhar nesse problema.
Recentemente, o News Provenance Project, uma colaboração entre o New York Times e a IBM, lançou uma estratégia de prova de conceito de como as imagens podem ser identificadas para incluir mais informações sobre idade, local onde foram tiradas e editor original. Essa verificação simples pode ajudar a impedir que imagens antigas sejam usadas para oferecer suporte a informações falsas sobre eventos recentes.
Além disso, empresas de mídia social como Facebook, Reddit e Twitter podem começar a identificar fotografias com informações sobre quando foram publicadas pela primeira vez na plataforma.
Até que esses tipos de soluções sejam implementados, os leitores ficam por conta própria. Uma das melhores técnicas para se proteger de desinformações, especialmente durante um evento de notícias de última hora, é usar uma pesquisa reversa de imagens. No navegador do Google Chrome, é tão simples quanto clicar com o botão direito do mouse em uma fotografia e escolher "Pesquisar imagem no Google". Você verá uma lista de todos os outros lugares em que a fotografia apareceu online.
Como consumidores e usuários das mídias sociais, temos a responsabilidade de garantir que as informações que compartilhamos sejam precisas e informativas. Ao ficar de olho nas fotografias fora do contexto, você pode ajudar o público a não cair nas desinformações.
Lisa Fazio, professora de psicologia, Vanderbilt University
Este artigo foi reproduzido do The Conversation sob licença Creative Commons. Leia o artigo original em inglês.