Bola de cristal: previsões e tendências para o jornalismo em 2022

Feb 10, 2022 em Inovação da mídia
Person holding crystal ball to the sun.

As tendências do jornalismo são importantes para que publicações e jornalistas as analisem a fim de se preparar bem para um futuro que pode ser muito diferente do nosso presente.

Durante um webinar recente do Fórum Pamela Howard para Cobertura de Crises Globais do ICFJ, Sam Guzik, do Future Today Institute, e Nic Newman, do Reuters Institute for the Study of Journalism, compartilharam seus insights sobre o que está moldando o jornalismo hoje e como isso vai orientar o que está por vir para as redações e para o público.

"Nossas escolhas vão determinar se o futuro do jornalismo é esperançoso ou desolador", disse Guzik. "O futuro não é predestinado. Se pudermos identificar uma ameaça no futuro, também podemos transformá-la em uma oportunidade, mas isso só é verdade se nós nos planejarmos para isso hoje."

 

Tendências atuais

Newman produz uma pesquisa anual para o Reuters Institute na qual ele analisa a emergência de tendências que merecem atenção e apresenta previsões em mídia e tecnologia. Na edição mais recente, Newman discutiu a ascensão de podcasts e reportagem de áudio; receitas crescentes nas redações, principalmente por meio de assinaturas; aquisições e fusões de empresas; foco em audiências jovens por meio de conteúdo visual; redações híbridas; e a popularidade de publicações em formato de newsletter e startups. As publicações estão cada vez mais investindo nessas tendências, mesmo que tenha havido uma queda geral no número de leitores.

"Um pouco disso é cíclico após esse momento extraordinário para as notícias. Mas também representa um desafio fundamental para as publicações com a mudança do consumo para o online, como a perda de interesse por notícias e política em certos grupos", disse Newman.    

Os leitores e as publicações também estão cada vez mais preocupados com desigualdade de informação e com uma cobertura mais eficaz de questões importantes, como a mudança climática. Há uma necessidade crescente para que repórteres e redações desenvolvam habilidades para as demandas do jornalismo de hoje e do futuro — principalmente à medida em que empresas de mídia já estão incorporando de maneira crescente recursos como inteligência artificial, explicou.

"Ser essencial não garante o futuro [do jornalismo]. Nossa área é importante demais para presumir que vai ficar tudo bem", disse Guzik.

A maneira de reagir e usar informações sobre tendências é crucial para o setor, acrescentou Newman. "Precisamos pensar sobre retenção e sobre crescimento. A indústria está tentando focar em recursos que ela pode entregar hoje [e] dando atenção para problemas centrais."

Disrupções

A história do jornalismo está estruturada em disrupção. Esse desdobramento não é uma novidade, explicou Guzik, observando que ele remonta à invenção da prensa de tipos móveis, no século XV. No século passado, tanto o rádio quanto a televisão e a internet provocaram disrupções no mercado de mídia. É importante olhar dentro do setor, mas também para tendências fora dele para se preparar melhor para tempos de mudança.

Guzik e Newman destacaram várias novas tendências para ficar alerta, como o aumento de mídia sintética, como os deepfakes, algoritmos de inteligência artificial que conseguem traduzir, transcrever e fazer outras coisas, além do metaverso. Essas tendências vão impactar não só como as pessoas consomem notícias mas também como a informação é apurada e disseminada.

Newman prevê que a batalha principal vai ser entre plataformas e publicações. "O desafio é onde investir e como se destacar. É mais difícil criar valor e o modelo de negócio fica ainda mais difícil [de ser mantido]."

Planejando-se para o futuro

Análise da história, tendências atuais e pesquisa podem ajudar líderes de mídia a fazerem previsões para preparar melhor as redações para novos desdobramentos, disse Guzik.

Ele prevê que tendências emergentes, como busca por linguagem natural, diferentes tipos de inteligência artificial, dispositivos vestíveis e agregação, vão impactar não só as redações mas todas as partes da cadeia de valor, desde como as pessoas pesquisam informação até a publicidade. "Apenas observar o que está acontecendo não é o bastante. Eu acredito que é possível usar esse tipo de análise para tomar decisões melhores hoje, mas tudo começa com a visualização de tendências e tomada de ação", ele acrescentou.

Newman observou que responder à mudança requer o uso de ferramentas à disposição e o desenvolvimento de habilidade para o futuro para preparar melhor os modelos de negócios e produtos tanto para a audiência quanto para as publicações. Chegar à audiência de formas novas e mais personalizadas, desenvolvimentos na criação e consumo de conteúdo e novos dispositivos e plataformas vão mudar o nosso mundo. Eles vão diminuir as barreiras, mas também vão ser um território desconhecido, observou Guzik.

"Outros setores estão definindo quais expectativas os consumidores vão ter e há um risco real", disse Guzik. "Nós somos não só responsáveis por usar essas tecnologias para propagar nosso negócio como também é fundamental que utilizemos nosso conhecimento como jornalistas para desafiar essas tecnologias e pensar nas implicações que elas têm para a sociedade."


Foto por Arthur Ogleznev no Unsplash