Com que urgência jornalistas deveriam ser vacinados?

Mar 17, 2021 em Reportagem sobre COVID-19
Seringa de vacina

A pandemia de COVID-19 matou até o momento mais de 2,6 milhões de pessoas em todo o mundo: aproximadamente a população da Lituânia. A crise da saúde é indiscutivelmente a maior história do século passado, e os jornalistas são uma parte importante dela.

Felizmente, cientistas em todo o mundo desenvolveram várias vacinas altamente eficazes em tempo recorde, para fornecer proteção contra o vírus.

Agora que o lançamento da vacina está em curso globalmente, jornalistas estão deliberando com que urgência devem pressionar para obter as vacinas, dados os riscos associados a muitos tipos de reportagem. Ao fazer isso, eles estão avaliando percepções, ética e como isso afeta a cobertura.

Aqui está o que os repórteres de todo o mundo consideraram:

Quais são as diretrizes de onde você está?

As leis diferem muito em todo o mundo. Nos Estados Unidos, apenas alguns estados, incluindo Colorado e Virginia, classificam jornalistas como trabalhadore essenciais. Países como o Zimbábue também classificaram os jornalistas como essenciais, e até mesmo a Rússia vacinou jornalistas de veículos estatais e de fontes independentes.

Muitos países estão com dificuldades para lançar suas vacinações. O Canadá, por exemplo, ficou para trás, assim como grande parte da Europa. Esses países não priorizaram jornalistas.

A realidade é que as decisões e a capacidade da maioria das pessoas de serem vacinadas têm pouco a ver com sua profissão e tudo a ver com suas vidas pessoais e saúde. “Boa parte do tipo de reportagem que faço pode ser feito por telefone”, disse Shivani Persad, repórter freelance que mora na área de Toronto. “Preocupo-me mais com os meus pais, que têm 70 anos, e com a minha tia, com quem também moro, que tem 70 anos.” 

[Leia mais: Dicas para jornalistas que cobrem as vacinas da COVID-19]

Qual é a sua editoria?

O jornalismo é um trabalho realizado na linha de frente: isso ficou claro no ano passado. Jornalistas estiveram nas ruas cobrindo protestos, como aqueles contra a fraude eleitoral na Belarus, e após a morte de George Floyd pela polícia nos Estados Unidos. Jornalistas cercaram líderes mundiais que semearam divisão e confusão em torno da ciência por trás da COVID-19, como o Presidente Jair Bolsonaro e ex-presidente dos EUA, Donald Trump.

No entanto, nem todos os jornalistas cobrem essas histórias da linha de frente. Por exemplo, a jornalista de alimentos Leah Koenig e Seth Rudetsky, um apresentador do ON BROADWAY da SiriusXM, puderam recorrer mais facilmente a reportagens remotas.

A urgência em receber uma vacina pode depender de se você pode fazer seu trabalho e cobrir suas matérias sem se colocar em risco. Este é um fator para Thor Benson, um jornalista freelance baseado em Nova Orleans, Louisiana. “Eu me concentrei intencionalmente em histórias que posso fazer de casa”, disse Benson à IJNet. “Não estou vacinado, então prefiro não me expor desse jeito”. Benson anunciou recentemente que em breve receberá a vacina, o que espera ampliar suas oportunidades de contar histórias.

Outros jornalistas não têm tanto controle sobre as histórias que cobrem e não podem necessariamente optar por não cobrir notícias que os colocam em perigo. Luna Swafan, uma jornalista independente no Líbano tuitou em janeiro: “Então, se eu for cobrir nove histórias em hospitais agora, ou for designada para fazer essas histórias... Ainda não seria uma prioridade? Porque jornalistas só são apreciados e queridos quando é conveniente? ”

Muitos jornalistas são capazes de produzir o mesmo calibre de reportagem pelo telefone ou por chamada de Zoom, como fariam em uma conferência de imprensa ou na redação. Esse não é o caso, no entanto, de Brittany Kriegstein, repórter do New York Daily News. “Trabalhar em casa nunca foi uma opção para mim”, disse Kriegstein à IJNet. “Todos os dias, estou dentro das casas de várias pessoas entrevistando-as. Muitas vezes elas não usam máscaras.”

[Leia mais: Chaves para abordar a desigualdade no acesso e distribuição de vacinas]

 

Ela acrescentou: “Quando você está entrevistando alguém sobre seu marido, que acabou de ser morto a tiros na esquina, ou seu filho acabou de ser esfaqueado em uma briga de rua, é difícil. Quando você está tentando obter acesso à família e deixá-los confortáveis e estão chorando, é difícil pedir que coloquem uma máscara.”

Kriegstein também passou o último ano em conferências de imprensa cobrindo os acontecimentos na cidade de Nova York. “Basicamente, é o que você faria se quisesse pegar COVID”, disse ela, observando que foi a única repórter de rua de sua equipe que não contraiu o vírus.

Kriegstein recentemente tomou a vacina. Ela viajou para Long Island, onde seus pais moram, com uma carta de seu editor-chefe dizendo que ela era uma trabalhadora essencial para o público. Ela agora está defendendo que seus colegas também tomem as vacinas.

Tipo de emprego

A indústria de notícias tem adotado cada vez mais o modelo freelance. À medida que os empregos da redação se tornam cada vez mais escassos, os repórteres freelance costumam ser lançados na linha de frente da cobertura quando surge uma grande notícia. Infelizmente, esses contratantes independentes raramente se qualificam para o seguro de saúde por meio de seu empregador.

“Freelancers sempre têm a menor proteção e apoio institucional, e muitas vezes não têm tanta previsão de quais tarefas virão em seu caminho”, disse Carly Stern, uma repórter freelance baseada em San Francisco. “É importante considerar suas necessidades distintas, como eles acessam os recursos e suas vulnerabilidades específicas no trabalho.”


Andy Hirschfeld é um repórter que mora em Nova York e se concentra em questões de custo de vida. Ele escreve para publicações incluindo Al Jazeera English, Observer, OZY, Salon, CNBC e outros. Também é o âncora do programa de notícias de negócios transmitido nacionalmente, Business Brief.

Imagem sob licença CC no Unsplash via Ivan Diaz