Como jornalistas podem engajar mais a audiência na mudança climática

Jan 9, 2023 em Reportagem de crise
Car driving on a road during a forest fire

mudança climática é uma crise crescente que jornalistas cobrem com cada vez mais urgência. Mesmo assim, se dá pouca atenção a como os leitores entendem e reagem à cobertura do tema. Em um webinar recente, o Fórum Pamela Howard de Reportagem de Crises Globais do ICFJ mergulhou em um relatório do Reuters Institute para o Estudo do Jornalismo da Universidade de Oxford que analisa como os leitores acessam notícias sobre mudança climática, em quem eles confiam e como se sentem a respeito da questão.

 

 

Durante o webinar, o Dr. Waqas Ejaz, bolsista de pesquisa da Oxford, apresentou descobertas sobre oito mercados diferentes e mais de 8.000 participantes dos Estados Unidos, Reino Unido, Brasil, Alemanha, Índia, Paquistão e Japão. A seguir estão os pontos principais:

Notícias sobre a mudança climática estão no noticiário

O estudo aponta que a maioria dos respondentes tem acesso a notícias sobre a mudança climática. Em todos os países incluídos no estudo, 51% dos participantes disseram que viram notícias sobre a mudança climática na semana anterior à pesquisa. O tipo de mídia no qual as audiências veem notícias sobre a mudança climática variam nos países: participantes da França e Alemanha obtêm notícias na televisão, enquanto os do Paquistão e do Brasil confiam em fontes online, por exemplo. 

Porém, mais de um terço dos respondentes disseram que acessam notícias em outras fontes, o que inclui periódicos acadêmicos, documentários e blogs. Portanto, Ejaz disse que jornalistas devem ser criativos nas formas de apresentar seu trabalho, e entender que os consumidores não necessariamente estão confiando em canais tradicionais para obter informações sobre o clima.

Quando se trata do tipo de mídia consumido, diferenças de idade são importantes

A mudança climática é vista como um problema para gerações futuras. De modo preocupante, aparentemente os jovens consomem notícias sobre a mudança climática com menos frequência que as audiências mais velhas. O estudo também descobriu que, em um reflexo dos padrões vistos no consumo geral de notícias, pessoas mais velhas usam a mídia tradicional enquanto os mais jovens obtêm a maior parte de sua informação online.

Cientistas são ótimas fontes

Cientistas foram as fontes de informação mais lembradas e consideradas confiáveis pelo público em todos os oito mercados estudados. Ao mesmo tempo, políticos e partidos políticos são uma das fontes consideradas menos confiáveis. O estudo descobriu que respondentes de direita tendem a confiar mais nos políticos, enquanto respondentes de esquerda nos Estados Unidos, no Reino Unido, na Índia e no Brasil confiam menos nos políticos. No geral, pessoas de esquerda tendem também a confiar muito em ativistas ambientais.

De acordo com o estudo, os veículos jornalísticos tendem a ficar em uma posição intermediária no espectro de confiança dos leitores, o que significa que embora as fontes jornalísticas não sejam objeto de desconfiança, os jornalistas ainda podem fazer mais para criar confiança na cobertura da mudança climática. 

As percepções do público importam

Uma das coisas mais importantes que os jornalistas precisam estar cientes ao escrever matérias sobre mudança climática é como eles são vistos sob os olhos do público. Jornalistas estão encarregados de educar o público sobre o que é a mudança climática, o que a está causando e como ela impacta o leitor. Ejaz observou que matérias sobre a mudança climática devem preocupar o leitor, mas sem exagerar no sensacionalismo da cobertura e fazer com que o leitor evite as notícias. 

O estudo do Reuters Institute descobriu que cerca de 50% do público afirmou que políticos e a população estão fazendo muito pouco, enquanto ativistas e cientistas são vistos como os que estão fazendo apenas o bastante. Os leitores também disseram que, ao lerem as matérias, se sentiram preocupados, afetados e informados. Embora essas emoções pareçam negativas, Ejaz reforça que elas se justificam devido à escala e severidade da crise. Apenas 26% dos respondentes disseram que se sentem indiferentes.

Ao mesmo tempo, ler notícias sobre a mudança climática também pode ajudar as audiências a se sentirem empoderadas, conforme mais de 70% dos leitores da Índia e do Paquistão afirmaram no estudo. Além disso, jornalistas podem ajudar os leitores a saber o que eles podem fazer para reagir conectando ideias e informações a uma ação. Aqueles que leem notícias sobre a mudança climática com mais frequência igualmente afirmam se sentirem mais empoderados do que aqueles que leem com menos frequência. 

O mercado de notícias está lotado

Embora as notícias sobre mudança climática estejam se tornando mais importantes e prevalentes, elas ainda competem por atenção com questões cotidianas como economia e política. Em todos os oito mercados, a maior preocupação relatada foi o aumento do custo de vida e inflação, não a mudança climática.

A boa notícia é que apesar de a mudança climática ter sido historicamente considerada uma questão partidária, o mais recente estudo traz uma nova visão. A maioria dos participantes, disse que está preocupada com a mudança climática e a enxerga como um problema, inclusive os de direita. De acordo com o estudo, os Estados Unidos têm a maior diferença entre a visão da esquerda e da direita sobre a mudança climática como um problema em comparação com outros países. 

Os leitores estão pouco informados sobre os planos para combater a mudança climática

A boa notícia é que as pessoas estão bem servidas pelo jornalismo e a maioria acompanha e confia nas notícias relacionadas à mudança climática. Porém, os jornalistas podem fazer mais para servir melhor os leitores. Conforme mencionado anteriormente, nem todas as fontes são iguais, e as matérias se beneficiam particularmente das falas de cientistas visto que eles são considerados muito confiáveis e podem gerar mais credibilidade para uma matéria.  

Ao mesmo tempo, mesmo que os leitores tendam a relatar que estão cientes da mudança climática e da relação dela com os gases de efeito estufa, eles também dizem que sabem menos sobre o que governos, políticos e comunidades estão fazendo para combater o problema. Ejaz afirmou que jornalistas devem destacar mais em suas matérias as iniciativas de políticas e cobrir mais o que está sendo feito para combater a crise. Isso serve o propósito de assegurar que as matérias não sejam tão negativas e não façam com que os leitores evitem a cobertura. 

Talvez mais importante de tudo, a mudança climática não é mais uma editoria à parte e reportagens sobre a mesma podem ser encontradas em todo o jornalismo. "Notícias de economia são notícias sobre o clima, notícias de saúde são notícias sobre o clima", disse Ejaz.

Ejaz reforçou que deve haver um esforço orquestrado para colocar recursos a fim de tornar a mudança climática um assunto de massa, especialmente em países de baixa renda na linha de frente da mudança climática. "É preciso que haja um certo sentido de urgência entre as pessoas que só pode ser suscitado por meio de uma cobertura abrangente do assunto e não só na última página, isso não vai atrair o nível de atenção que pode ser necessário para as pessoas", disse. 

Quando se trata do modo como jornalistas cobrem a mudança climática, há claramente pontos positivos. No entanto, jornalistas pelo mundo podem e devem fazer mais para fortalecer sua cobertura sobre uma questão que vai se tornar cada vez mais importante nos próximos anos. 


Foto por Marcus Kauffman via Unsplash.


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Marina Cemaj Hochstein and Taylor Dibbert

Marina Cemaj Hochstein é estagiária de programas do Centro Internacional para Jornalistas, onde Taylor Dibbert é gerente de programas.