Como jornalistas estão usando o Twitter Spaces

por Sarah Scire
Feb 2, 2022 em Redes sociais
A phone showcasing Twitter's logo.

O Twitter Spaces, inicialmente descrito como um chat de áudio "efêmero", está assumindo um papel mais permanente. A plataforma social adicionou um recurso para que o apresentador grave suas sessões ao vivo, incluiu a cobrança de ingressos para quem quer monetizar o seu Spaces e dedicou um espaço de destaque ao Spaces no aplicativo. O Twitter também está encorajando ativamente redações e jornalistas a assumirem o papel de anfitriões de Spaces.  

O Twitter Spaces foi lançado como um produto exclusivo para smartphones para um número seleto de usuários em dezembro de 2020 — poucos meses antes do Clubhouse atingir seu pico; você se lembra do Clubhouse? — e foi implementado amplamente em maio de 2021 (qualquer pessoa com mais de 600 seguidores pode ter um Space).

Eric Zuckerman, chefe de parcerias jornalísticas do Twitter nos Estados Unidos, diz que ele e sua equipe conversaram com as redações sobre o uso do Spaces ao longo do último ano. O argumento dele? O áudio social como o Twitter Spaces traz "a oportunidade para que redações e jornalistas tenham diálogos abertos e autênticos com sua audiência sobre o que está acontecendo no mundo e sobre as pautas que eles estão cobrindo", diz.

Há muito tempo o Twitter mantém o apelo para jornalistas que buscam se conectar com o público e fontes. Em sua melhor forma, a plataforma é um lugar onde repórteres podem ter ideias de pauta, responder perguntas e construir confiança ao mostrar mais de seu trabalho. Zuckerman diz que o Twitter Spaces é uma outra forma de os jornalistas continuarem o diálogo. Durante um Space, o anfitrião — que pode ser uma redação ou uma pessoa — convida seguidores para ouvir uma entrevista, discussão ou painel e até mesmo para passar a eles o microfone (virtual) para que façam parte da conversa.

Os mais recentes Spaces apresentados por redações incluem Steve Inskeep, da NPR, falando sobre sua curta entrevista com Trump, o Miami Herald mostrando os bastidores de sua investigação de meses sobre o colapso do condomínio Surfside e repórteres do The Washington Post reagindo à notícia de que a Microsoft tinha comprado a fabricante de jogos Activision.


As redações estão fazendo Spaces em torno de datas específicas também. Em 6 de janeiro, havia muitas opções para se escolher: o HuffPost, BuzzFeed News, USA Today, New York Times Opinion, The Daily Beast, Politico e a Associated Press realizaram Spaces sobre as consequências do ataque ao Capitólio.

Alguns dos melhores Spaces que eu ouvi foram aqueles em que os repórteres compartilharam o que eles sabem e o que eles ainda estão tentando descobrir. Quando saiu a notícia de que o Facebook planejava mudar de nome, os repórteres Kara Swisher e Casey Newton promoveram uma conversa animada com muitos perfis verificados especulando sobre qual seria o novo nome e por que o Facebook estaria interessado nessa mudança. A liberdade que os repórteres tinham de dar palpites bem fundamentados — o tipo de conjectura que pode acabar não sendo usado no jornalismo impresso — tornou tudo ainda mais divertido.

***Uma pausa para um alerta. Se você está navegando na aba de descobertas do Spaces, ele pode parecer ter só um assunto... e esse assunto é NFT. (Se você se interessa por NFTs, tudo bem! Você tem que fazer o que gosta!) Mas a moderação e a qualidade das descobertas ainda são problemas reais para o futuro. Mergulhe um pouco mais no Spaces e você pode se ver cercado de desinformação sobre COVID-19, racismo e propostas com cara de golpe.

Eu entrei em um Space em destaque outro dia que jorrava desinformação que seria sinalizada se fosse tuitada — pense só: "As vacinas mataram mais gente que a COVID-19?" — e assim por diante.

Isso não é tanto um problema para redações e jornalistas que apresentam um Space — o Twitter tem uma série de recursos internos para ajudar os apresentadores a moderarem a discussão, incluindo retirar o microfone de alguém que estiver sendo abusivo — mas eu perguntei Zuckerman sobre a incongruência entre o que eu estava ouvindo no Spaces e o resto das políticas do Twitter.

Spaces que aparentemente estejam violando as diretrizes do Twitter podem ser denunciados e sinalizados e Zuckerman diz que denúncias do Spaces têm prioridade na lista de análise e ficam sob responsabilidade de uma equipe específica.

