O massacre dos jornalistas da revista satírica francesa Charlie Hebdo chocou o mundo pela sua brutalidade e reacendeu o debate sobre a liberdade de expressão.
Um total de 12 pessoas foram mortas quando homens armados invadiram o escritório da revista e teriam chamado seus alvos pelo nome. Entre os mortos estão os cartunistas líderes, incluindo Stéphane Charbonnier, Jean Cabut e Bernard Verlhac. Cartunistas do mundo se comoveram pelas vítimas, usando a hashtag #jesuischarlie (eu sou Charlie) e desenhando suas próprias charges em luto pela morte de seus colegas.
O ataque fatal também levantou o debate sobre a segurança dos cartunistas e chargistas e como lidar com ameaças. A IJNet falou com um número de cartunistas e perguntou o que pensam sobre sua segurança. Entre os entrevistados pela IJNet estão Rob Rogers, chargista do Pittsburgh Post-Gazette; Carlos Latuff, chargista freelance árabe-brasileiro; e Nate Beeler, chargista editorial do Columbus Dispatch.
IJNet: Acha que humoristas e cartunistas recebem a mesma proteção que outros jornalistas? A sua proteção é levada a sério por suas organizações de mídia?
Carlos Latuff: Não, porque os jornalistas costumam levar seu trabalho mais a sério quando lidam com essas ameaças. Cartunistas lidam com as críticas de uma forma cômica, e talvez por causa disso eles minimizam a gravidade do problema. Mas depois desta tragédia, alguns cartunistas vão precisar de coletes à prova de balas e até mesmo guarda-costas!
Nate Beeler: Tem acontecido uma tendência preocupante na última década de jornais demitirem seus cartunistas e depois contratá-los de novo como freelancers. Não só isso resulta em uma perda de benefícios e redução incapacitante na remuneração, mas também priva o cartunista de medidas de segurança, uma vez que ele ou ela, então, trabalharia de casa. As charges de freelances ainda levam sua assinatura e geram as mesmas respostas de quando são pagos como funcionários. Para loucos que querem ser assassinos, a única diferença substancial é que o cartunista não é mais protegido pelo jornal.
IJNet: Você já foi ameaçado como resultado do seu trabalho? Se sim, como lidou com isso?
Rob Rogers: Sim, fui ameaçado. Acho que qualquer cartunista editorial de peso já irritou alguém o suficiente em algum momento para justificar uma resposta negativa. Ameaças destinadas a mim vieram na forma de e-mails, cartas e telefonemas. Eu nunca tive medo de me materem.
Carlos Latuff: Sim, por lidar com a Palestina e a brutalidade policial no Brasil, eu recebo algumas ameaças. Eu deixo para lá. Não há nada [muito] que eu possa fazer. Eu poderia parar de fazer desenhos e desaparecer, mas daí o cartunista desapareceria comigo. Se você está lidando com questões delicados, está assumindo os riscos.
IJNet: Como podemos evitar outra tragédia como a do Charlie Hebdo? Que lições aprendemos com essa tragédia?
Rob Rogers: Eu acho que a melhor maneira de evitar outra tragédia como esta é continuar a defender a liberdade de expressão e sátira. Em outras palavras, precisamos fazer mais desenhos. É importante mostrar a esses terroristas brutais que eles não vão impedir que a comunidade de chargistas compartilhem sua arte. Alguns sugeriram que os cartunistas Charlie Hebdo convidaram os ataques por causa de seus desenhos ofensivos. Isso é errado. É o mesmo que culpar a vítima de estupro, dizendo que ela convidou o assalto por causa da forma como estava vestida.
Imagem principal sob licença CC via Keno Photography - imagem secundária ©2015 Rob Rogers/Pittsburgh Post-Gazette reproduzida com autorização