Ter o seu trabalho publicado com o seu nome estampado pode ser ao mesmo tempo animador e assustador. Há a emoção óbvia de finalmente ver circulando as matérias nas quais você estava trabalhando e ter mais um texto com a sua assinatura, mas divulgar seus esforços para o mundo pode também desencadear estresse e preocupações. Mesmo depois de criar um texto excelente, você pode se perguntar: eu fiz um bom trabalho? Há algum erro que deixei passar? As pessoas vão ler e se engajar com o texto?
"Como jornalistas ou pessoas que escrevem e publicam, por um lado, nós queremos mesmo passar nossa mensagem e, por outro, somos tímidos e vulneráveis", afirma Emma Donaldson-Feilder, psicóloga ocupacional na Affinity Coaching and Supervision. "Há essa vontade de se expressar, mas no momento em que [um texto] é publicado, de repente sentimos aquele medo sobre como ele pode transparecer, ser visto e percebido."
Uma vez que plataformas online e redes sociais permitem reação imediata e direta, jornalistas podem sentir como se estivessem sob um nível intimidador de crítica. Quando a matéria é publicada, suas fontes, leitores e qualquer outra pessoa pode pública e instantaneamente apontar um erro, criticar ou mesmo te atacar. A prestação de contas é um motivador positivo, mas o medo de estragar tudo pode ser paralisante.
Quando, no último mês de fevereiro, a jornalista freelance e consultora criativa Maansi Kalyan escreveu sobre o protesto de fazendeiros indianos para a VICE, ela já tinha recebido reações violentas nas redes sociais por expressar pontos de vista alternativos. "Algumas críticas estavam beirando a ameaça, então dizer que eu estava me sentindo ansiosa por divulgar um texto cobrindo um assunto que seria lido no mundo todo era um eufemismo."
Tendo se tornado freelance em tempo integral há pouco tempo, Kalyan se sente mais ansiosa do que nunca em relação aos seus projetos. "Isso acontece independentemente de saber que sou boa naquilo que faço e de acreditar que sou talentosa. Aprendi que a 'síndrome do impostor' é quase um rito de passagem, principalmente entre mulheres não brancas em carreiras artísticas."
Porém, jornalistas novatos não necessariamente sofrem mais, de acordo com Donaldson-Feilder. Pode acontecer de tudo. "Se você é nova e não sabe como vai ser, você pode ter menos medo porque está apenas começando."
[Leia mais: Como lidar com a síndrome do impostor no jornalismo]
Por outro lado, você também não sabe como lidar com críticas ou rejeição, ela explica. "É como em qualquer outra área. Quanto mais você faz aquilo, mais confortável você se sente", diz Almara Abgarian, editora de lifestyle na Jam Press. Quando começou, ela publicava textos bastante pessoais e compreensivelmente se preocupava com comentários negativos e julgamentos. "Uma vez eu escrevi sobre ir em speed datings em que as pessoas ficam nuas; eu adorei e é um dos meus textos mais lidos, mas estava preocupada se eu seria vítima de slut-shaming. E eu fui, por parte de trolls na internet", conta.
Outros casos que ela recorda incluem textos de opinião em assuntos como política, que ela considera serem indutores de ansiedade de uma maneira completamente diferente. "Jornalistas são frequentemente alvos fáceis para trolls e eu fico pasma com o nível de abuso que pode ser lançado contra gente." Como a maioria das mulheres jornalistas que ela conhece, ela já recebeu mensagens de ódio.
Então, como jornalistas podem lidar com a pressão de entregar um trabalho de qualidade, controlar o medo de julgamento, se tornarem mais confiantes em relação ao seu conhecimento e habilidades e enfrentar a tensão pré-publicação?
Abaixo, nossas três entrevistadas compartilham dicas sobre como encarar a ansiedade advinda da publicação de matérias.
Exercite a autocompaixão
O primeiro passo é reconhecer quando você está com ansiedade, afirma Donaldson-Feilder. A partir daí, tente ser gentil consigo mesma. "Perdoar se cometemos um erro bizarro, ou cuidar de nós mesmas, garantir que dormimos o suficiente, assim não passamos a noite em claro preocupadas, escrevendo e reescrevendo", ela explica. Em outras palavras, um nível de gentileza que é emocional, mas também prático.
