Como evitar erros comuns de visualização de dados

Feb 12, 2021 em Jornalismo de dados
Computadores

Visualizar dados não é mais uma tarefa restrita somente aos jornalistas de dados: tornou-se uma habilidade indispensável para todos os repórteres.

Gráficos e tabelas foram especialmente críticos na cobertura da pandemia de COVID-19. Têm aparecido com destaque nas notícias à medida que pessoas ao redor do mundo buscam informações sobre o vírus e suas consequências devastadoras.

Dada a sua importância na transmissão de informações que podem salvar vidas durante tempos difíceis, ignorar um elemento em sua visualização pode enganar ou criar pânico entre seus leitores.

A BBC cometeu um erro como esse em março passado, quando o veículo publicou um gráfico para ilustrar a variação nas taxas de mortalidade da COVID-19, discriminadas por idade, estado de saúde e sexo das vítimas. Os repórteres usaram um gráfico de barras que, ao terminar o eixo x em um valor de 15%, deu aos leitores a impressão à primeira vista de que todos os pacientes com mais de 80 anos morrem do vírus.

A intenção, no entanto, era transmitir que 15% das pessoas com 80 anos ou mais morreram de COVID-19. Um usuário do Twitter sinalizou isso e pediu à BBC que alterasse o gráfico para evitar um pânico indevido. O técnico do Tableau Andy Cotgreave alterou a visualização para representar melhor os dados.

 

Screenshot of misleading graph next to accurate graph
Print do gráfico da BBC enganoso ao lado do gráfico alterado por Andy Cotgreave, do Tableau.

 

Quando feita de maneira adequada, a visualização de dados pode comunicar dados complexos de maneira clara e eficaz aos leitores. Antes de publicar, os repórteres também podem visualizar os números para ajudar a identificar padrões e lides em potencial para suas matérias, levando a análises mais avançadas.

Jornalistas podem visualizar dados para cumprir os seguintes objetivos:

  1. Encontrar fatos e tendências em conjuntos de dados.
  2. Comunicar claramente dados complexos aos leitores.
  3. Produzir histórias baseadas em dados, complementando elementos de reportagem escrita ou multimídia.
  4. Retransmitir dados em tempo real à medida que os eventos ocorrem. Os jornalistas fizeram isso durante a reportagem sobre a pandemia de COVID-19 e as eleições nos EUA, por exemplo.
  5. Fornecer previsões baseadas em dados.

É importante ressaltar que os repórteres não devem se fixar na estética do design em detrimento de apresentar uma representação precisa dos números em mãos. Os jornalistas podem usar diferentes tipos de visualização, como mapas, histogramas e gráficos, para complementar um ao outro fornecendo uma narrativa mais abrangente e mais histórias baseadas em dados em geral. Especialmente em tempos de incerteza, como com a COVID-19, fatos e informações confiáveis são fundamentais.

Ainda assim, existem alguns erros comuns que os visualizadores de dados podem cometer, intencionalmente ou não. Podem funcionar para servir a uma agenda política ou manipular uma determinada narrativa, por exemplo, e desinformar completamente os leitores.

Veja como você pode evitá-los.

Não ignore os eixos do gráfico

Desconsiderar a linha de base de um gráfico é um erro comum. Os eixos do gráfico de linha e barra devem começar do zero; caso contrário, o gráfico pode causar confusão.

O gráfico abaixo da Fox News mostrando infecções por COVID-19 tem muitos aspectos enganosos. O eixo y não começa do zero e os valores ao longo desse eixo também não progridem de forma consistente.

Embora os dados possam ser estatisticamente precisos, a maneira como são retratados transmite uma compreensão imprecisa dos números. O gráfico também foi publicado sem referência à fonte dos dados.

Screenshot of misleading Fox News graph.
Print do gráfico enganoso da Fox News.

Evite preconceitos

Os jornalistas não devem escolher dados para contar as histórias que gostariam de contar. Em vez disso, os dados devem orientar as reportagens. Permitir que seu preconceito influencie uma visualização de dados é um erro perigoso que pode afetar as informações que estão sendo comunicadas. Por exemplo, se os números com os quais você está trabalhando mostram uma curva crescente em seu gráfico, essa é a história que deve ser contada.

Use visualizações apropriadas

É importante utilizar um gráfico apropriado para os dados que você está relatando. Um gráfico de pizza, por exemplo, pode mostrar dados como porcentagens de um número total. Os mapas, compreensivelmente, podem ilustrar melhor a geografia.

No gráfico abaixo, jornalistas tentaram demonstrar uma discrepância entre dois indicadores ao longo do tempo: novos casos de COVID-19 e pacientes que receberam alta. Infelizmente, os gráficos de barras não são adequados para esse tipo de comparação e, como resultado, a visualização falha em comunicar as informações de maneira eficaz. Um gráfico de linha teria sido uma escolha mais apropriada.

Screenshot of inefficient bar chart design.  ​
Print de gráfico de barra ineficiente.   ​

Não quebre as normas

Os repórteres não devem quebrar as normas aceitas ao visualizar dados. Por exemplo, os leitores geralmente esperam que uma cor escura reflita a densidade ou valor mais alto no gráfico, em contraste com a cor mais clara. Desviar de normas como essa pode enganar os leitores.

Algumas cores têm uma conexão mental direta com o público. O vermelho, por exemplo, pode denotar perigo, enquanto o verde pode transmitir informações mais positivas.

Seja intencional também com os símbolos, pois cada um deles tem seu significado respectivo. Não use um emoji de cara triste em relação a notícias positivas, por exemplo.

Inclua apenas os elementos visuais necessários

Jornalistas devem evitar complementos desnecessários em suas visualizações. Se um elemento do seu gráfico não ajudar a comunicar as informações, só servirá para confundir ou até mesmo enganar.

Quando bem feitas, as visualizações comunicam de forma precisa e eficaz a história baseada em dados que você está contando. É imperativo gastar o tempo necessário para coletar os dados, analisá-los e identificar histórias neles. Visualizar os números pode reforçar suas reportagens e informar seus leitores de forma mais abrangente.


Amr Eleraqi, bolsista Knight do ICFJ, lidera um programa de treinamento e orientação que está expandindo a narrativa gerada por dados no Oriente Médio e no Norte da África.

Imagem sob licença Unsplash via Scott Graham