"O que eu diria é que o Spaces foi criado para ser um lugar para conversas abertas, com nuances e autênticas, e assegurar a segurança das pessoas e encorajar conversas saudáveis têm sido as principais prioridades desde o começo do desenvolvimento do produto", acrescenta Zuckerman. "Estamos comprometidos para melhor servir nossos anfitriões e ouvintes do Spaces."***

uma cartilha bem completa sobre como usar o Twitter Spaces, mas Zuckerman diz que a primeira coisa que ele fala com as redações é para que escutem outros Spaces e testem os recursos por conta própria. Sarah Feldberg, editora de produtos emergentes e áudio no San Francisco Chronicle, reforça o conselho.

"Teste. Teste. Teste", diz Feldberg. "O recurso é bem fácil de usar, mas a funcionalidade parece ser atualizada regularmente, então é importante acompanhar como ele está funcionando e ter certeza que seus convidados sabem como entrar no Space e começar a falar."

O San Francisco Chronicle fez quatro Spaces até o momento: uma conversa sobre presentes de fim de ano, uma com os críticos de gastronomia Soleil Ho e Cesar Hernandez e duas em parceria com o podcast de notícias diárias que é seu carro-chefe, o Fifth & Mission

Os Spaces do Fifth & Mission tiveram a apresentadora do podcast Cecilia Lei e a repórter de saúde Erin Allday entrevistando especialistas em saúde pública sobre a COVID-19. 

"Eles têm sido um jeito de dar à nossa comunidade acesso ao vivo a especialistas locais e conversar sobre questões importantes relacionadas à pandemia, como conselhos para pais de crianças muito novas para serem vacinadas e preocupações com a Covid longa em infecções de pessoas vacinadas", diz Feldberg. "Gravamos o áudio dessas conversas e editamos os destaques para episódios seguintes do podcast."

A NPR — que já realizou mais de 60 Spaces até o momento — também utilizou e reutilizou conversas que aconteceram no Twitter Spaces. Matt Adams, editor de engajamento da NPR, destaca uma conversa abrangente entre o crítico de cultura pop da NPR Eric Deggans, o especialista em dependência química da NPR Brian Mann, a autora da série Dopesick Beth Macy e o criador e produtor geral da série Danny Strong que foi gravada para os ouvintes que perderam o Space e que gerou três matérias no site.

Uma entrevista com o porta-voz de saúde pública do governo dos Estados Unidos — e as perguntas enviadas ao vivo pela audiência — foram transmitidas mais amplamente também.

"Os repórteres começam a conversa, falam sobre matérias recentes e atualizam nossa audiência sobre o que ela deveria saber. Mas eu acho que o recurso de fato especial do áudio social é a parte coletiva, abrir o microfone para a audiência fazer perguntas que podem nos ajudar a descobrir assuntos que ainda não cobrimos ou ver a reação das pessoas sobre a cobertura da NPR", diz Adams. "Eu trabalho com comunidades online por muito tempo e antes você costumava mandar uma pesquisa para ter um feedback ou perguntava às pessoas como você poderia melhorar um serviço... Para mim, o áudio social é uma pesquisa em tempo real onde você pode obter feedback e, com sorte, alcançar um novo público." 

Spaces com celebridades e repórteres que cobrem a Casa Branca e o Congresso deram especialmente certo para a NPR (o ator Matthew McConaughey era ouvido por 4.000 pessoas quando ele disse, sobre concorrer a um cargo político, "Eu não vou me candidatar — até que eu me candidate", em um Space realizado pela NPR). Quando o Space começa, a redação pode melhorar a audiência tuitando falas de destaque ou informando os seguidores sobre como eles vão abrir o bate-papo para perguntas.

Em última análise, Adams diz que o Twitter Spaces é parte de uma estratégia maior da NPR de refletir sobre como uma emissora de rádio "pode alcançar para além das ondas sonoras e o site" e "ouvir uma gama ampla de convidados e fontes".

"Estamos começando a pensar, 'Ok, isso pode funcionar como uma conversa de áudio social? Como podemos ter mais vozes nisso, seja com gente da audiência ou com nossas fontes?", acrescenta. "Eu diria que está se tornando parte da nossa estratégia do mesmo jeito que produzimos material para ir ao ar."


Este artigo foi originalmente publicado pelo Nieman Lab e reproduzido aqui com permissão.

Foto por Sara Kurfeß no Unsplash.