Lembre que é normal ter ansiedade de vez em quando e muitas pessoas se sentem assim também.
"O terceiro elemento da autocompaixão, talvez o mais importante, é a humanidade compartilhada", ela acrescenta. "Aquele sentimento de que não estou sozinha, de que somos todos seres humanos e vulneráveis, e estamos todos interconectados quando se trata disso. [É] saber que eu não sou uma pessoa ruim e ser capaz de ser gentil."
Busque o apoio de pessoas em quem você confia
Entrar em contato com um amigo, colega ou mentor para apoio emocional e prático depois de finalizar uma matéria pode te ajudar a superar a ansiedade de divulgar o seu trabalho para o público.
"Minha dica principal para pessoas que se preocupam com aquilo que escrevem é deixar um amigo ler a versão bruta do texto", sugere Abgarian, que regularmente compartilha seus textos com uma de suas melhores amigas. "Eu confio na opinião dela, mas também sei que ela vai me fazer críticas construtivas. Não consigo dizer quantas vezes eu incluí uma linha aqui ou ali graças às nossas conversas, que acabaram me fazendo sentir muito melhor em relação à matéria."
Donaldson-Feilder confirma que receber apoio e ser tranquilizada por outras pessoas pode ser poderoso. "Há cada vez mais evidência de que apenas estar com uma pessoa, se ela oferece apoio, calma e ajuda — [nós] começamos a refletir aquela calma, o que pode nos ajudar a nos acalmarmos", afirma. Isso pode ajudar a sentir que temos alguém do nosso lado.
[Leia mais: 10 podcasts para saúde mental]
Estabeleça limites e uma mentalidade adequada
Novata no mundo do jornalismo, Kalyan conta que ela ainda está pesquisando e testando estratégias de enfrentamento. Entender melhor como a área é construída em torno da opinião pública ajuda."Significa estimular a crença de que não é pessoal, apesar de parecer que é. Seja qual for a reação ao seu trabalho, não significa que você é o inimigo público número 1", diz Kalyan. "A reação das pessoas vai ser mais sobre o que você expôs do que sobre quem assinou a matéria."
Ficar offline em vez de checar constantemente as reações à matéria também ajuda. Faça uma caminhada, assista um filme, tome um banho, coloque algo para assar — qualquer coisa que te mantenha longe do monitoramento constante. "O que os olhos não veem, o coração não sente — e você precisa se treinar para liberar qualquer apego ao seu texto quando ele estiver finalizado", afirma Kalyan.
Controle o perfeccionismo
Lute contra tendências perfeccionistas negativas. Você já ficou presa a uma mesma frase por meia hora ou perdeu um prazo por revisar um lead satisfatoriamente perfeito? Combata isso com pré-planejamento e retorne àquele sentimento de gentileza.
"É praticamente fazendo um planejamento de antemão que vou estabelcer um limite de um número X de revisões ou que vou mandar para determinada pessoa, e se ela disser que está OK, então OK mesmo se tiver um erro de digitação esquisito", sugere Donaldson-Feilder. "Bom o bastante é bom o bastante. Se nos estressamos demais com cada matéria, isso não é gentil nem útil pra gente."
Descubra o que funciona para você
Descubra e faça mais coisas que funcionam para você. Abgarian, por exemplo, acha bastante últil escrever, depois deixar o texto parado de um dia para o outro e relê-lo na manhã seguinte com um olhar mais fresco — se a matéria não for datada ou tiver um prazo mais longo.
"Se estou escrevendo sobre um assunto sensível, eu posso buscar matérias sobre o mesmo assunto para ver como outras pessoas abordaram o tema. Pode te mostrar o que funcionou e o que não funcionou pros outros, e a reação das pessoas", acrescenta.
Ela também mantém em casa aquilo que chama de "parede da impostora"; uma seleção de seus textos favoritos, todos emoldurados e pendurados na parede acima do computador. "Eu não sou convencida, juro, mas se em algum momento tenho dúvidas sobre mim mesmo, isso me ajuda a olhar pra cima e ver minhas matérias lá", conta.
Cristiana Bedei é jornalista freelance italiana com experiência internacional.
Foto por Elisa Ventur no Unsplash.