Como ampliar a representatividade de mulheres especialistas na mídia

Jun 16, 2021 em Diversidade e Inclusão
microfone em um fundo desfocado

A rede norte-americana ABC anunciou ter atingido uma marca que vinha perseguindo há mais de dois anos. Pela primeira vez, no último mês de março, sua cobertura jornalística apresentou a mesma quantidade de mulheres e homens.

Isso pode parecer surpreendente. É de se esperar que a proporção do gênero das pessoas citadas nas notícias reflita a divisão de gênero na nossa sociedade.

Mas esse não é o caso. Estudos sobre a cobertura noticiosa em todo o mundo têm identificado com frequência que mais de 70% das pessoas vistas, citadas e ouvidas nas notícias são homens, enquanto mulheres representam menos de 30%.

Quando o assunto são as fontes especialistas, cerca de 80% são homens.

Em reação a este desequilíbrio, a BBC começou em 2015 o projeto 50:50. A ABC seguiu o exemplo em dezembro de 2018. Outros veículos, como a Bloomberg, adotaram iniciativas semelhantes.  

Apesar desses projetos encorajadores, o Global Media Monitoring Project, que analisa fontes em conteúdo jornalístico de todo mundo em um dia determinado a cada cinco anos, relata que o progresso geral na tentativa de trazer mais vozes femininas para as notícias é "extremamente lento."  

Isso significa que as notícias tendem a ser centradas nos homens, e às mulheres são negadas a legitimidade, a autoridade e o status que normalmente acompanham a inclusão no noticiário. Como uma jornalista e pesquisadora da área, eu quis saber por que mulheres são tão sub-representadas.

É por que, como alguns jornalistas vão argumentar, mulheres relutam em serem entrevistadas? Ou por que jornalistas tendem a recorrer às mesmas fontes repetidamente, e a maioria dessas fontes experientes são homens?

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Minha pesquisa, que incluiu entrevistas com 30 especialistas acadêmicas sobre suas formas de interação com o jornalismo, sugere que a última opção é a mais provável.

Todas exceto uma das especialistas com quem conversei disseram que estariam dispostas a serem entrevistadas para uma reportagem. A maioria entende e aprecia o valor de ter seu trabalho divulgado através do jornalismo.

No entanto, elas não se sentem totalmente confortáveis de estarem no noticiário. A maioria delas se sente pouco confiante em relação ao processo. Isso se deve em parte a receios em relação ao seu desempenho, mas também a uma falta de conhecimento sobre como o jornalismo funciona e o que jornalistas querem delas.

Como jornalistas podem abordar essas preocupações e aumentar as chances de assegurar um "sim" quando contatarem uma fonte para uma entrevista? E como as fontes podem melhorar suas interações com jornalistas e extrair o melhor de suas experiências com a mídia?  

Dicas para jornalistas

Seja bem claro. Especialistas normalmente sabem muito pouco sobre como a mídia funciona. Você tem muito mais chances de conseguir uma entrevista se explicar exatamente o que precisa no que diz respeito à natureza da entrevista e o tempo necessário para fazê-la.

Seja convincente. Especialistas precisam mostrar que sua pesquisa está sendo vista e gerando impacto. Lembre as potenciais fontes sobre os benefícios de promover o trabalho e a pesquisa delas no noticiário.

Tenha disposição para negociar. Quando houver flexibilidade no horário e local da entrevista, converse sobre isso com a fonte. Tente chegar a um arranjo que funcione para ambas as partes. Às vezes, uma fonte pode querer apenas 10 minutos para se preparar para uma entrevista.

Respeite a fonte e o tempo dela. Fontes são mais propensas a aceitarem uma entrevista se o jornalista demonstra ter conhecimento sobre sua pesquisa e área de expertise. É importante também que jornalistas tenham em mente que especialistas normalmente têm pouco tempo livre (exatamente como jornalistas).

Dê feedback. Faça isso durante e depois da entrevista, se possível. Todas as fontes com quem falei queriam saber como foi seu desempenho na entrevista e como poderiam melhorar.

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Dicas para fontes

Diga sim, mas... Não precisa ser um sim incondicional. Tudo bem dizer: "Sim, posso dar a entrevista, mas eu preciso de 30 minutos para me preparar." Ou "sim, mas não estou disposta a falar sobre essa ou aquela questão".

Faça perguntas. Você não precisa deixar o jornalista fazer todas as perguntas. Se você não sabe o que o jornalista quer de você, pergunte.

Não se prepare demais. A maioria das entrevistas são rápidas e provavelmente vão levar apenas uns 10 minutos. Não perca tempo se preparando demais ou pensando demais. Confie na sua expertise e no seu conhecimento.

Pegue leve com você, mas também aprenda com seus erros. Ouça ou assista novamente sua entrevista para ver como você pode melhorar. Mas reconheça que leva tempo e prática para se tornar uma comentarista impecável.

Seja autêntica. Especialmente para entrevistas no rádio e na televisão, tente relaxar e deixe sua personalidade e a paixão pelo seu trabalho transparecerem.


Kathryn Shine é professora de Jornalismo na Curtin University. Este artigo foi republicado do The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o texto original.

Foto por Gezer Amorim no Pexels.